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Um gesto de reconciliação

(ms)1 de agosto de 2004

O chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, participa do ato solene em memória dos 60 anos do Levante de Varsóvia a convite do governo polonês. Este é um fato inédito na história dos dois países.

Gerhard Schröder (d), cumprimenta um veterano da resistênciaFoto: AP

A Polônia lembra neste domingo (01/08) os 60 anos do Levante de Varsóvia contra as tropas alemãs de ocupação durante a 2ª Guerra Mundial, com a participação do chefe de governo da Alemanha, Gerhard Schröder. Esta é a primeira vez que um chanceler alemão recebe oficialmente um convite do governo polonês para participar da solenidade.

Na agenda do dia, um encontro com o primeiro-ministro polonês Marek Belka e uma visita ao recém-inaugurado museu que trata do episódio ocorrido no dia 1º de agosto de 1944. À noite, Schröder fará um discurso durante um ato solene que será realizado ao ar livre.

Início da reconciliação

A visita de chanceler alemão não é mais tema de opiniões controversas na Polônia, ao contrário do que ocorreu há dez anos, quando o presidente Roman Herzog esteve presente ao ato solene em memória dos 50 anos do Levante de Varsóvia. Na ocasião, muitos poloneses consideraram uma afronta a sua presente na data em que lembravam a morte de milhares de pessoas vítimas da tirania do nazismo.

Herzog, que havia sido convidado pelo então presidente polonês Lech Walesa, não se esquivou do convite. Era a oportunidade de assinalar uma aproximação entre os dois países. Em seu discurso, Herzog pediu perdão pelo sofrimento que a Alemanha causou ao povo polonês durante a 2ª Guerra Mundial. Suas palavras tiveram uma repercussão positiva no país e marcou o início da reconciliação.

Gerhard Schröder coloca uma vela sob o sino que lembra as vítimas do Levante de VarsóviaFoto: AP

Dez anos depois, as relações entre Alemanha e Polônia são bem mais amigáveis e intensas. Mas nem por isso a presença de Schröder em uma data como esta pode ser considerada trivial. "Eu me alegrei muito que o governo polonês tenha me convidado para estar na Polônia na solenidade dos 60 anos do Levante de Varsóvia", declarou o chanceler alemão que interrompeu suas férias na Itália para participar do evento.

História sangrenta

No dia 1º de agosto de 1944, forças da resistência polonesa, a Armija Krazowa (AK), intentaram um grande levante armado contra a ocupação nazista em Varsóvia. A população combateu e resistiu durante 63 dias aos ataques das tropas alemãs. Soldados do exército soviético, que estavam acampados do outro lado do rio Vístula, não reagiram ao levante.

Estima-se que mais de 200 mil civis e 18 mil combatentes poloneses tenham sido mortos. Cerca de 350 mil pessoas foram expulsas da cidade ou levadas para campos de concentração. Outras 120 mil foram obrigadas a executar trabalhos forçados na Alemanha.

Após o fracasso do levante, Hitler ordenou que Varsóvia fosse totalmente destruída. Quando a guerra acabou, em 1945, a cidade em ruínas contava com menos de 10 mil moradores.

Novos tempos

O episódio deixou marcas profundas no povo polonês. O forte sentimento de decepção de que tantos haviam sido mortos inutilmente perdurou durante décadas, especialmente sob o regime comunista. Lembrar do levante publicamente era proibido já que não era conveniente irritar os soviéticos, que na época simplesmente "cruzaram os braços".

A mudança política na Europa, ocorrida em 1989, provocou também uma mudança de comportamento na Polônia. Hoje, o levante é lembrado em ato público solene e considerado um elemento construtivo da identidade polonesa na Europa. É símbolo da luta pela liberdade e independência.

Já o convite feito a um chanceler alemão representa, segundo Gerhard Schöder, um marco da reconciliação entre os dois povos e um importante passo para a unificação ainda maior na Europa.

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