Após uma noite de enchentes, a Renânia do Norte-Vestfália está em choque. Há mortos e desaparecidos, comunidades inteiras tiveram que ser evacuadas, os danos materiais ainda estão por calcular. A DW foi até Heimerzheim.
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A carteira de dinheiro e a ração canina foram tudo o que Uwe e Robert Gödecke conseguiram resgatar de sua casa em Heimerzheim, depois que, às 3h da manhã, uma enchente os arrancou do sono profundo. Em questão de minutos, primeiro o cão Kuno, depois os dois homens saltaram pela janela da cozinha para serem salvos por uma lancha a motor da Cruz Vermelha Alemã.
"Tudo passava flutuando na nossa frente: a mesa do jardim, as cadeiras de palha, a lata de lixo", conta Uwe à DW. Até agora, dois de seus vizinhos estão desaparecidos.
Fortes chuvas provocaram cenas dramáticas em partes do estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, na madrugada desta quinta-feira (15/07). O rio Swist, que normalmente serpenteia com seus dois metros de largura pelo lugarejo de 8 mil habitantes, atingiu 200 metros, e nas primeiras horas da manhã invadiu porões e quartos de dezenas de casas.
Em Heimerzheim e cercanias, 6 mil moradores tiveram que ser removidos. Muitos temem agora pelo destino de seus bens. Manfred Lütz, há 15 anos vice-prefeito da localidade, tem lágrimas nos olhos ao contar sobre a noite anterior: com alguns ajudantes, ele havia retirado 300 baldes de água de sua casa, "e aí veio o Swist e acabou com tudo: nossa casa ficou completamente debaixo d'água". Ele teve que reservar quartos de hotel para os vizinhos: "Desde os anos 60 não acontece uma coisa dessas por aqui."
"Salve-se quem puder"
Também Torsten Clemens está perplexo. O vice-chefe do corpo de bombeiros voluntários de Swisttal não pregou o olho a noite inteira, em ação constante com seus 180 colaboradores. "A rapidez com que a água veio e, principalmente, em que quantidade – eu nunca vi nada assim."
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Ainda duante a noite, os bombeiros haviam tentado conter a enchente usando dezenas de estações de bombeamento. Mas por volta das 22h algo lhes dizia que todo o esforço talvez fosse em vão. "Estávamos aqui no seco e, menos de dez minutos depois, eram dez centímetros de água."
A toque de caixa, o corpo de bombeiros evacuou cinco ruas, mas alguns moradores ainda permaneceram em casa. Quando, algumas horas mais tarde, o Swist transbordou, a ordem passou a ser, também para os vigilantes: salve-se quem puder.
"A gente viu a água chegando e disse: não tem sentido, senão não vamos mais conseguir retirar nem os nossos próprios veículos. Aí não vamos ter mais a menor chance de salvar coisa nenhuma, as pessoas não conseguiam nem mais tirar os carros delas."
Assistidos pelos serviços nacionais de defesa civil THW e DLRG, os bombeiros continuaram a evacuação com pequenos barcos, embora muitas vezes estes não consigam enfrentar a correnteza forte. Clemens e os demais voluntários ainda esperam mais barcos e querem resgatar os últimos residentes. "Já que a correnteza cedeu, nós decidimos agora retirar todo mundo."
Diante das ruínas de uma vida
Da mesma forma que o vice-chefe dos bombeiros, o diretor de relações públicas da Cruz Vermelha Alemã, Frank Braun, ainda não tem uma visão geral da catástrofe. Exausto, ele está à entrada do pequeno ginásio de esportes de Heimerzheim, onde foram instalados às pressas 180 moradores evacuados, que não tinham onde ficar.
Qual foi a impressão mais forte da noite anterior, para ele? "Muita água. Estava muito difícil chegar a todos os locais de mobilização, porque as ruas e até as autoestradas estavam inundadas." Sobre mesas, encontram-se montes de roupas secas para os desabrigados, doadas pelos vizinhos. Alguns descansam em camas de armar, psicólogos lhes instilam coragem.
Heinz e esposa encontraram acolhida com amigos. Ambos são velhos moradores do lugarejo: faz quatro décadas que construíram sua casa, e apenas alguns anos antes fizeram uma grande reforma. Neste momento, estão diante das ruínas da própria vida: "A casa ficou cheia d'água até o andar térreo. Agora só resta arrancar a alvenaria e drenar um ano e meio."
Schmitz tem a sorte de possuir um seguro sobre desastres naturais, mas será que ele vai realmente cobrir tudo, e quanto tempo vai durar? Seus olhos se enchem de lágrimas ao comentar: "Nos próximos meses e anos, não vai ser possível nós nem nossos vizinhos vivermos nessas casas."
O poder de destruição da natureza
Água, vento, fogo ou gelo: grandes desastres naturais causam mortes por todo mundo, afetando a vida de milhões de pessoas. Confira algumas das catástrofes naturais registradas no último século.
