Um em cada quatro alemães expressa ideias antissemitas
Rebecca Staudenmaier jps
24 de outubro de 2019
Pesquisa aponta que 27% da população alemã concorda com estereótipos antissemitas, como o de que "os judeus detêm muito poder sobre a economia". Mais de 40% dizem que "os judeus falam demais sobre o Holocausto".
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Quase 75 anos após o Holocausto, o antissemitismo persiste em uma fatia considerável da sociedade alemã, segundo os resultados de uma pesquisa que faz parte de um estudo do Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês) divulgado nesta quinta-feira (24/10).
O levantamento, que ouviu 1.300 pessoas, apontou que 27% dos entrevistados concordaram com uma série de argumentos antissemitas ou estereótipos sobre os judeus.
A pesquisa ainda aponta que 41% concordaram com a afirmação de que "os judeus falam demais sobre o Holocausto". O mesmo percentual concordou com a frase "os judeus são mais leais a Israel do que à Alemanha".
Outros 20% dos entrevistados afirmaram concordar com a ideia de que os judeus "detêm muito poder" sobre a economia, os mercados financeiros mundiais e a mídia. E 22% concordaram com a afirmação de que "as pessoas odeiam os judeus por causa do modo como eles se comportam".
"Pense nisso: ainda existem sobreviventes do Holocausto e os alemães já se atrevem a ter pensamentos antissemitas – e até a agir com base neles. Isso é incrível", disse à DW o rabino Yechiel Brukner, da sinagoga de Colônia.
O levantamento ainda apontou a presença de sentimentos antissemitas entre os mais ricos e mais educados na Alemanha. Segundo a pesquisa, 18% dos membros da "elite" - pessoas com pelo menos um diploma universitário e que ganham pelo menos 100.000 euros (cerca de 450 mil reais) por ano - concordaram com várias afirmações antissemitas citadas pelos pesquisadores.
Entre esse grupo, mais de um quarto disse acreditar que os judeus têm "muito poder sobre a política mundial" e a economia.
Comunidade judaica é tomada por medo no leste da Alemanha
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O presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald S. Lauder, disse ao jornal Süddeutsche Zeitung que a pesquisa mostra que o antissemitismo na Alemanha atingiu um "ponto de crise".
"Vimos o que acontece quando pessoas comuns olham para o outro lado ou permanecem caladas", disse.
Lauder acrescentou que a Alemanha tem a obrigação de impedir o retorno da intolerância e do ódio, e se um quarto da população abraça ideias antissemitas, os três quartos restantes devem tomar medidas para defender a democracia e uma sociedade tolerante na Alemanha. "É hora da sociedade alemã se posicionar e combater o antissemitismo diretamente", afirmou.
Embora a pesquisa tenha apontado um número preocupante de pessoas que expressam ideias antissemitas na Alemanha, o estudo também constatou que a vontade de combater a intolerância é ainda maior.
Dois terços dos membros das "elites" disseram que apoiaram uma petição contra o antissemitismo, enquanto um terço declarou que estava disposto a participar de manifestações a favor dos judeus.
A maioria dos entrevistados também reconheceu que houve um aumento no comportamento hostil em relação ao povo judeu na Alemanha. Entre os entrevistados, 65% disseram considerar que esse aumento está ligado ao sucesso de "partidos extremistas de direita".
A pesquisa foi realizada há dois meses, portanto antes doataque terrorista que tinha como alvo uma sinagoga na cidade de Halle, no leste da Alemanha.
Grandes e pequenos memoriais em toda a capital alemã relembram seu passado judaico e os crimes do regime nazista.
Foto: Renate Pelzl
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Esse enorme campo de monólitos no centro da capital alemã foi inaugurado em 2005. O projeto é do arquiteto nova-iorquino Peter Eisenmann. Os quase três mil blocos de pedra evocam a lembrança dos seis milhões de judeus de toda a Europa que foram assassinados pelos nazistas.
Foto: picture-alliance/Schoening
Stolpersteine ("pedras de tropeço")
Estes pequenos blocos podem ser encontrados em centenas de calçadas de Berlim, em frente a imóveis que eram ocupados por famílias judias. Nelas, constam os nomes dos antigos moradores judeus e informações sobre seu destino final, como o campo de concentração para onde foram enviados. No total, existem mais de 7 mil desses pequenos memoriais só em Berlim.
Foto: DW/T.Walker
A casa da Conferência de Wannsee
Quinze autoridades nazistas de alto escalão se reuniram nesta mansão às margens do lago Wannsee, no subúrbio berlinense de mesmo nome, em 20 de janeiro de 1942. O tema da conferência: discutir o assassinato sistemático de judeus europeus, que foi batizado de "solução final para a questão judaica". Hoje o local é um memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial Plataforma 17
Rosas brancas na plataforma 17 da estação Grunewald, no oeste da capital, lembram os mais de 50 mil judeus de Berlim que foram enviados para a morte a partir desse local. Em exibição estão 186 placas que mostram a data, o destino e o número de deportados.
Foto: imago/IPON
Museu Otto Weidt
O complexo de prédios Hackesche Höfe no centro de Berlim é mencionado em vários guias de viagem. Em um dos edifícios, ficava a fábrica de escovas e vassouras do empresário alemão Otto Weidt (1883-1947). Durante a era nazista, ele empregou muitos judeus cegos e surdos, salvando-os da deportação e da morte. Hoje o local é um museu.
Foto: picture-alliance/Arco Images
Centro de moda na Hausvogteiplatz
O coração da moda de Berlim uma vez bateu aqui. Uma placa comemorativa feita de espelhos lembra os estilistas e fashionistas judeus que fizeram roupas para toda a Europa na praça Hausvogtei. Os nazistas expropriaram os donos judeus e entregaram os ateliês para funcionários e empresários arianos. Esse centro de moda acabou sendo irremediavelmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Memorial na Koppenplatz
Antes do Holocausto, 173 mil judeus viviam em Berlim. Em 1945 havia apenas 9 mil. O monumento "Der verlassene Raum" (a sala abandonada) está localizado no meio da área residencial da praça Koppen. É uma forma de relembrar os cidadãos judeus que foram tirados de suas casas e nunca retornaram.
Foto: DW
O Museu Judaico
O arquiteto Daniel Libeskind escolheu um design dramático: visto de cima, o edifício parece uma estrela de David quebrada. O Museu Judaico é um dos prédios mais visitados em Berlim, oferecendo uma visão geral da turbulenta história teuto-judaica.
Foto: AP
Cemitério Judaico Weissensee
Ainda há oito cemitérios judaicos em Berlim. O maior deles fica no distrito de Weissensee. Com cerca de 115 mil túmulos, é o maior cemitério judaico da Europa. Muitos judeus perseguidos se esconderam no emaranhado de construções dos cemitérios durante o regime nazista. Em 11 de maio de 1945, três dias após o fim da Segunda Guerra, o primeiro funeral judaico público foi realizado aqui.
Foto: Renate Pelzl
A Nova Sinagoga
Quando a sinagoga da rua Oranienburger foi consagrada em 1866, o prédio foi considerado o mais magnifico templo judaico da Alemanha. O edifício foi danificado na Noite dos Cristais em 1938 e depois foi duramente bombardeado na Segunda Guerra. No início dos anos 1990, foi parcialmente reconstruído. Desde então, sua cúpula dourada voltou a ser facilmente inidentificável no horizonte de Berlim.