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Esporte

Um ano depois da festa olímpica, Rio de Janeiro agoniza

Roberta Jansen do Rio de Janeiro
4 de agosto de 2017

Cenário atual contrasta com clima festivo dos Jogos Olímpicos, mas problemas já existiam naquela época. Crise se revela na violência, salários atrasados, greves e queda do turismo.

Brasilien Maracana
Foto: picture alliance/AP Photo/F. Dana

Com o ex-governador atrás das grades, índices de violência cada vez mais altos, atraso no salário de servidores, paralisação da maior universidade do estado e queda significativa do turismo, o Rio de Janeiro agoniza. O cenário contrasta radicalmente com o de um ano atrás, quando a cidade foi palco do maior evento do esporte mundial, os Jogos Olímpicos, e recebeu milhares de atletas e visitantes de forma pacífica e festiva.

Como muitos especialistas já tinham previsto, com o queimar dos últimos fogos de artifício na festa de encerramento do evento olímpico, cidade e estado saíram dos holofotes nacionais e internacionais e mergulharam num período sombrio. A população precisou encarar a realidade de um estado falido, da qual fora momentaneamente distraída pela festa.

Pouco antes do início dos Jogos, o estado do Rio de Janeiro já havia decretado calamidade financeira. O governo federal concedeu imediatamente um auxílio de 2,9 bilhões de reais para não estragar a festa. Além disso, militares e policiais foram deslocados de todo o país para garantir a segurança nas áreas turísticas e nos espaços olímpicos. Os jogos transcorreram sem maiores incidentes. Turistas, atletas e muitos moradores ficaram maravilhados.

Na ocasião, em entrevista à DW, o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Violência da Uerj, já tinha chamado a atenção para a situação: "Durante os Jogos, enquanto os turistas estiverem nas áreas turísticas, não haverá problemas: teremos um policiamento ostensivo, com muito apoio federal. Acho que o problema será, para nós, depois dos Jogos, com bem menos atenção da mídia internacional e menos recursos."

Fora de controle depois dos Jogos

Para a cientista social Sílvia Ramos, da Universidade Cândido Mendes, é fácil definir uma data: "Com o final dos Jogos Olímpicos, as coisas passaram a fugir do controle".

A crise na Petrobras também deixou suas marcas. A queda brusca na arrecadação com os royalties do petróleo deixou o estado sem dinheiro. "A partir de 2015, a crise política paralisou a economia e jogou a receita pública para baixo. Houve uma queda de arrecadação com os royalties de R$ 12 bilhões para R$ 4 bilhões em três anos", explicou Ramos.

Isso afetou os servidores públicos, que estão há meses sem receber salário, incluindo policiais. A falta de dinheiro teve um impacto direto também na manutenção da infraestrutura da polícia: carros estão parados por falta de conserto ou mesmo combustível; nas delegacias, falta material de escritório. Com a crise no policiamento, a violência aumentou ainda mais. A morte do bebê Arthur, baleado ainda dentro da barriga da mãe em junho, foi apenas o caso mais chocante dessa guerra não declarada.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, em maio deste ano foram registrados 424 casos de homicídio doloso (quando há intenção de matar), um aumento de 14,9% em relação ao mês anterior. Na comparação com os cinco primeiros meses de 2016, o aumento é de 10,9%. Foram 2.329 vítimas de janeiro a maio deste ano.

Salários atrasados e greves

Estudo divulgado esta semana pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) sustenta que a violência nos últimos meses contribuiu para uma queda de R$ 320 milhões nas receitas do turismo no estado, ou 42% menos que no mesmo período (janeiro a abril) de 2016 – ainda antes dos Jogos Olímpicos.

Desde a última sexta-feira e até o fim de 2017, o governo federal autorizou operações militares no Rio. Os militares não estão fazendo policiamento ostensivo nem partirão para o enfrentamento com bandidos, segundo o Palácio do Planalto. Seu papel é de apoio, incluindo rodovias e divisas.

Com o atraso no pagamento dos servidores – há quem não receba salário há quatro meses –, a falta de dinheiro em circulação se faz sentir por todo lado. Nas ruas mais movimentadas, as placas de "vende-se" e "aluga-se" proliferam, bem como o fechamento de estabelecimentos comerciais. Os preços dos aluguéis despencaram, mas, ainda assim, a oferta é grande.

Esta semana, a Uerj, depois de diversas protelações, anunciou o cancelamento do ano letivo de 2017 (que ainda não havia começado) por falta de verba. Em 2016, a universidade estadual recebeu apenas 65% do orçamento previsto. Os salários dos professores e as bolsas dos alunos tampouco estão em dia.