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Um linha-dura à frente da diplomacia americana

13 de março de 2018

Atual diretor da CIA, Mike Pompeo é homem de confiança de Trump, com quem compartilha posições em relação à política externa. Ligado ao movimento Tea Party, ele defende, por exemplo, que "waterboarding" não é tortura.

Mike Pompeo
Ao longo dos seus 14 meses à frente da CIA, Pompeo funcionou como apaziguador das relações entre a agência e o presidenteFoto: Getty Images/J. Raedle

Ao optar por Mike Pompeo para a chefia do Departamento de Estado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escolheu um homem em quem confia e com quem compartilha diversas posições sobre a política externa – bem ao contrário do secretário cessante, Rex Tillerson.

Leia mais: O entra e sai sem fim do governo Trump

Até aqui, Pompeo chefiava a CIA e costumava informar pessoalmente o presidente sobre os assuntos de inteligência. Foi assim que ele conquistou a confiança de Trump, que encontrou no subordinado uma pessoa de posições semelhantes às suas. Isso pesou na decisão anunciada nesta terça-feira (13/03).

"Com Mike Pompeo tenho uma forma de pensar similar. Ele tem uma tremenda energia, um tremendo intelecto. Sempre estamos na mesma onda", afirmou Trump, ao comentar a decisão, que fora sumariamente comunicada pelo Twitter, horas antes. "A nossa relação é realmente boa", acrescentou o presidente.

Por outro lado, Trump reconheceu ter uma "mentalidade diferente" da de Tillerson, demitido de maneira fulminante pelo presidente no mesmo tuíte que colocou Pompeo no comando da diplomacia americana. Os dois divergiram publicamente em vários temas, incluindo a maneira de lidar com a Coreia do Norte.

Um funcionário da Casa Branca disse à agência de notícias AP que Trump queria ter uma nova equipe para as iminentes negociações com a Coreia do Norte. Mas analistas afirmam que trocar o comando da diplomacia americana de uma hora para a outra, poucas semanas antes do programado encontro com o líder Kim Jong-un, envia um mau sinal aos norte-coreanos.

Risco de isolamento

Se confirmado no novo posto pelo Senado, Pompeo, de 54 anos, vai se converter na primeira pessoa a comandar a principal agência de inteligência e a ocupar o principal cargo da diplomacia americana. O chefe indicado do Departamento de Estado é um republicano ultraconservador e um "falcão" tido como extremamente leal ao presidente e que costuma defendê-lo de críticas.

Pompeo é um cético do clima, como Trump, e já defendeu várias vezes romper o acordo nuclear com o Irã, em linha com a posição do presidente. Além disso, sempre favoreceu a linha dura no tratamento com a Coreia do Norte, defendendo que fosse considerada a opção militar. Ao longo dos seus 14 meses à frente da CIA, Pompeo funcionou como um apaziguador das tumultuadas relações entre a agência e o presidente.

No novo cargo, tem como pontos a favor a confiança do presidente, sua experiência dentro da administração e também o conhecimento sobre o funcionamento do Congresso e as boas relações com alguns congressistas. Mas críticos afirmam que, com ele no lugar de Tillerson, os EUA vão se afastar ainda mais de aliados, isolando-se.

Além disso, funcionários da CIA acusam Pompeo de selecionar a inteligência que repassava a Trump, por exemplo diminuindo a importância das informações sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016 – ou seja, dizendo ao presidente aquilo que ele gostaria de ouvir. "Pompeo foi o diretor da CIA mais político de que me lembro", afirmou um funcionário da administração americana à agência de notícias Reuters, em condição de anonimato.

Do Congresso à CIA

Pompeo estudou engenharia na Academia Militar de West Point, serviu por cinco anos como oficial do Exército e, em seguida, estudou Direito na Universidade de Harvard. Mais tarde fundou uma empresa de engenharia no Kansas, financiado pelos irmãos Koch, milionários do setor petrolífero.

Os Koch, com elevada influência no Partido Republicano, deram apoio a Pompeo nas eleições para o Congresso em 2010, e ele foi eleito para a Câmara dos Representantes pelo estado do Kansas. Pompeo logo integrou o Comitê dos Serviços de Inteligência do Senado, no qual teve acesso a segredos de Estado.

Em 2012 fez parte do comitê republicano que investigou o assassinato de um embaixador americano e de três outros compatriotas em Benghazi, na Líbia. Nesse papel, Pompeo tornou-se numa das vozes mais críticas à então candidata democrata, Hillary Clinton, na eleição presidencial de 2016, culpando-a destas mortes, ocorridas durante o seu período como secretária de Estado.

Em 2017, no início do governo Trump, foi para a CIA. O Senado o aprovou para o cargo com 66 votos a favor e 32 contra. Ele é visto como uma pessoa engajada, mas também agressiva com seus subordinados, e foi contra classificar o polêmico método waterboarding como tortura. Pompeo é também um forte apoiador do uso de ferramentas de vigilância em massa.

AS/rtr/ap/dpa/lusa

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