Feira de Natal do largo Breitscheidplatz, em Berlim, começa com segurança reforçada. Lembranças da tragédia estão vivas, mas frequentadores e vendedores afirmam que não vão se deixar intimidar pelo medo.
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A pergunta "por quê?" estava escrita em letras vermelhas numa tábua, colocada numa pequena escadaria ao lado da Igreja Memorial Kaiser Wilhelm, no largo Breitscheidplatz, em Berlim, na abertura do mercado de Natal, nesta segunda-feira (27/11).
Em meio a várias casinhas de madeira – os estandes tradicionais de vendas de produtos das feirinhas alemãs de Natal – um memorial improvisado acabou sendo erigido em volta da placa, com velas, flores, árvores de Natal e duas cruzes brancas de madeira.
Desta maneira, os berlinenses lembraram o atentado que, mesmo um ano depois, ainda causa perplexidade na capital alemã. Em 19 de dezembro de 2016, o tunisiano Anis Amri avançou com um caminhão roubado contra os visitantes do mercado de Natal, matando 12 pessoas e deixando 70 feridas, algumas delas em estado grave. Em minutos, o clima de festa dava lugar ao medo na cidade.
"Aí é que eu vou, mesmo"
Um ano depois, os primeiros frequentadores do mercado de Natal deixam claro que as lembranças do que aconteceu estão presentes. "Mesmo agora já se sente uma espécie de incômodo quando se está aqui", disse um berlinense que, apesar de tudo, insistiu em admirar a praça enfeitada. Uma outra visitante acrescentou que "a inquietação já chegou".
Mas o consenso entre expositores e frequentadores é de que as pessoas não devem se deixar intimidar pelo medo. Diante do perigo do terrorismo, muitos tentam transmitir um clima de "aí é que eu vou, mesmo". Pouco depois da abertura, os espaços entre os estandes estavam praticamente lotados.
É pouco provável que a feira de Natal deste ano transcorra dentro de um clima de absoluta normalidade no largo Breitscheidplatz. Não só por causa das lembranças do que aconteceu, mas também devido à presença de inúmeras equipes de televisão, que relatam sobre o mercado de Natal mais famoso de Berlim, um ano depois do atentado.
Homenagem às vítimas
O ministro do Interior, Thomas de Maizière, apelou aos alemães para que não deixem de ir aos tradicionais mercados de Natal. "Eles fazem parte da nossa vida e da nossa cultura", disse o ministro ao jornal Bild. Por isso, os cidadãos devem estar atentos, mas não temerosos, pediu De Maizière.
Os vendedores das barraquinhas atenderam ao apelo. Segundo o presidente da associação dos expositores, Michael Roden, quase todos retornaram para o mercado este ano. Segundo ele, esse é também um sinal de consciência do poder simbólico de uma ausência. Roden calcula que o número de visitantes também não vai variar muito na comparação com anos anteriores: entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de pessoas.
Antes da abertura oficial do mercado de Natal, muitos vendedores se reuniram na Igreja Memorial para uma homenagem silenciosa. Ao lado do altar, 12 velas foram acesas em memória das vítimas. O pastor Martin Germer exortou os expositores a não esquecerem o ocorrido, mas também a não deixar de lado a sua tarefa de dar vida ao mercado.
Policiais com metralhadoras
As medidas de segurança foram nitidamente aumentadas não só no largo Breitscheidplatz, mas em toda a Alemanha. As áreas de acesso estão protegidas por blocos de concreto, que evitam novos ataques com veículos. Além disso, haverá visivelmente mais patrulhas de seguranças e policiais, alguns deles com metralhadoras. Câmeras de vigilância e alto-falantes para anúncios de emergência completam o esquema de segurança.
"O risco de terrorismo é simplesmente alto demais, a qualquer momento e em qualquer lugar", disse De Maizière. Ele acrescentou, porém, que não há sinais de ameaça concreta à segurança.
Portanto, a temporada dos mercados de Natal pode começar em toda a Alemanha, incluindo Berlim. Na capital, haverá apenas um dia de exceção: em 19 de dezembro, um ano após o atentado, o mercado de Natal na praça Breitscheidplatz estará fechado. Nesse dia será inaugurado o monumento em memória das vítimas. Ele consiste de uma marcação dourada que se estende pelo piso do largo.
