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Ultradireitistas debatem expulsão de migrantes da Alemanha

11 de janeiro de 2024

Membros do partido Alternativa para Alemanha (AfD) confirmaram estar presentes em um encontro onde o tema foi pautado. Sigla, porém, disse que não adotará proposta levada à reunião por extremista de direita austríaco.

Carro com uma bandeira da AfD no capô e um cartaz com o dizer: "Wir sind das Volk"
Nos estados da antiga Alemanha Oriental, legenda chega a ter 30% das intenções de voto, em sondagens sobre as eleições federaisFoto: Martin Schutt/picture alliance/dpa

Políticos do partido alemão de ultradireita AfD participaram de uma reunião com um líder extremista austríaco em que se falou em deportações em massa de imigrantes. A informação foi confirmada pela legenda nesta quarta-feira (10/01). A sigla, entretanto, nega quaisquer planos de adotar tal proposta e afirma que não se tratava de um evento partidário.

A notícia fora publicada originalmente pela editora de jornalismo investigativo Correctiv.A reportagem informou que Martin Sellner, que lidera o Movimento Identitário Áustria (IBÖ), apresentou um plano para levar da Alemanha para o norte de África até dois milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

Ele também teria sugerido que, quando a AfD chegasse ao poder, o maior "problema" para o partido seria a expulsão de "cidadãos não assimilados". Segundo o Correctiv, um dos participantes da AfD alegou que o partido já não se opõe à dupla cidadania, pois "pode-se então tirar a alemã e eles ainda terão uma".

O encontro, ocorrido no final de novembro em um hotel perto da cidade de Potsdam, no estado de Brandemburgo, teria reunido políticos, advogados, empresários, médicos e dentistas, entre outros, segundo o Correctiv. 

De acordo com o Correctiv, dois membros da União Demorata Cristã (CDU, partido da ex-chanceler federal Angela Merkel) também estariam presentes no encontro. A legenda disse que investiga o caso e nega que eles tenham ido ao encontro em nome do partido.  

"Grande substituição"

Sellner confirmou a presença no encontro. "Apresentei ali o meu livro e o conceito identitário de remigração", ressaltou, usando uma expressão que normalmente a extrema direita usa para falar em deportação de imigrantes para seu país de origem. A palavra também já foi usada em algumas ocasiões por membros da própria AfD.

O austríaco acrescentou que o seu "conceito visa migrantes que não são assimilados, ou que pesam cultural, econômica e criminalmente na sociedade".

Sellner também afirmou que seu plano não era secreto e que estava sendo "discutido ampla e publicamente no campo patriótico". 

O movimento identitário prega a teoria de conspiração da "Grande Substituição", segundo a qual uma elite poderosa e oculta (muitas vezes especificada como judaica) estaria tentando desalojar a população etnicamente branca através de imigração da África e do Oriente Médio,

AfD tenta se distanciar 

O líder do grupo parlamentar AfD no estado da Saxônia-Anhalt, Ulrich Siegmund, confirmou que esteve presente no evento, mas destacou que estava na reunião como pessoa física e não na qualidade de membro do parlamento estadual pelo partido ultradireitista.

A AfD também confirmou que Roland Hartwig, assessor da colíder Alice Weidel, esteve presente no encontro, mas apenas para apresentar um projeto de mídia social e que não tinha conhecimento prévio de que o tema seria tratado.

A sigla de ultradireita sublinhou que Hartwig não "trouxe as ideias de Sellner sobre políticas de migração" para o partido e acrescentou que "não mudaria as suas políticas de imigração com base nas ideias individuais de uma pessoa presente na reunião". A AfD também ressaltou que não era a organizadora do evento, que tinha caráter privado. 

Roland Hartwig (dir.) assessor de Alice Weidel (esq.), teria apresentado projeto de mídia social na reuniãoFoto: Carsten Koall/dpa/picture alliance

Criada em 2013 como um grupo anti-euro antes de se transformar num partido anti-imigração, a AfD entrou no Parlamento alemão pela primeira vez em 2017, devido ao descontentamento de parte da população com um enorme afluxo de migrantes, muitos deles fugindo das guerras na Síria e no Iraque.

O apoio ao partido caiu para cerca de 10% nas eleições de 2021, mas desde então a sigla recuperou terreno enquanto a coalizão do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, luta com uma crise energética, uma inflação maciça e uma economia em dificuldades na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia. Nos estados da antiga Alemanha Oriental, a legenda chega a ter 30% das intenções de voto em sondagens recentes sobre as próximas eleições federais.

"Ideologias desumanas"

Também aumentaram as preocupações sobre o apelo do partido antes das eleições regionais previstas para a segunda metade do ano nos estados da Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, onde o apoio à AfD tem sido tradicionalmente mais forte.

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, afirmou numa publicação no X (antigo Twitter), que ideologia por trás do plano discutido na reunião visa ameaçar "os fundamentos da nossa democracia".

Em entrevista à revista Stern, Faeser alertou contra a legenda de ultradireita afirmando que "ninguém deve subestimar este perigo", acrescentando que na AfD são propagadas "ideologias desumanas".

md/le (AFP, DPA, ots)

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