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PolíticaIsrael

Ultradireita pode ser decisiva em eleições em Israel

Tania Krämer
31 de outubro de 2022

Pleito legislativo pode derrubar premiê interino centrista Yair Lapid e proporcionar o retorno de Benjamin Netanyahu ao governo israelense – apesar de processos por corrupção e com ajuda da extrema direita.

Benjamin Netanyahu assina seu livro "Bibi: My story" em livraria
Preparando o "comeback": Benjamin Netanyahu assina seu "Bibi: My story"Foto: Tania Kraemer/DW

O ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu faz sua campanha eleitoral no assim chamado "Bibi-Bus", um caminhão dotado de para-brisas blindados, a partir do qual ele pode falar em segurança às multidões. "Bibi" é seu apelido para os adeptos.

Na manhã desta segunda-feira, numa livraria de um centro comercial na cidade litorânea de Netanya, ele assinava seu recém-lançado Bibi: My story. O político de 73 anos, possivelmente o mais polêmico de Israel, concorre a mais um mandato como chefe de governo no pleito legislativo desta terça-feira (01/11).

Netanyahu atualmente responde a três processos por corrupção. Assim como em ocasiões anteriores, a eleição é uma espécie de referendo sobre se o premiê israelense de mais longa data e líder do partido conservador Likud é capaz de retornar ao poder. Seu adversário é o atual chefe de governo interino, Yair Lapid, fundador da sigla centrista Yesh Atid.

"Esta eleição gira em torno da instabilidade política de Israel. É o mesmo problema que vimos tendo há alguns anos", observa Tal Schneider, correspondente político do jornal Times of Israel.

Entre o liberalismo de Lapid e o nacionalismo de Netanyahu

Pesquisas de intenção de voto têm também indicado a ascensão da extrema direita, com a qual Netanyahu poderá ter que contar para formar um governo. "Estas eleições são do liberalismo contra o nacionalismo. As grandes ideias são personificadas por duas figuras: liberalismo com Lapid e sua ala, nacionalismo com Netanyahu", comenta Maoz Rosenthal, professor da Escola Lauder de Governo, Diplomacia e Estratégia do Centro Interdisciplinar (IDC).

Este pleito, o quinto em menos de quatro anos, foi convocado em junho depois que o governo desmoronou, tendo perdido sua maioria apertadíssima após o primeiro ano no poder. Tratava-se de uma coalizão composta por oito legendas ideologicamente diversas, de direita, centro e esquerda, além de um partido árabe. Reunidas acima de tudo pelo desejo de derrubar Netanyahu, elas pouco tinham em comum do ponto de vista político.

Premiê interino israelense Yair Lapid fala na Assembleia Geral da ONU em setembroFoto: Julia Nikhinson/AP/picture alliance

Lapid foi um dos principais arquitetos da coalizão recém-dissolvida. Seus adeptos torcem para que ele se eleja como novo premiê. "Queremos paz, e esse partido [Yesh Atid], esse governo passado nos deu paz, tivemos calma", comentou Dalia Grau, de 78 anos, num evento de campanha em Kibbutz Afek, no norte do país.

Apesar das sondagens constantes, é extremamente difícil prever o resultado do pleito. Segundo as mais recentes, o bloco liderado por Netanyahu, de partidos extremistas de direita e ultraortodoxos, estaria prestes a conquistar 61 dos 120 assentos do Knesset. O Likud segue sendo a sigla mais forte, com 31 postos, mas perdeu votos para a aliança ultradireitista Sionismo Religioso.

O bloco de Lapid tem aparecido consistentemente um pouco atrás, apesar de o próprio Yesh Atid ter chances de obter 24 assentos. Algumas legendas estão perigosamente perto de não alcançar o mínimo de 3,25% dos votos.

Tem também atraído a atenção a questão do comparecimento às urnas, sobretudo dos árabes israelenses ou cidadãos palestinos de Israel, que compõem cerca de 20% da população. Uma participação mais alta desse grupo beneficiaria o bloco direita-centro-esquerda de Lapid, enquanto uma mais baixa seria vantajosa para o ex-premiê.

Ultradireita em ascensão

A ascensão da extrema direita pode ser decisiva nesse escrutínio, impelindo Netanyahu a se aliar com a aliança Sionismo Religioso. Itamar Ben-Gvir, líder do partido Otzma Yehudit, costumava contar como figura marginal da extrema direita, mas sua popularidade cresceu, e hoje o advogado de 46 anos é o garoto-propaganda de uma futura coalizão conservadora, ultranacionalista.

As sondagens atuais indicam que o Sionismo Religioso pode conquistar até 14 vagas no Knesset, tornando-se a terceira maior bancada. "Pela primeira vez, a ultradireita poderá estar em posições realmente influentes", analisa Rosenthal, do IDC, frisando que Israel vem escorregando continuamente para a direita nos últimos anos. "Então o que é novo nesse partido? Estamos falando de nacionalistas, antiliberais, de gente que jurou diminuir o poder dos tribunais e que está totalmente comprometida com os valores religiosos judaicos."

Ben-Gvir, que integra o Knesset desde 2021, tem um longo histórico de posicionamentos extremos e incitação racista, pelos quais foi indiciado no passado. Embora tendo abrandado um pouco sua retórica na atual campanha, ele costumava reivindicar a expulsão dos terroristas árabes e suas famílias, assim como de cidadãos "desleais". Seu partido exige a anexação de toda a Cisjordânia.

Certos analistas especulam que Benny Gantz, líder do recém-fundado Partido da Unidade Nacional, centrista, poderá se associar a um governo encabeçado por Netanyahu, dependendo do resultado das urnas. Apesar de ter assegurado na campanha que não faria, tal coisa, a meta de Gantz seria "contrabalançar" o Sionismo Religioso.

Outra especulação é que Lapid possa tentar formar um governo de minoria. Com tantas incógnitas e a poucas horas da abertura das urnas, os primeiros resultados das apurações, previstos para as 22h00 (17h00 em Brasília) desta terça-feira serão uma indicação preliminar de qual direção Israel poderá tomar.

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