Bloco é pressionado a mediar crise, mas se esquiva. Caso o governo catalão proclame independência, parece improvável que qualquer Estado-membro a reconheça: isso seria um ataque direto à Espanha.
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Alguns políticos catalães – mas não o governo catalão –, assim como a bancada verde no Parlamento Europeu, pedem que a Comissão Europeia atue como mediadora na disputa entre Madri e Barcelona. A União Europeia, porém, não toma partido em relação ao problema. Porta-vozes do bloco lembraram repetidas vezes nas últimas semanas que o tema é assunto interno espanhol.
"Mas a violência nunca pode ser um meio de debate político", disse o porta-voz da Comissão Europeia Margaritis Schinas. "Ambos os lados devem agora ir do confronto ao diálogo”, acrescentou, observando também que a Comissão Europeia confia na capacidade do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, de gerir a situação e que considera ilegal o plebiscito de domingo.
A bancada verde no Parlamento Europeu teme uma ameaça ao Estado de Direito na Espanha e exorta o comissário responsável da UE, Frans Timmermans, a mediar entre o governo espanhol e o movimento de independência da Catalunha.
No entanto, a UE dificilmente poderá mediar contra a vontade da Espanha, cuja Suprema Corte declarou ilegal o referendo catalão. Diplomatas europeus em Bruxelas ressaltam que um mediador teria que ser convidado por ambos os lados. Do ponto de vista jurídico, cada Estado-membro é responsável por sua própria estrutura interna.
Na opinião da UE, o referendo na Escócia sobre uma possível autonomia ocorreu em circunstâncias completamente diferentes, já que o governo central em Londres concordou com a votação.
No caso da Catalunha, um adeus à Espanha significaria um adeus à UE. Antes do referendo na Catalunha, a Comissão Europeia deixou mais uma vez claro que um Estado catalão independente não faria parte da UE e teria que se candidatar à adesão ao bloco. O mesmo procedimento teria sido aplicado à Escócia, caso os escoceses tivessem escolhido a independência.
O eurodeputado social-democrata alemão Joe Leinen apelou para que Rajoy e o chefe de governo da Catalunha, Carles Puigdemont, "voltem rapidamente à mesa de negociações".
"Crises políticas em um Estado-membro da UE também sempre têm uma dimensão europeia e afetam a todos nós", sublinha. Ele defende que Comissão Europeia ofereça sua assistência e atue como mediador imparcial.
Os dois principais grupos do Parlamento Europeu, os conservadores e os socialistas, até agora se opuseram à ideia de levar a questão da Catalunha à discussão em plenário. Em ambas as bancadas, os deputados espanhóis rejeitaram um pedido para tal, feito pela bancada verde, de tamanho menor.
O líder da bancada liberal no Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt, não quer interferir em assuntos internos, mas condena o uso da violência dos dois lados como "absolutamente inaceitável".
"Só conseguiremos avançar através de uma solução política que respeite a Constituição e a ordem jurídica e envolva todas as partes, incluindo a oposição no Parlamento da Catalunha", afirmou.
Caso o governo catalão proclame a independência, parece muito improvável que qualquer Estado da UE a reconheça. Isso seria um ataque direto à Espanha, que é um Estado-membro da UE, o que, por sua vez, levaria a uma crise dentro do bloco. É por isso que muitos diplomatas em Bruxelas não conseguem sequer imaginar essa possibilidade.
Já em 2014, o governo catalão realizou uma consulta nacional sobre a independência. Naquela época, um pedido de apoio a outros Estados da UE permaneceu sem resposta. Também na ocasião, o governo espanhol argumentara que a unidade da Espanha é inalterável.
Referendo na Catalunha é marcado por violência
Polícia espanhola entrou em confronto com manifestantes na Catalunha no dia do referendo sobre a independência da região. Apesar dos esforços de Madri para impedir a votação, a maioria dos locais de votação ficou aberto.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Polícia se diz "forçada" a usar violência
As forças de segurança usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar a multidão, e muitos ficaram feridos. "Nós fomos obrigados a fazer o que não queríamos", disse o encarregado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo. "Carles Puigdemont [presidente do governo da Catalunha] e sua equipe são os únicos responsáveis" pela violência, acrescentou.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Rajoy foi comparado a Franco
Os defensores da independência da Catalunha acusaram o governo em Madri de impedir que o povo exerça seu direito. Nesta manifestação em Barcelona antes da votação de domingo, um dos manifestantes mostra uma foto do ditador espanhol Francisco Franco beijando o atual chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy.
Foto: Reuters/J. Medina
Face a face
As pessoas que são contra a independência da Catalunha também foram às ruas para manifestar seu apoio a uma Espanha unida. Nesta foto de sábado, um manifestante grita com um membro da força policial regional catalã, chamada de Mosso d'Esquadra.
Foto: Reuters/S. Vera
Garantindo a votação
Apesar de o governo espanhol ter proibido a realização do referendo, ativistas se mobilizaram e distribuíram material para votação e equipamentos para as seções eleitorais. As autoridades catalãs em Barcelona disseram que resultado do referendo seria considerado oficial.
Foto: Reuters/A. Gea
"Viva Espanha!"
O governo de Rajoy rejeitou o referendo, alegando que ele é inconstitucional e prometeu desmantelar a votação. Muitos opositores à independência da Catalunha se reuniram em Madri no domingo e entoaram "Viva Espanha" e "Catalunha é Espanha".
Foto: Getty Images/AFP/J. Soriano
À espera do amanhecer
Autoridades espanholas enviaram milhares de policiais extras para a Catalunha no domingo. Eles receberam ordens para impedir a votação e apreender as urnas. As forças de segurança patrulharam os locais de votação já nas primeiras horas da manhã de domingo.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/X. Bonilla
Tentativa de manter locais de votação abertos
Ativistas decidiram acampar nos locais de votação para impedir que a polícia fechasse as instalações e impedisse a realização do referendo.
Foto: Reuters/J. Nazca
Líder separatista consegue votar
As notícias sobre violência começaram a chegar já na manhã do domingo. Houve embates perto da cidade de Girona, onde o líder regional catalão, Carles Puigdemont, deveria votar. A polícia invadiu o local de votação, obrigando Puigdemont a depositar seu voto em outro local.
Foto: Reuters/Handout Catalan Government
Polícia confiscou cédulas e urnas eleitorais
Manifestantes pró-independência tentaram impedir que a polícia confiscasse cédulas e urnas eleitorais. Funcionários catalães afirmaram que, apesar dos esforços do governo em Madri, 73% dos cerca de 6 mil locais de votação ficaram abertos.
Foto: Getty Images/AFP/P. Barrena
Uso da resistência passiva
Os ativistas pró-independência foram instruídos a "praticar a resistência passiva" enquanto tentavam obstruir as forças de segurança no seu trabalho de impedir a votação. O movimento disponibilizou cravos vermelhos para os ativistas darem aos policiais. No entanto, as forças de segurança disseram também que foram recebidas com pedras.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
Luta para facilitar a votação
No domingo pela manhã, autoridades catalãs disseram que os eleitores também poderiam usar as cédulas eleitorais que imprimiram em casa e votar em qualquer posto de votação aberto, caso o local designado estivesse fechado.
Foto: Reuters/Y. Herman
"Você quer a Catalunha um Estado independente?"
Uma pesquisa de opinião realizada em junho indicou que a maioria dos catalães estaria a favor da permanência da região na Espanha, porém, mostrava ainda que os defensores da independência estavam muito mais propensos a participar do referendo. A repressão do governo em Madri deverá atiçar ainda mais as chamas do movimento de independência da Catalunha.