Platini diz ter pedido ao presidente da Fifa que renuncie, mas ouviu "não" como resposta. Europeus descartam boicotar eleição e apelam a demais países para que votem no candidato opositor, Ali bin al-Hussein.
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O presidente da Uefa, Michel Platini, pediu nesta quinta-feira (28/05) a renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, a um dia da eleição que definirá quem comandará a entidade máxima do futebol mundial e na qual o suíço concorre como favorito a um quinto mandato.
O dirigente europeu declarou-se "farto, enojado e desiludido" com o escândalo de corrupção que envolve a Fifa e garantiu que a grande maioria do membros da Uefa votará no único adversário de Blatter, o príncipe Ali bin al-Hussein, da Jordânia.
Platini disse ainda que na reunião de emergência desta quinta-feira, que Blatter manteve com as seis confederações mundiais, pediu ao presidente da Fifa que renuncie. O francês, porém, disse ter recebido como resposta que "agora é tarde demais". Os demais presidentes de confederações não se uniram ao pedido europeu.
Diante disso, Platini fez um apelo público às federações associadas às outras confederações continentais para que votem em Ali bin al-Hussein nesta sexta-feira.
"Antes dos acontecimentos desta semana, talvez não, mas agora, com o que aconteceu, acho que Blatter pode ser derrotado", disse Platini, em Zurique.
É necessária uma maioria de dois terços para vencer no primeiro turno e uma maioria simples no segundo turno. Votam todos os 209 membros da Fifa. Platini calcula que 45 ou 46 das 53 federações da Uefa votarão em Ali e disse que continuará trabalhando para convencer as demais e também as dos outros continentes. A Uefa desistiu de boicotar a eleição, como chegou a ameaçar.
As declarações de Platini foram marcadas por um tom emotivo. "Tenho afeição pelo senhor Blatter, e ele sempre disse que era como um tio para mim. Mas agora chega. Se eu não posso falar para ele que é hora de parar, quem pode? Um amigo de verdade pode dizer a realidade para um amigo. Eu disse: 'Estou pedindo para você sair, a imagem da Fifa é terrível'. Ele disse que não pode sair assim de repente. Estou contando isso com tristeza e lágrimas nos olhos, mas já houve muitos escândalos, e a Fifa não merece ser tratada desta maneira."
O francês não descartou que os europeus abandonem todas as competições da Fifa se Blatter for reeleito. "Estamos abertos a todas as opções. Eu não desejo isso, mas vamos ver o que as federações nacionais têm a dizer", afirmou Platini, deixando a questão em aberto. Ele acrescentou que a Uefa fará um encontro extraordinário durante a final da Liga dos Campeões, na próxima semana, para avaliar todas as opções.
As federações da Uefa também se reuniram de forma extraordinária, depois de, na quarta-feira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter indiciado nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da Fifa, acusando-os de conspiração e corrupção nos últimos 24 anos, num caso envolvendo subornos no valor de mais de 150 milhões de dólares.
Entre os acusados estão dois vice-presidentes da Fifa, o uruguaio Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb, das Ilhas Caymann e que é também presidente da Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe), assim como o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação da América do Sul (Conmebol) e o brasileiro José María Marin, ex-presidente da CBF.
AS/lusa/afp/rtr/efe/dpa
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.