Depois de meses de debates, países-membros aprovam renovação da licença de uso do herbicida suspeito de causar câncer. Dezoito votam a favor, nove são contra, Portugal se abstém.
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Os países-membros da União Europeia concordaram nesta segunda-feira (27/11) em renovar por mais cinco anos a licença de uso do polêmico herbicida glifosato, afirmou a Comissão Europeia em Bruxelas. A atual licença expira em 15 de dezembro.
Dos 28 países-membros, 18 aprovaram a renovação, sugerida pela Comissão. Outros nove foram contra, e um se absteve. A Alemanha, que em votações anteriores se abstivera, mudou seu voto nesta segunda-feira, aprovando o uso do herbicida. O Ministério alemão do Meio Ambiente declarou que a decisão não foi combinada com o Ministério da Agricultura.
O resultado saiu depois de meses de debates sobre o uso do herbicida, que está sob suspeita de ser cancerígeno. Associações de agricultores argumentam que, se o glifosato for proibido, eles serão obrigados a recorrer a herbicidas de maiores riscos para a saúde e de menor eficácia.
A decisão foi tomada pelo Comitê de Apelação da UE devido à falta de acordo entre os países, em 9 de novembro. O comitê representa uma escala superior no procedimento de tomada de decisão dentro do bloco, ao qual se recorre na falta de um acordo no órgão ordinário.
Espanha, Dinamarca, República Tcheca, Estônia, Irlanda, Letônia, Lituânia, Hungria, Holanda, Eslováquia, Eslovênia, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Bulgária, Alemanha, Romênia e Polônia votaram a favor. Contra a renovação se pronunciaram Bélgica, Grécia, França, Croácia, Itália, Chipre, Luxemburgo, Malta e Áustria. A única abstenção foi de Portugal.
Em sua primeira proposta, a Comissão Europeia pedira uma ampliação de dez anos da licença de uso. Depois reduziu o período para sete anos, mais tarde para cinco. Em outubro, o Parlamento Europeu se havia mostrado a favor de restringir de imediato o uso do glifosato e a proibi-lo gradualmente a partir de 2022.
O glifosato é o herbicida mais utilizado em todo o mundo e um componente fundamental da agricultura de larga escala. Ele é muito utilizado também no Brasil, em lavouras de soja. Alguns estudos ligaram seu uso a uma maior incidência de casos de câncer, enquanto outros negam uma correlação comprovada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o herbicida como "provavelmente cancerígeno", mas diversas autoridades europeias, como a EFSA (segurança alimentar) e a ECHA (produtos químicos), consideram não haver provas de que o glifosato provoque câncer.
AS/afp/dpa/lusa
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A origem de 10 alimentos que hoje são globalizados
A maioria do que se coloca no prato diariamente procede de lugares espalhados pelo mundo. Um novo estudo do Centro Internacional para a Agricultura Tropical (CIAT) identificou a origem de alimentos considerados globais.
Foto: picture-alliance/Ch. Mohr
Manga, verde, amarela ou rosa – e asiática
Ela é tropical e parece bem brasileira, mas originalmente surgiu no Sul da Ásia. A manga, assim como o coco, foi trazida para o Brasil com a colonização portuguesa e se adaptou bem ao clima. Ela faz parte da dieta de alimentos não nativos, que vem crescendo no mundo em consequência de preferências culturais, desenvolvimento econômico e urbanização, conforme comprovou o estudo do CIAT.
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Arroz para meio mundo
O arroz vem originalmente da China mas virou item básico da dieta de mais da metade da população mundial. A produção de cada quilo exige de 3 mil a 5 mil litros de água. Em alguns países produtores, a contaminação por arsênico dos lençóis freáticos é tão forte, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alertou para as consequências do consumo do cereal.
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Trigo nosso de cada dia
O trigo já era cultivado há mais de 7 mil anos na região do Mar Mediterrâneo. Na forma de pão ou de outras massas, como o macarrão, é um dos alimentos mais importantes do mundo. Cultivado em enormes campos de monocultura, o cereal é também usado para alimentar animais . Os campeões do cultivo são China, Índia, Estados Unidos, Rússia e França.
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Milho, dos astecas aos transgênicos
Originário do Centro do México, o milho hoje é plantado em todos os continentes. Apenas 15% da safra vai parar nos pratos, pois a maior parte serve como ração para animais. A indústria o aproveita, ainda, para fabricar xarope de glucose e produzir combustível. Nos Estados Unidos, cerca de 85% da produção é de milho transgênico, e outros países vão pelo mesmo caminho.
Foto: Reuters/T. Bravo
Batata, dos Andes para a Europa
As batatas consumidas hoje em dia são variações de espécies silvestres dos Andes, na América do Sul. Só há cerca de 300 anos o tubérculo passou a ser cultivado em grande escala na Europa, sendo fundamental na dieta de países como a Alemanha e Irlanda. Atualmente, porém, o cultivo da batata no continente está em declínio, enquanto cresce nos maiores centros de produção: China, Índia e Rússia.
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Açúcar, de cana ou beterraba
A cana-de-açúcar vem do Oeste da Ásia, embora não se saiba exatamente de onde. Já há mais de 2.500 anos era usada para adoçar. O Brasil é atualmente o principal produtor, com grande parte da safra destinada ao bioetanol, também para exportação. A colheita é um trabalho árduo e, em geral, mal pago. O açúcar de cana é mais barato no mercado mundial do que o de beterraba, originário da Europa.
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Cheia de vitaminas, a banana engorda menos do que reza sua fama. Fruta preferida em escala mundial, ela tem origem no Sudoeste Asiático. Hoje é cultivada principalmente na América Latina e Caribe, a custos tão baixos que saem mais baratas na Alemanha do que as maçãs cultivadas no próprio país. As condições para os trabalhadores rurais costumam ser ruins e há uso intensivo de pesticidas.
Foto: Transfair
Café, prazer com reflexos sociais
Procedente da Etiópia, o café é a segunda bebida mais consumida e principal fonte de renda de cerca de 25 milhões de produtores no mundo. Contando-se as famílias, são 110 milhões de pessoas dependentes das flutuações do mercado mundial. Contudo vem ganhando espaço a negociação por cooperativas e empresas de comércio justo. Mais de 800 mil pequenos agricultores já aderiram a esse sistema.
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Foto: DW/Prabhakar
Cacau, presente dos deuses
Os astecas, na atual América Central, usavam os grãos de cacau como moeda e oferenda. Também preparavam com eles uma bebida que diziam vir dos deuses. Não é difícil de acreditar: hoje o chocolate é amado no mundo inteiro. Produzido numa estreita faixa próxima ao Equador, o cacau sofre flutuações de preço no mercado mundial que afetam duramente os pequenos agricultores.