Os dez melhores mercados de Natal da Alemanha
Sejam tradicionais ou exóticas, grandes ou pequenas, as feiras natalinas da Alemanha atendem a todos os gostos. Conheça algumas das favoritas da temporada de 2016.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Nurembergue
O Christkindlesmarkt de Nurembergue é parada obrigatória para quem queira explorar os mundo das feiras natalinas da Alemanha. Datando de 1628, ela encarna tudo o que se associa a um mercado de festas. Seu ponto alto é a aparição do Menino Jesus, interpretado por uma adolescente da cidade, declamando um prólogo na cerimônia de abertura.
Foto: picture-alliance/dpa
Dresden
O Striezelmarkt tem séculos de tradição. Realizado pela primeira vez em 1434, ele durava apenas um dia, antes do início dos feriados. Seu nome vem de "strüzel", um bolo de frutas de forma alongada, vendido na feira que, que deu origem ao popular stollen ou christstollen. Em 2016 o mercado de Natal de Dresden completa 582 anos de existência.
Foto: picture-alliance/A. Litzlbauer
Bautzen
O Wenzelsmarkt de Bautzen pode ser pequeno, mas é muito especial. Realizado pela 632ª vez neste ano, ele foi criado por um decreto do rei Venceslau 4º, da Boêmia, dando à cidade o direito de realizar uma feira de carne pré-natalina.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Colônia
A feira natalina ao lado da Catedral de Colônia é uma das maiores da Alemanha, atraindo cerca de 4 milhões de visitantes por ano. Em volta da maior árvore de Natal da Renânia, mais de 160 barraquinhas de madeira festivamente decoradas oferecem uma vasta seleção de doces e especialidades locais, bem como vinho quente em canecas adornadas com motivos natalinos.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Galuschka
Hamburgo
Na época de festas o distrito boêmio de Sankt Pauli mostra tanto seu lado tradicional como o brincalhão. Nas proximidades da Reeperbahn, sua principal avenida, realiza-se a Santa Pauli, uma feira exclusiva para adultos. Nela, o visitante pode tomar vinho quente, comprar jóias, suvenires e outros presentes típicos de um bairro de prostituição, como vibradores, brinquedos eróticos e muito mais.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Charisius
Lübeck
O mercado de Natal desta cidade hanseática é provavelmente o mais conhecido no norte da Alemanha, tendo sido mencionado pela primeira vez em 1648. Os amantes do marzipã podem aproveitar para comprar essa especialidade, que muitos dizem ter sido inventada em Lübeck. Em frente à prefeitura (foto) está o Café Niederegger, um fabricante famoso de marzipã.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Scholz
Munique
O Festival de Inverno Tollwood, no parque Theresienwiese, tem a oferecer vinho quente, salsichas orgânicas e, claro, muita cultura. O evento, que dura quatro semanas na capital bávara, é apresentado como fórum de ecologia e consciência ambiental, cujos produtos e brinquedos vendidos ostentam o certificado "Fair trade". Um dos pontos altos em 2016 é um concerto de campainhas de bicicletas.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Hörhager
Lago Chiemsee
Realizado na ilha Frauenchiemsee, esse mercado natalino tem um cenário verdadeiramente extraordinário e romântico, sendo cercado pelo cristalino lago Chiemsee, ao pé dos Alpes Bávaros. De lá o visitante avista a ilha Herrenchiemsee e o famoso castelo homônimo, construído pelo rei Luís 2º da Baviera, que também iniciou a edificação do Castelo de Neuschwanstein.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schrader
Aachen
O mercado de Natal nas proximidades da Catedral de Aachen não é tão antigo, remontando à década de 1970. Por a cidade se localizar perto das fronteiras belga e holandesa, ele recebe muitos turistas do Benelux e possui uma atmosfera bem internacional. Para os visitantes, é impossível deixar de experimentar as Aachener printen, espécie de biscoitos de pão-de-mel cobertos de chocolate.
Foto: picture-alliance/R. Kiedrowski
Annaberg-Buchholz
Essa premiada feirinha da região montanhosa do Erzgebirge, no Leste da Alemanha, é muito especial, com sua pirâmide decorada com figuras tradicionais do Natal, da cidade e da indústria da mineração local. Em mais de 80 barraquinhas decoradas, o visitante pode adquirir artesanato de madeira da região, cones de incenso ou as estrelas natalinas de Annaberg, de papel dobrado.