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Um ano após morte de Kadafi, Líbia luta para se reerguer dos escombros

20 de outubro de 2012

Mesmo após o fim do regime do ex-ditador, democracia e Estado de Direito ainda são sonhos distantes. País enfrenta problemas de segurança interna e não conseguiu punir os responsáveis por crimes durante a revolução.

ARCHIV - Libysche Rebellen schauen sich am 25.05.2011 ein bei Kämpfen zerstärtes Auto in Misrata an. Die Wunden, die der Krieg geschlagen hat, sind noch nicht verheilt. Trotzdem herrscht Aufbruchstimmung in Libyen - ein Jahr nach dem Beginn des Aufstandes gegen Gaddafi erfindet sich ein Volk neu. Foto: MISSAM SALEH dpa (zu dpa-KORR.: «Libyen ein Jahr danach - Ein Volk erfindet sich neu» vom 12.02.2012) +++(c) dpa - Bildfunk+++
Libyen ein Jahr danachFoto: picture alliance/dpa

Ele se dizia amigo do povo francês, recebeu um ou outro chefe de Estado e nos últimos anos de seu governo parecia ter ficado um pouco moderado. Entretanto, fazia tempo que o líder líbio Muammar Kadafi não tinha mais amigos ou aliados. Afinal, ele se mostrava errático em suas alianças. Apoiou vários grupos terroristas, às vezes colaborava para a unidade árabe, outras vezes lutava pela unidade africana e agia de forma brutal contra seu próprio povo.

Por isso, sequer uma voz no Conselho de Segurança discordou quando no começo de 2011 foi decidida uma operação da Otan contra o ditador líbio. Era o fim da era Kadafi. Entretanto, as consequências negativas da sua tirania ainda são visíveis.

Partidos proibidos, oposição reprimida

Não é de se admirar que Kadafi, filho de uma família de beduínos, tenha ditado a política líbia durante quatro décadas – inicialmente como chefe de Estado e, a partir de 1979, como autoproclamado líder revolucionário. Independentemente de quem era o chefe de Estado ou o primeiro-ministro, todo o poder ficava de fato nas mãos do líder.

Partidos não eram permitidos, a oposição era reprimida. Temendo adversários fortes, Kadafi negligenciava sistematicamente a infraestrutura de seu país. Centros concorrentes de poder não deveriam sequer surgir, até mesmo o Exército era praticamente incapacitado.

Agora, os líbios precisam criar novas estruturas e instituições políticas a partir do zero. "É um desafio muito grande reconstruir toda a administração pública, as forças de segurança e o Exército", constata Günter Meyer, professor de Geografia Econômica e diretor do Centro de Pesquisa sobre o Mundo Árabe na cidade alemã de Mainz.

Sarkozy é recebido por Kadafi durante visita à Líbia em 2007Foto: AP

Controvérsia sobre a reorganização do país

A reorganização do país levou a forte controvérsias e debates nos últimos meses, por causa dos diversos interesses do povo líbio. Isso tem raízes históricas: antes de Kadafi tomar o poder por meio de um golpe em 1969, as três regiões Cirenaica, Fezzan e Trípoli tinham identidades distintas.

Na gestão do primeiro governante da Líbia, o rei Idris, o país teve até 1963 uma Constituição federativa. Antes disso, as três regiões eram colônias italianas − e nunca haviam sido uma unidade. Ainda hoje, muitos líbios dão mais valor à sua cidade e à sua tribo do que ao Estado.

Uma razão é que muitos líbios tiveram experiências ruins com um poder central. Kadafi controlava a indústria do petróleo e, com isso, toda a economia do país. Sob seu governo, sobretudo a capital, Trípoli, e sua região de origem, Sirte, lucravam com a produção de petróleo.

A região de Cirenaica, no leste, onde fica a metrópole Benghazi, foi fortemente negligenciada. Não por acaso a revolução eclodiu ali em fevereiro de 2011 e Benghazi serviu como capital do governo revolucionário até a queda de Trípoli.

Milícias poderosas

Atualmente existe um forte movimento de independência exatamente em Cirenaica, região rica em petróleo. O governo central ainda carece de uma liderança militar. As forças de segurança dependem de um grande número de milícias regionais, baseadas em grupos tribais ou regionais. Estas milícias também lutam entre si, causando um problema de segurança grave para o país.

Ao mesmo tempo, antigos bastiões de Kadafi, como Sirte e Bani Walid, ainda mantêm distância da nova Líbia. "O Conselho Nacional, que é encarregado de formar um governo, ainda não pôde garantir que a paz prevaleça no país", avalia Wenzel Michalski, diretor organização Human Rights Watch na Alemanha. "Milícias armadas e gangues criminosas aproveitam o vácuo de poder para impor suas demandas ou demarcar seus territórios."

Destruição de santuários islâmicos prejudicou imagem de fundamentalistas entre população líbiaFoto: Mahmud Turkia/AFP/GettyImages

Os radicais islâmicos tentam tirar proveito da situação incerta no país. O Islã fundamentalista, entretanto, é impopular entre os líbios religiosos. A destruição de santuários islâmicos causadas por salafistas prejudicou bastante a popularidade dos islamistas radicais.

Eles também não conseguem mobilizar muitos adeptos no país com seu ódio ao Ocidente. Isso ficou evidente depois de 11 de setembro de 2012, quando um grupo terrorista em Benghazi assassinou quatro norte-americanos, incluindo o embaixador dos EUA. Dezenas de milhares de líbios foram às ruas e expulsaram da cidade duas milícias radicais islâmicas, e até então influentes, da cidade.

Passado atrapalha

A Líbia ainda está longe de conseguir colocar as milícias sob controle e punir os crimes cometidos antes e durante a revolução. "É exatamente isso que emperra o desenvolvimento do país", opina Wenzel Michalski.

Segundo um relatório da Human Rights Watch, não somente os combatentes de Kadafi cometeram crimes de guerra. As milícias que contribuíram definitivamente para a vitória contra o ex-líder agiram brutalmente contra seus opositores e massacraram soldados de forma maciça.

Um ano após a morte de Kadafi, as autoridades líbias ainda sequer começaram a investigar e processar os responsáveis ​​por crimes de guerra e outras violações do direito internacional em ambos os lados. "Os responsáveis ​​têm que ser responsabilizados, de modo que aquilo que os revolucionários exigem possa virar realidade, isto é, democracia e Estado de direito", conclui Michalski.

Autora: Anne Allmeling (md)
Revisão: Mariana Santos

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