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Ultradireita alemã tem 1ª vitória desde a Segunda Guerra

Publicado 1 de setembro de 2024Última atualização 2 de setembro de 2024

Resultados preliminares apontam liderança na Turíngia da AfD, que por pouco também não vence na Saxônia. Coalizão de Scholz vai mal. Pleito é visto como termômetro para eleição ao governo federal em 2025.

O líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, cercado por bandeiras da Alemanha
O líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, já foi condenado por uso de slogans nazistas. O diretório estadual do partido dele é considerado uma potencial ameaça à ordem democrática alemãFoto: Jens Meyer/AP Photo/picture alliance

Encerrada a votação neste domingo (01/09) para os parlamentos estaduais nos estados alemães da Saxônia e da Turíngia, resultados preliminares apontam para um triunfo histórico da ultradireita no leste da Alemanha, algo que não se via desde a Segunda Guerra Mundial.

Com 32,8% dos votos na Turíngia, a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) lidera a disputa no estado, seguida pela conservadora União Democrata Cristã (CDU), com 23,6%, e a sigla populista de esquerda anti-imigração Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), com 15,8%. Já o partido A Esquerda, cuja dissidência deu origem à BSW, perde o controle do único governo estadual que tinha, indo de 31% dos votos em 2019 para 13,1%.

Na Saxônia, a AfD (30,6%) por pouco não supera a CDU (31,9%). A BSW surge em terceiro lugar com 11,8%.

Nos dois estados do leste alemão, os três partidos que integram a coalizão do governo federal – social-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP) – não somam juntos mais que 10,4% (Turíngia) e 12,4% (Saxônia).

Na Saxônia, liberais não devem conquistar uma cadeira sequer por não superarem a cláusula de barreira; A Esquerda parecia que teria o mesmo destino, mas a conquista de dois mandatos diretos deu uma bancada ao partido, ainda que pequena (seis parlamentares, levando em conta o percentual total de votos).

Na Turíngia, liberais e verdes ficaram de fora do parlamento estadual por não superarem a cláusula de barreira de 5% dos votos.

Os dados são das autoridades eleitorais dos dois estados e foram divulgados na madrugada desta segunda-feira.

Notório "fascista" quer governar a Turíngia

Na Turíngia, o candidato a governador pela AfD é Björn Höcke, cuja alcunha de "fascista" foi chancelada por um tribunal alemão e que já foi condenado por uso de slogans nazistas.

Radicais de direita marcaram presença em comício da AfD na Turíngia onde Höcke discursou um dia antes da eleiçãoFoto: Abbas Al-khashali/DW

É improvável, porém, que a AfD comande o estado.

Isso porque, na Alemanha, os governos estaduais também são parlamentaristas. Isso quer dizer que, para ter o posto de governador do estado, um partido precisa conquistar mais da metade dos assentos no parlamento estadual. Mas como dificilmente um único partido elege tantos deputados, muitas vezes é necessária a formação de coalizões. Mas a AfD, dado seu histórico e reputação, é um parceiro de coalizão até agora indesejado.

Ainda assim, o resultado da AfD na Turíngia não deixa de representar uma vitória para o partido de Höcke: além de ter ampliado seus votos em relação a 2019 (23,4%), a sigla ganhará poder de veto sobre diversas decisões, influenciando por exemplo a escolha de juízes.

À emissora alemã ARD, Höcke afirmou que vai buscar conversar com outros partidos sobre uma participação da sigla de ultradireita no governo da Turíngia. "Estamos prontos para assumir responsabilidades no governo", disse, criticando o que chamou de "conversa burra" sobre a insistência dos demais partidos em isolar a AfD até agora de cargos de governo.

Cordão sanitário contra a AfD

Para evitar uma aliança com a AfD, a CDU pode vir a formar uma insólita coalizão na Turíngia e na Saxônia com a BSW, partido liderado por uma ex-comunista da Alemanha Oriental que em dois pontos – políticas econômicas de esquerda e política externa pró-Rússia – não poderia estar mais distante dos conservadores da CDU.

