Vice-premiê alemão condena declarações da líder do Alternativa para a Alemanha, que defendeu uso de armas de fogo contra refugiados nas fronteiras. Popularidade do partido, no entanto, cresce no país.
Anúncio
O vice-chanceler federal da Alemanha, Sigmar Gabriel, afirmou que o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) contraria a ordem democrática do país ao defender o uso de armas de fogo contra refugiados nas fronteiras.
Em entrevista ao jornal Bild am Sonntag, neste domingo (31/01), Gabriel reivindicou que os ultradireitistas sejam excluídos dos debates televisivos nas emissoras alemãs de direito público. Para ele, o AfD deve ser submetido à vigilância do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV).
"Antes, vigorava na Alemanha uma regra clara: não ajudamos os partidos que se voltam contra as bases da livre ordem democrática do nosso país a divulgar sua propaganda pela televisão", lembrou o também presidento do Partido Social-Democrata (SPD).
Numa alusão indireta ao regime comunista da extinta Alemanha Oriental e ao Muro de Berlim, Gabriel comentou que, tendo nascido em Dresden, no leste alemão, a líder do AfD, Frauke Petry, deveria saber o que significa atirar nas pessoas numa fronteira.
Reações indignadas da política
Neste sábado, numa entrevista ao jornal Mannheimer Morgen, Petry se manifestou a favor de que a Polícia Federal alemã dispare contra os migrantes que tentem ingressar no país ilegalmente, "se necessário". Deve-se usar os meios "que constam da lei" para impedir que "tantos refugiados possam entrar pela Áustria sem estarem registrados", exigiu a ultradireitista.
Os comentários geraram reações indignadas de todos os partidos representados no Bundestag (câmara alta do Parlamento alemão). Thomas Oppermann, chefe da bancada federal do SPD, disse que essa é uma "agitação intolerável" contra os refugiados, que lembraria a licença para atirar em vigor na fronteira entre as Alemanhas.
Segundo Peter Tauber, secretário-geral da União Democrata Cristã (CDU), com tais gafes o AfD se desmascara como "um monte de reacionários, para quem nada significam democracia, Estado de direito e valores como amor ao próximo e a compaixão".
O vice-chefe de bancada do A Esquerda, Jan Korte, tachou as declarações de desumanas, brutais e antidemocráticas. O porta-voz para assuntos internos do Partido Verde, Volker Beck, alegou que a legenda de Petry é "realmente perigosa".
O Sindicato da Polícia alemã rechaçou a sugestão que classificou como "ideologia radical". Nenhum policial vai atirar contra refugiados, assegurou em Berlim o vice-presidente do sindicato, Jörg Radek.
Apoio recorde para AfD
Apesar das críticas, o Alternativa para a Alemanha se destaca nas enquetes com os melhores índices de aceitação entre o eleitorado.
No relatório "Tendências do domingo", feito pelo instituto de pesquisa de opinião Emnid, o partido apresentou um recorde de 12% das intenções de voto dos entrevistados – dois pontos porcentuais a mais do que na semana anterior.
Com o resultado, os populistas de direita se reafirmaram como a terceira força política do país, à frente do A Esquerda (10%).
Ainda firme na primeira posição, a CDU de Angela Merkel e o partido-irmão União Social Cristã (CSU) caíram dois pontos, ficando em 34% – índice de popularidade mais baixo já alcançado pelos conservadores desde julho de 2012. O SPD, terceira legenda da coalizão de governo, teve um ponto percentual a menos, alcançando 24%. O quinto lugar coube ao Partido Verde, com 9%.
AV/afp/rtr/dpa
O poder das cercas
Muro que dividia a Alemanha caiu há 26 anos. Contudo, diante da onda de refugiados, o apelo por instalações fronteiriças é cada vez maior em diversos locais da Europa. Aqui, uma visão geral dessas barreiras pelo mundo.
Foto: picture-alliance/dpa
Hungria fecha portas
O governo do primeiro-ministro Viktor Orbán levantou uma cerca na fronteira com a Sérvia e também fortificou a com a Croácia, país-membro da União Europeia. A Hungria faz parte do Espaço Schengen, onde os controles fronteiriços foram basicamente abolidos. A maioria dos refugiados que chega da Grécia através da chamada rota dos Bálcãs, quer vir para a Áustria ou a Alemanha.
Foto: DW/V. Tesija
Posto avançado europeu
As instalações de fronteira em Melilla, enclave espanhol no norte do Marrocos, contam entre as mais modernas do mundo. Assim como em Ceuta, uma cerca de seis metros de altura e dez quilômetros de extensão circunda a cidade. Equipada com "arame farpado da Otan", câmeras infravermelhas e sensores de ruído e movimento, a fortificação visa desencorajar os refugiados africanos.
Foto: Getty Images
Ilha dividida
A chamada Linha Verde no Chipre consiste de cercas de arame farpado, escombros, torres de vigilância e seções de muro. Ao longo de 180 quilômetros, ela divide a ilha em uma parte turca no norte e uma grega, no sul. Vigiada por milhares de soldados em ambos os lados, desde a queda do Muro de Berlim Nicósia passou a ser a maior capital dividida do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/R.Hackenberg
Muro entre EUA e México
Cerca de 20 mil policiais controlam ininterruptamente a fronteira entre EUA e México. Apelidada "Tortilla Wall", a barreira se estende por 1.126 quilômetros. A construção é assegurada por câmeras de vídeo e infravermelhas, dispositivos de visão noturna, detectores de movimento, sensores térmicos e drones. Sua função é evitar a imigração ilegal e o contrabando de drogas.
Foto: dpa
Terra Santa entre dois povos
Somente em poucos pontos de controle é possível atravessar a fronteira entre os territórios palestinos e Israel, como aqui em Jerusalém. O objetivo das instalações fronteiriças é a defesa contra ataques terroristas palestinos. Apesar das fortificações e da vigilância, os palestinos conseguem contrabandear regularmente armas e outros bens, através de um sistema de túneis na Faixa de Gaza.
Foto: picture-alliance/Landov
"Zona desmilitarizada" na Coreia
Ela é considerada a fronteira mais fortificada e controlada do mundo. Um milhão de minas, arame farpado e torres de controle separam a Coreia do Sul da parte comunista da península. Em ambos os lados dos 248 quilômetros da linha demarcatória, encontra-se uma "zona desmilitarizada" de dois quilômetros de largura, onde é proibido entrar. Ela foi criada após o fim da Guerra da Coreia (1950-1953).
Foto: picture alliance/AP Photo
Linha de paz na Irlanda do Norte
Um total de 48 "linhas de paz" separa católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Na capital Belfast, o sistema fronteiriço consiste de um muro de sete metros de altura, composto por tijolos, cerca de arame farpado, concreto e grades. O muro possui passagens para pedestres e portões para o tráfego, que são fechados à noite.
Foto: Peter Geoghegan
"Cerca de proteção" indiana
Trata-se da maior instalação de fronteira do mundo: a Índia decidiu construir 4 mil quilômetros de "cerca de proteção" na fronteira com Bangladesh, país considerado pelos indianos como reduto de terroristas. A "linha zero" é uma cerca elétrica de até dois metros de altura, guarnecida de arame farpado. Aprximadamente 50 mil soldados controlam o sistema fronteiriço.
Foto: S. Rahman/Getty Images
Muro de Berlim
Ele fez parte da recente história mundial e foi condenado durante décadas de "faixa da morte". A queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 marcou o início do processo de Reunificação das duas Alemanhas e o fim da Guerra Fria. Contudo, o apelo desse evento histórico não pôde impedir que até hoje barreiras e demarcações dominem a política mundial.