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Um castelo como herança

19 de outubro de 2015

Descendentes de famílias da nobreza herdam e administram castelos e palácios na Alemanha. Mas o alto custo de manutenção, as normas de preservação e a vida no campo afastam muitos integrantes das gerações mais jovens.

O castelo de Namedy, em AndernachFoto: DW/A. Leslie

Quando criança, Anna corria e brincava pelos cômodos do antigo castelo de Namedy, em Andernach, no oeste da Alemanha. Havia objetos dos séculos passados por todo lado: móveis ornamentados, pinturas da nobreza e troféus de caça faziam parte do playground da menina.

Hoje, aos 32 anos, a princesa Anna e sua mãe, a princesa Heide von Hohenzollern, de 72 anos, são responsáveis por administrar a construção do século 14. Por mês, elas gastam 8 mil euros com contas de água, aquecimento e luz – isso sem contar os custos de manutenção e renovação.

"É um negócio difícil", diz Anna. O senso de tradição não foi o único motivo para começar a investir no castelo, há quase seis anos. "Eu tive a sorte de não ser obrigada por ninguém da família a fazer isso."

Anna não se intimidou com a tarefa de ser "herdeira do castelo". Apesar disso, sua mãe afirma: "Administrar um negócio familiar nunca é fácil." No início, elas discordavam bastante. Anna tinha acabado de se formar em Gerenciamento de Mídias e queria trabalhar com filmes, até que ela desembarcou no castelo cheia de ideias.

O castelo de Namedy serve hoje não apenas como local para eventos culturais, mas também para casamentos e conferências.

Troca de gerações

Com frequência, a transição entre gerações da responsabilidade por castelos e palácios que são propriedade privada de antigas famílias da nobreza não acontece de forma tão natural quanto no caso de Anna. Muitas vezes, o alto custo de manutenção, as normas de preservação e a vida no campo afastam os jovens.

Princesa Heide Von Hohenzollern: "Administrar um negócio familiar nunca é fácil"Foto: DW/A. Leslie

"Quando não conseguimos convencer os descendentes da família, isso pode representar uma enorme ameaça para o patrimônio cultural", diz Hartmut Dorgerloh, diretor-geral da Fundação de Palácios e Jardins Prussianos de Berlim-Brandenburgo.

Se não houver nenhum investidor e o país não assumir a responsabilidade, a propriedade pode se deteriorar. "O setor público já está fazendo muito, e somos muito gratos. Mas ele deveria também definir incentivos para que bens públicos e privados sobrevivam", diz Dorgerloh.

"É um problema constante. De geração para geração, mais e mais propriedades são perdidas", diz o presidente honorário da Associação Alemã de Castelos, Alexander Fürst zu Sayn-Wittgenstein-Sayn, de 71 anos. No palácio Sayn, a poucos quilômetros do castelo de Namedy, ele ainda tem a palavra final.

Os filhos de Sayn-Wittgenstein-Say vivem e trabalham em grandes cidades europeias. "Assumir a responsabilidade sobre o castelo significaria mudar-se para a província com a família. Eles teriam que apertar o cinto e arregaçar as mangas para manter a histórica e economicamente complicada posse. Muitos preferem esperar até que as gerações mais velhas não possam mais [administrar os castelos]."

O problema é evidente sobretudo em cidades da ex-Alemanha Oriental. As expropriações de 1945 fizeram com que diversas sucessões geracionais fossem interrompidas. Com a Reunificação do país, muitos antigos proprietários tentaram comprar de volta suas mansões. Mas eles não foram autorizados a arrematar os terrenos adjacentes, excluindo a agricultura como fonte de renda.

Muitos investidores privados compraram as construções antigas, mas logo as revenderam. "É sempre um problema quando a pessoa não tem uma ligação histórica com a casa", diz Sayn-Wittgenstein-Say.

Nos estados da Baviera, Renânia do Norte-Vestfália, Baixa Saxônia e Hessen, os castelos e palácios estão, em sua maioria, ligados a terras agrícolas. Na Renânia-Palatinado, esses vínculos foram cancelados por causa das sucessivas invasões francesas e destruições no século 17. Por isso, propriedades como os castelos Sayn e Namedy são, frequentemente, usados com fins comerciais.

Com muito orgulho, as duas princesas Von Hohenzollern caminham pelo castelo. Elas contam sobre vazamentos de água e a construção equivocada do terraço, que é sempre motivo de preocupação. "Mas, 99% do tempo, [administrar o castelo] é um grande prazer", diz Heide.

AF/dpa

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