Líder do recém-criado BSW, partido que leva seu nome, Sahra Wagenknecht fez da sigla a terceira maior força na Turíngia e na SaxôniaFoto: Christoph Soeder/dpa/picture alliance

Atual governador da Turíngia, o esquerdista Bodo Ramelow defendeu em entrevista à ARD que o novo governo seja formado sob a liderança da conservadora CDU, argumentando que essa tarefa cabe ao partido do campo democrático mais bem votado. "Não fiz campanha contra a CDU nem a BSW; luto contra a normalização do fascismo", afirmou, referindo-se à AfD.

Líder da BSW, a política Sahra Wagenknecht afirmou em entrevista à mesma emissora que descarta uma coalizão com a AfD, mas não cooperações pontuais em propostas que sejam "dignas de apoio". "A CDU já fez isso na Turíngia, eles já fizeram leis com a AfD."

De Höcke, porém Wagenknecht disse querer distância: "Höcke representa uma visão de mundo nacionalista. Isso está a quilômetros de distância de nós."

Tanto a BSW quanto a AfD conseguiram apelar a temas que preocupam muitos alemães na Saxônia e na Turíngia, como o medo de uma expansão da guerra na Ucrânia, segurança pública e imigração ilegal.

Um atentado recente a faca que matou seis pessoas, cujo suspeito é um refugiado sírio, desencadeou um debate nacional sobre controle de imigração e deportação de pessoas que tiveram seus pedidos de asilo rejeitados. Os dois partidos defendem igualmente uma política migratória mais restritiva.

Também a CDU tem endurecido seu discurso contra a imigração, defendendo inclusive a anulação da reforma recentemente aprovada pelo governo de Scholz que torna mais simples a aquisição da cidadania alemã e a manutenção da dupla cidadania.

O que torna a ultradireita bem-sucedida no leste alemão?

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Prévia das eleições gerais em 2025?

Embora a Saxônia e a Turíngia concentrem uma população combinada de 6,3 milhões de pessoas (menos de um décimo da população do país), as eleições locais estão sendo acompanhadas com muita atenção no restante da Alemanha.

As campanhas foram dominadas por temas nacionais como política de imigração, segurança e o apoio alemão à Ucrânia, que são vistos de forma mais crítica por parte da população do leste, onde há proporcionalmente menos estrangeiros e, segundo pesquisas, uma maior prevalência de opiniões favoráveis à Rússia.

O resultado deste domingo aumenta a pressão sobre a coalizão do governo federal, liderada por Olaf Scholz (SPD), que sofre com reprovação em todo o país apenas um ano antes da próxima eleição federal, marcada para o final de setembro de 2025.

Entre as legendas tradicionais, apenas a CDU, hoje na oposição, se saiu bem.

A votação também complica a formação de coalizões de governo estaduais e arrisca levar especialmente a Turíngia a um cenário de paralisia política, diante da fragmentação do eleitorado e da ascensão da AfD, com quem nenhum outro partido admitiu até agora formar coalizão.

Há ainda o impacto na política nacional, já que parte dos membros do governo estadual, especialmente o governador, passam a integrar o Bundesrat, a câmara legislativa onde estão representados os estados alemães, composta por representantes políticos dos 16 estados federados.

Segundo a Constituição alemã, é por esse colegiado que os estados "participam na criação de leis e administração da União e em assuntos da União Europeia". O Bundesrat não propõe leis, mas vota todos os projetos de lei que dizem respeito aos estados. Quando os deputados federais do Bundestag (Parlamento) aprovam uma nova lei, o órgão pode aprovar, vetar ou alterar os textos.

Em 22 de outubro, o estado de Brandemburgo também terá eleições regionais. Lá, a AfD também lidera as pesquisas.

ra/as (ots, DW)

O partido que faz alemães temerem a volta do nazismo

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