"Um acordo com o Irã será bom para todos"
8 de julho de 2015As negociações entre o P5+1 – que conta com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, Reino Unido, França e Estados Unidos) mais a Alemanha – e o Irã foram prorrogadas mais uma vez. Porém, o fim das negociações parece mais próximo do que nunca.
Para Trita Parsi, fundador e presidente do Conselho Nacional Iraniano-Americano, com sede em Washington, o acordo beneficiaria os movimentos pró-democracia no Irã e minaria os riscos de uma intervenção militar.
Deutsche Welle: As negociações em Viena já estão ultrapassando o tempo previsto. O senhor acredita que haverá um acordo entre o P5+1 e o Irã?
Trita Parsi: No momento, parece que realmente teremos um entendimento. Ambas as partes estão comprometidas com isso, mais do que nunca. E, até agora, nenhum sinal negativo chegou a quem vê de fora. Isso independe do fato de que o prazo de 30 de junho não foi mantido. Na prática, o prazo acaba nos dias 7 ou 8 de julho, pois em 9 de julho o Congresso dos Estados Unidos deverá receber o parecer, para que uma resolução seja votada dentro de 30 dias.
E quem se beneficiará desse acordo?
Acredito que todos serão beneficiados. Para o Ocidente, o acordo é bom porque impede que o Irã tenha os meios para produzir uma bomba atômica. Os iranianos também se beneficiam porque o seu programa nuclear será regularizado e, com isso, acabam as sanções. Desse jeito, Teerã poderá basear as relações com o Ocidente em algo melhor, o que é muito importante para ambos os lados.
No momento, todo o Oriente Médio está tumultuado, com o radicalismo se expandindo cada vez mais. É justamente na luta contra o fanatismo, principalmente no que diz respeito aos sunitas salafistas, originários da Arábia Saudita, que o Irã pode assumir um importante papel. E já estamos testemunhando os efeitos desse radicalismo na Síria e no Iraque. Por isso, o Oriente Médio precisa do Irã para alcançar estabilidade.
O senhor afirmou que o Irã ficaria impossibilitado de produzir bombas nucleares. Porém, os críticos duvidam que o acordo será capaz, em longo prazo, de manter o país longe das armas atômicas. Pelo contrário, o Irã poderia investir em um programa nuclear abrangente, que praticamente possibilitaria ao país construir bombas nucleares sem que fosse descoberto.
Esse prognóstico é cientificamente incoerente. O protocolo adicional que impede a produção de armas nucleares é considerado o melhor instrumento para fazer inspeções tão completas que tornariam impossível, para qualquer país, a produção secreta de bombas atômicas. E essa é justamente a solução, a qual terá de ser aceita para o Irã tocar o seu programa nuclear.
No início, os críticos foram bem céticos quanto à disposição do Irã em negociar o acordo. Eles também nunca acreditaram que o governo iraniano concordaria com um plano de ação conjunto [o JPOA, assinado em novembro de 2013] ou que as exigências de um plano como esse seriam seguidas. Ou seja, os críticos se enganaram em todas as previsões – inclusive, na de agora.
Também existe a alegação de que a suspensão, integral ou parcial, das sanções fortalecerá o Irã a tal ponto que o país será capaz de resistir melhor a sanções futuras. E isso enfraqueceria a influência do Ocidente sobre o Irã.
Esse argumento parte do pressuposto de que pressionar o Irã é a única forma de impedir o país de construir uma bomba atômica. Mas esse é um pensamento completamente equivocado. Como se pode impedir que o Irã trapaceie depois de ter assinado o acordo? Simplesmente impedindo que os termos contenham qualquer estímulo para isso. O acordo precisa ser igualmente positivo para todas as partes, de forma que ninguém tenha vontade de colocá-lo em risco. É dessa maneira que todo acordo se mantém estável.
O acordo beneficia as lideranças radicais ou fortalece ao grupos moderados da sociedade iraniana?
Os grupos moderados e o movimento em favor da democracia são aqueles que realmente querem que o acordo aconteça. Isso ficou claro numa série de entrevistas concedidas recentemente por representantes desses setores. Parece que os críticos internacionais não ficaram sabendo disso – ou ignoraram o fato. Enfim, eles se apoiam em qualquer argumento para impedir um acordo que minaria as chances de um confronto militar com o Irã. Na minha opinião, a imprensa ocidental deve perguntar a esses críticos que alternativas existem para o acordo e se eles realmente prefeririam uma guerra.