UE sela acordo com Turquia para conter fluxo migratório
18 de março de 2016
Reunião em Bruxelas garante cumprimento de controverso pacto para devolver a território turco refugiados chegados à Grécia. Em troca, Ancara receberá benefícios e apoio financeiro europeu.
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Após dois dias de intensas discussões, líderes da União Europeia e da Turquia selaram nesta sexta-feira (18/03) o controverso acordo para frear o fluxo migratório à Europa. Criticado por organizações de defesa dos direitos humanos, o pacto prevê que refugiados que chegarem à Grécia a partir deste domingo serão enviados de volta ao território turco. Em contrapartida, Ancara receberá compensações políticas e financeiras.
"O acordo com a Turquia foi aprovado. Todos os migrantes ilegais que chegarem à Grécia da Turquia, a partir de 20 de março, serão devolvidos", afirmou no Twitter o primeiro-ministro da República Tcheca, Bohuslav Sobotka, ainda durante a reunião.
Sob o acordo, Ancara se compromete a acolher de voltas os migrantes ilegais que atravessarem até a Grécia, enquanto a União Europeia (UE) deverá acolher milhares de refugiados sírios diretamente da Turquia. O país será recompensado com verbas adicionais, liberação dos vistos de viagem de seus cidadãos à Europa e avanços nas negociações sobre a adesão do país à UE.
Os refugiados que chegarem à Grécia a partir deste domingo poderão ser devolvidos após serem registrados e tiverem seus pedidos de asilo processados. Uma autoridade turca informou que as devoluções deverão ser iniciadas no dia 4 de abril, simultaneamente ao acolhimento de refugiados sírios por parte das nações europeias.
A vida no acampamento de refugiados de Idomeni
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A UE se comprometeu a acelerar o envio de 3 bilhões de euros à Ancara destinados à ajuda aos refugiados em solo turco, além de fornecer outros 3 bilhões até 2018 – desde que, porém, o país apresente uma relação de projetos que se qualifiquem para receber a assistência financeira da Europa.
"Dançando num campo minado"
O acordo prevê também o reforço da ajuda à Grécia, onde dezenas de milhares de refugiados vivem em condições precárias após ofechamento das fronteiras por parte dos países dos Bálcãs. No total, mais de 46 mil migrantes se encontram em território grego.
Enquanto as conversas progrediam em Bruxelas, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a Europa de agir com hipocrisia em relação aos migrantes, aos direitos humanos e na questão do terrorismo.
Apoiadores do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) ergueram tendas de protesto próximo ao local onde a reunião dos líderes era realizada. O PKK é banido na Turquia, considerado como uma organização terrorista.
Erdogan disse que a Europa está "dançando num campo minado" ao apoiar grupos terroristas, direta ou indiretamente.
As discussões em Bruxelas expuseram dúvidas por parte de alguns líderes e juristas europeus sobre a legalidade do acordo em relação às leis internacionais. Organizações de direitos humanos e a ONU temem que o pacto possa violar leis que proíbem a deportação e massa de refugiados.
Mais de 1,2 milhão de migrantes chegaram à Europa desde janeiro de 2015, na pior crise de refugiados no continente desde a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 4 mil pessoas morreram na tentativa de atravessar o Mar Egeu, entre a Grécia e a Turquia.
RC/rtr/afp
A vida de um refugiado após selfie com Merkel
Há quem seja viciado em tirar autorretratos no celular, só ou acompanhado. Outros ridicularizam a moda como coisa de adolescentes. Para o sírio Anas Modamani, de 19 anos, um selfie foi o momento que transformou sua vida.
Foto: Anas Modamani
Encontrando Angela Merkel
Quando estava alojado no acampamento de refugiados de Berlim-Spandau, Anas Modamani ficou sabendo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viria visitar e conversar com os migrantes. O sírio de 19 anos, um adepto das mídias sociais, resolveu tirar um selfie com a chefe de governo, na esperança de que a iniciativa iniciasse uma mudança real em sua vida.
Foto: Anas Modamani
Fuga para a Europa
Quando a casa dos Modamani em Damasco foi bombardeada, Anas, seus pais e irmãos se transferiram para Garia, uma cidade menor. Foi aí que o jovem resolveu escapar para a Europa, na esperança de que sua família se unisse a ele mais tarde, quando tivesse conseguido se estabelecer. Primeiro, viajou para o Líbano, seguindo então para a Turquia, e de lá para a Grécia.
Foto: Anas Modamani
Jornada perigosa
Por pouco, Anas não morreu no caminho. Para atravessar o Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia, ele teve que pegar um barco inflável, como a maioria dos refugiados. O sírio conta que a embarcação estava superlotada, acabando por virar, e ele quase se afogou.
Foto: Anas Modamani
Cinco semanas a pé
O trajeto entre a Grécia e a Macedônia ele teve que fazer a pé, ao longo de cinco semanas, seguindo então para a Hungria e a Áustria. Em setembro de 2015, alcançou sua destinação final: Munique. Uma vez na Alemanha, Anas decidiu que queria ir para Berlim, onde está vivendo desde então.
Foto: Anas Modamani
Espera por asilo
Na capital alemã, o jovem de Damasco passou dias inteiro diante da central para refugiados LaGeSo. Lá, ele conta, a situação era difícil, sobretudo com a chegada do inverno. Por fim, foi enviado para o acampamento de Berlim-Spandau. Ele queria chamar a atenção para sua situação como refugiado, e um selfie com Merkel lhe pareceu a oportunidade ideal.
Foto: Anas Modamani
Enfim uma família
Anas confirma que o retrato ao lado da chanceler federal foi um elemento de mudança chave em sua vida. Ele recebeu grande atenção midiática depois que o selfie foi postado online, e foi assim que sua família adotiva chegou até ele. Há dois meses o sírio de 19 vive em Berlim com os Meeuw, que o apoiam em todos os aspectos.
Foto: Anas Modamani
Saudades de casa
Anas diz nunca ter estado tão feliz como agora, ao lado de sua família alemã. Além de fazer curso de idioma alemão, tem numerosas atividades culturais e já fez muitos amigos. Com curso médio completo na Síria, ele pretende fazer o curso superior na Alemanha. Porém, sua prioridade no momento é obter oficialmente asilo e poder trazer seus pais e irmãos para a Alemanha.
Foto: Anas Modamani
Onda de rejeição aos refugiados
O sírio Anas Modamani espera ter uma vida longa e segura em sua terra de adoção. Contudo está preocupado com os atuais sentimentos negativos contra os refugiados na Alemanha. Ele teme que esse clima de rejeição possa escalar e influenciar as leis referentes aos migrantes. Se isso acontecer e ele não obtiver asilo, será o fim do sonho de ter a própria família junto de si.