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Um alerta contra a extinção da humanidade

Jonathan Wiltshire ip/afp/ap/dpa
16 de abril de 2019

Ambientalistas do movimento Extinction Rebellion bloqueiam vias de cidades como Londres e Berlim para chamar atenção para urgência de medidas contra as mudanças climáticas. Protestos estão previstos em mais de 30 países.

Protesto do grupo ambientalista Extinction Rebellion durante a Semana da Moda em Londres
Protesto do grupo ambientalista "Extinction Rebellion" durante a Semana da Moda em Londres, em fevereiroFoto: Getty Images/AFP/N. Halle'n

Ativistas do clima bloquearam pontes e ruas de Londres, Berlim e outras cidades do mundo nesta segunda-feira (15/04) em uma ação coordenada da chamada Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção), movimento ambientalista que tem o apoio de intelectuais como Noam Chomsky e Naomi Klein.

Foram anunciadas duas semanas de protestos em 80 cidades de 33 países, com a mensagem de que, a menos que se adotem medidas imediatas contra as mudanças climáticas, a própria humanidade corre risco de extinção.

Em Londres, várias ruas do centro foram bloqueadas nesta segunda, e mais de cem pessoas foram presas. Milhares de manifestantes se posicionaram na Ponte de Waterloo, no Marble Arch (Arco de Mármore), na Praça de Parlamento e no Oxford Circus para exigir medidas urgentes contra as mudanças climáticas. Policiais começaram a deter ativistas à noite para tentar liberar a Ponte de Waterloo, e, na manhã desta terça, mais manifestantes se juntaram aos que resistiram no local.

Em Berlim, cerca de 200 integrantes do movimento e de outras iniciativas ambientalistas bloquearam a ponte Oberbaumbrücke. Das 16h30 (hora local) às 18h30, eles se sentaram em rodas sobre as pistas da famosa ponte que cruza o rio Spree, considerada um dos marcos da capital alemã.

Cerca de 400 policiais foram enviados ao local e bloquearam os acessos à ponte. Em vez de deixar a ponte voluntariamente, grande parte dos ativistas se deixou carregar por policiais até o próximo cruzamento. Ninguém foi preso.

Nesta segunda, também houve manifestações em cidades como Heidelberg, Lausanne, Madri e Melbourne.

Estado de emergência

A Extinction Rebellion surgiu no ano passado, quando milhares de manifestantes tomaram as ruas de Londres. Desde então, os "Rebeldes da Extinção" do Reino Unido ocuparam pontes sobre o Tâmisa e tiraram suas roupas no Parlamento Britânico. E o movimento deles se expandiu para mais de 30 países ao redor do mundo.

A Extinction Rebellion da Alemanha se reuniu pela primeira vez em dezembro passado. Eles contam com centenas de membros e realizam reuniões regulares e eventos de treinamento. Eles se organizam via mídia social, reúnem-se em centros comunitários e cafés e fazem palestras em casas noturnas.

Ativistas próximos ao Marble Arch, em Londres, nesta terça-feiraFoto: Getty Images/AFP/D. Leal-Olivas

Assim como aestudante Greta Thunberg – líder do movimento Fridays for Future e que disse a líderes políticos que quer que eles ajam como se a casa estivesse em chamas –, a Extinction Rebellion acredita que o medo é a única coisa que motivará mudanças grandes o suficiente para dar ao mundo uma chance de sobrevivência.

"Esta é a nossa última oportunidade, é sério. É uma emergência", diz Virginie Gailing, designer francesa e ativista do grupo que vive em Berlim.

"As emissões ainda estão subindo, e por isso precisamos suspender a vida normal", diz Nick Holzberg, que trabalha em tempo integral para a Extinction Rebellion em Berlim. "A única maneira de fazer isso é a desobediência civil pacífica."

O movimento exige que os governos declarem uma "emergência climática", a fim de entrarmos em um modo de crise em que todas as atividades são suspensas para fazer da proteção climática uma prioridade.

Mais concretamente, os ativistas querem que os governos se comprometam com a neutralização do carbono até 2025 – em vez de meados do século, como a União Europeia e muitos governos nacionais almejam atualmente.

Ativistas da "Extinction Rebellion" tiram a roupa no Parlamento britânico, no início de abril de 2019Foto: Reuters/EXTINCTION REBELLION

Com pouca fé de que governos irão tomar essa ação radical sozinhos, a Extinction Rebellion também exige uma "assembleia popular" para supervisionar a transição.

A iniciativa busca inspiração no Movimento dos Direitos Civis dos EUA e no movimento de não cooperação liderado por Mahatma Gandhi, em que mais de 60 mil cidadãos foram presos na luta pacífica pela independência da Índia.

Dezenas de "rebeldes da extinção" já foram detidos no Reino Unido e podem ser sentenciados à prisão. E para muitos deles, esse é o objetivo. Líderes ativistas do movimento argumentam que, com cidadãos comuns atrás das grades, a mídia, os governos e o público em geral serão forçados a prestar atenção.

"Temos que ser presos, pois acho que nada vai mudar até que violemos a lei pacificamente", diz Holzberg. 

Para além da ação individual

A Extinction Rebellion diz que cada vez mais pessoas se juntam a ela porque o movimento oferece uma mensagem contundente e admite que tirar a humanidade de seu curso de autodestruição irá exigir mais do que reciclagem, comer menos carne e abrir mão de carros.

"O que eu posso fazer individualmente não basta", diz Gailing. "Tento não comprar nada novo, o que é incomum para um designer, tento limitar meu impacto. Mas temos que agir coletivamente para causar um impacto grande o suficiente para evitar um desastre."

A ativista admite estar pessimista em relação ao futuro do planeta. Os "rebeldes da extinção" afirmam que a humanidade está numa encruzilhada: ou se resigna à extinção ou se une pelo futuro.

"Tenho acompanhado a ciência do clima há alguns anos e tenho enormes dificuldades emocionais para processar o que está acontecendo", diz Hal Zabin, trabalhador norte-americano de 56 anos que mora em Berlim há 30 anos e participará dos protestos desta semana.

"Fazer algo de fato sobre a situação em uma comunidade, com uma cultura imensamente positiva e inclusiva, trouxe uma nova força para mim."

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