Pai do menino sírio que virou símbolo da crise migratória critica falta de medidas para solucionar o problema. Unicef afirma que 500 mil menores utilizaram serviços de traficantes para viajar à Europa desde 2015.
Anúncio
Há exatamente um ano, a foto que mostrava o menino sírio Aylan, de três anos, morto numa praia da Turquia, se tornava símbolo da crise dos refugiados e do sofrimento daqueles que fogem de guerras e conflitos em seus países de origem. Pouca coisa mudou desde então, diz o pai de Aylan, Abdullah Kurdi, que além do filho caçula perdeu o mais velho e a esposa durante a viagem rumo à Europa.
Em reportagem do jornal alemão Bild, Kurdi, que agora vive no Iraque, diz que se sente grato pelo fato de a foto de Aylan ter sido divulgada em todo o mundo, para "deixar claro o que está acontecendo". Ao mesmo tempo, ele lamenta que mais não tenha sido feito pelos refugiados.
"Após a morte da minha família, os políticos disseram: 'nunca mais'", lembrou Kurdi. "Todos supostamente queriam fazer alguma coisa após as fotos que os comoveram. Mas o que acontece agora? As mortes continuam e ninguém faz nada."
Ele pede a outras famílias que pretendem se aventurar na perigosa jornada até a Europa, que repensem seus planos. "Quero dizer aos refugiados nos campos de refugiados que eles não devem fazer essa viagem", disse. "O perigo é muito grande, Não vale a pena."
Unicef alerta sobre tráfico de pessoas
No primeiro aniversário da morte de Aylan, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmou nesta sexta-feira (02/09) que, desde janeiro de 2015, ao menos 500 mil menores de idade utilizaram serviços de traficantes de pessoas para entrar clandestinamente na Europa.
O Unicef estima que quase 590 mil menores de idade entraram com pedidos de asilo na União Europeia (UE) nesse período de 18 meses. Levando em conta que a Europol e a Interpol consideram que 90% dos percursos feitos por migrantes até a Europa foram através de traficantes, o Unicef concluiu que meio milhão de crianças e jovens utilizaram os serviços ilegais.
Dos quase 600 mil pedidos de asilo feitos por menores, 100 mil foram de crianças ou jovens desacompanhados. O Unicef alerta que esse número pode ser maior, uma vez que os países utilizam diferentes sistemas de registros.
As agências europeia e internacional de polícia estimam que o tráfico de pessoas gere entre 5 bilhões e 6 bilhões de dólares ao ano. Os refugiados pagam, em média, 3 mil dólares pela travessia ilegal.
Desde Aylan, mais de 4 mil morreram no Mediterrâneo
Também nesta sexta-feira, a Organização Internacional para Migrações (OIM) afirmou que cerca de 250 mil menores de idade entraram ilegalmente na Grécia e na Itália em 2015. O total difere dos dados do Unicef porque, apesar das crianças ou jovens terem entrado com pedidos de asilo neste período, muitos deles já estavam anteriormente em solo europeu ou chegaram por rotas terrestres, sem ter cruzado o Mar Mediterrâneo.
A agência da ONU para os refugiados (Acnur), por sua vez, lembrou que a imagem do menino Aylan ajudou a conscientizar as pessoas mundo afora sobre a gravidade do conflito na Síria.
Segundo o órgão, desde Aylan, ao menos 4.176 pessoas morreram no Mediterrâneo, o que significa, em média, 11 mortes por dia nos últimos 12 meses. Apesar de não haver informações sobre o total de crianças mortas, é possível estimar que tenham sido um terço desse total.
Segundo a Acnur, ao menos 281.740 pessoas chegaram à Europa cruzando o Mediterrâneo nos primeiros oito meses de 2016.
RC/ap/efe
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.