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Um ano após ataque de Nice, ainda restam perguntas

Barbara Wesel md
14 de julho de 2017

Franceses lembram vítimas do atentado em que um caminhão atropelou multidão que festejava o Dia da Bastilha no balneário da Côte d’Azur, matando 86 pessoas. Autoridades ainda apuram o que motivou o autor.

Moradora de Nice coloca bandeira na janela durante preparativos para homenagem a vítimas do atentado ocorrido na cidade há um ano
Moradora de Nice durante preparativos para homenagem a vítimas do atentado ocorrido na cidade há um anoFoto: picture-alliance/Maxppp/F. Fernandes

Este ano não haverá fogos de artifício no calçadão da praia de Nice, como é tradição no Dia da Bastilha. Em vez disso, uma missa memorial com presença do presidente francês, Emmanuel Macron, e um espetáculo noturno lembram as vítimas do atentado ocorrido há exatamente um ano.

Em 14 de julho de 2016, o francês nascido na Tunísia Mohamed Lahouaiej-Bouhlel avançou com um caminhão sobre uma multidão reunida no Boulevard des Anglais. O ataque durou apenas alguns minutos, o suficiente para matar 86 pessoas, incluindo muitas crianças. As autoridades ainda não sabem o que o levou a realizar o ataque. Os familiares das vítimas e sobreviventes culpam o governo do ex-presidente François Hollande pela ausência de medidas de segurança.

Feridas que não cicatrizam

A maioria dos mais de 400 feridos no ataque de Nice já se recuperou, embora alguns tenham sofrido danos permanentes. Cerca de 20 pacientes ainda estão em tratamento, de acordo com Pascal Boileu, funcionário do hospital universitário local.

E cerca de 3 mil parentes e pessoas que testemunharam o ataque ainda estão em tratamento psicológico. Entre elas estão muitas crianças, que só lentamente conseguem digerir o choque que experimentaram. Sobreviventes dizem que sofrem de distúrbios do sono e ataques de pânico. Para muitos, o aniversário é a primeira oportunidade para voltar ao Boulevard des Anglais para participar nos eventos memoriais. Muitos rejeitaram o convite de Macron.

Monumento em homenagem às vítimas do atentado de Nice próximo à orla da cidadeFoto: picture-alliance/dpa/S. Kunigkeit

"Nas últimas semanas tivemos contato com muitos dos afetados, durante os preparativos para os eventos memoriais de 14 de julho. Falamos com 70 pessoas, e três nos disseram que não viam sentido em se encontrar com o presidente", disse Sophia Seco, da organização que representa as vítimas.

Lento processo de compensação

Assim como em outros ataques terroristas na França, também há insatisfação com o ritmo lento da indenização das vítimas por parte do Estado. Apenas 25 milhões dos prometidos 300 milhões de euros foram pagos.

"Após preencher um formulário, as vítimas recebem um pagamento antecipado que vai de 2.500 a 5 mil euros", explica Seco. "Antes de a compensação ser paga na totalidade, a pessoa tem que estar de novo saudável ou ao menos ter se recuperado." Só então a gravidade de qualquer dano duradouro pode ser avaliada, e uma soma final, paga. "Algumas pessoas estão felizes só por receberem algum dinheiro, outros dizem que ele é muito pouco. Mas nenhuma quantia pode compensar alguém pela perda de uma filha", comenta.

A cooperação com o governo melhorou desde então, apesar de o ponto de contato para as vítimas ter sido transferido para um local nos arredores da cidade, que é de difícil acesso para muitos.

Investigação continua

Um ano depois, as autoridades de segurança francesas criaram uma montanha de arquivos. O relatório de investigação compreende cerca de 80 mil páginas e inclui relatórios de investigadores, centenas de depoimentos de testemunhas e análise do laptop do agressor e de seu telefone celular.

Praia em Nice: de atração turística a palco de uma tragédiaFoto: picture-alliance/dpa

O que falta são pistas que liguem Mohamed Lahouaiej-Bouhlel a estruturas de comando do grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) na Síria ou no Iraque, mesmo que a organização tenha reivindicado a responsabilidade pelo ataque. A falta de evidências ligando o EI a Lahouaiej-Bouhlel explica porque ele não estava na mira das autoridades de segurança.

As autoridades estão trabalhando com a suposição de que esse foi um caso de autorradicalização. O ataque de Nice foi o primeiro incidente em que um terrorista seguiu a convocação do antigo porta-voz do EI Mohammed al-Adnani. Em 2014, ele encorajou seguidores do grupo terrorista a realizar ataques na Europa e expressamente os exortou a usar veículos como armas.

Nove pessoas ainda estão sob investigação por suspeita de ajudarem no ataque. Elas são contatos locais de Lahouaiej-Bouhlel, acusadas de crimes como fornecimento de arma ao autor do ataque.

O corpo de Lahouaiej-Bouhlel foi liberado pelas autoridades francesas na semana passada e repatriado para ser enterrado na Tunísia. Nenhuma explicação foi dada sobre o motivo de a liberação do cadáver ter levado tanto tempo. Lahouaiej-Bouhlel foi baleado e morto pela polícia, que cercou seu caminhão nos momentos finais do ataque.

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