Foto: Getty Images/AFP/J. Barret
Enchente na China em 1931 pode ter matado até 4 milhões de pessoas
Em 1931, a cheia dos rios Amarelo, Pérolas, Yangtzé e Huai devastou parte da China. A enchente, que durou de julho a novembro, inundou mais de 88 mil km² e deixou outros 21 mil km² parcialmente inundados. Não há registro exato do número de mortos, mas estima-se que de 1 milhão a 4 milhões de pessoas morreram em decorrência da tragédia e de seus efeitos secundários, como a fome.
Foto: picture-alliance/AP Images
Por falta de aviso à população, ciclone mata pelo menos 300 mil em Bangladesh
Em novembro de 1970, o Paquistão Oriental (atual Bangladesh) esteve no caminho do ciclone Bhola. Meteorologistas disseram ter previsto a tempestade, mas que não havia meios de comunicar o risco à população. Como resultado, ao menos 300 mil pessoas morreram – algumas estimativas chegam a meio milhão de mortes. Em 1991, Bangladesh foi atingido por outro ciclone, que deixou cerca de 138 mil mortos.
Foto: Getty Images
Terremoto acaba com cidade na China
A cidade industrial de Tangshan, na China, foi arrasada por um terremoto de magnitude 7,6 em 28 de julho de 1976. Em minutos, a cidade praticamente deixou de existir, com o colapso da maioria dos prédios. O abalo sísmico matou 242 mil pessoas, segundo o governo chinês – o recorde entre os terremotos ocorridos no século 20.
Foto: Imago/Xinhua
Erupção riscou cidade colombiana do mapa
O vulcão Nevado del Ruiz, na Cordilheira dos Andes, riscou do mapa a cidade de Armero, em 13 de novembro de 1985, na Colômbia. Uma erupção provocou um degelo, formando uma avalanche de lama e cinza vulcânica que atingiu um raio de 100 km, matando mais de 23 mil pessoas, entre elas, Omayra Sánchez, de 12 anos, que agonizou por 60 horas em frente às lentes do mundo todo sem possibilidade de resgate.
Foto: AP
Diretor de cinema e equipe soterrados por avalanche
Uma avalanche acima do povoado de Nizhny Karmadon, na Rússia, deixou 127 mortos em 20 de setembro de 2002 – entre eles o ator e diretor russo Serguei Bodrov Jr. e a equipe de 24 pessoas que filmavam no local no momento do desastre. Acredita-se que a tragédia tenha sido causada por um pedaço de uma geleira que se soltou das montanhas do Cáucaso e rolou em direção ao vilarejo.
Foto: AP
Mais de 230 mil mortes um dia depois do Natal
Em 26 de dezembro de 2004, um maremoto no Oceano Índico com intensidade 9.1 na escala Richter causou ondas de até 30 metros de altura, que devastaram regiões de 13 países, deixando quase dois milhões de desabrigados e ao menos 230 mil mortos. Somente na província indonésia de Acé morreram 170 mil pessoas.
Foto: Pornchai Kittiwongsakul/AFP/Getty Images
Furacão rompe barragens e deixa cidade debaixo da água nos EUA
Um dos furacões mais conhecidos da história dos Estados Unidos teve efeitos devastadores em Nova Orleans, na Luisiana. Ocorrido em 2005, o Katrina matou cerca de 1.800 pessoas, fez com que 250 mil perdessem suas casas e provocou danos estimados em cerca de 108 bilhões de dólares. Barragens se romperam, deixando 80% da cidade debaixo da água e arrancando até mesmo caixões das sepulturas.
Foto: AP
Ciclone devasta Myanmar e deixa pelo menos 140 mil mortos
O ciclone Nargis afetou, entre outros países, Índia, Sri Lanka, Laos, Bangladesh e, principalmente, Myanmar com sua fúria de categoria 4, em 2 de maio de 2008. Estatísticas apontam que 140 mil pessoas morreram, mas o número real pode ser próximo de um milhão de vítimas.
Foto: IFRC/dpa/picture alliance
Um terço da população afetada por terremoto no Haiti
Não bastasse ser o país mais pobre da América, em 12 de janeiro de 2010 um terremoto de magnitude 7 na escala Richter destruiu a capital do Haiti, Porto Príncipe, deixando cerca de 220 mil mortos e 1 milhão de desabrigados. Entre as vítimas estava a fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Estima-se que 3 milhões de pessoas, quase um terço da população, tenham sido afetadas.
Foto: C. Somodevilla/Getty Images
Enxurrada e deslizamentos matam mais de 900 no Rio de Janeiro
O Brasil não costuma ser assolado por desastres naturais como terremotos e tsunamis. Porém, entre 11 e 12 de janeiro de 2011, uma sequência de chuvas fortes atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, causando uma grande enxurrada e vários deslizamentos de terra, com soterramento de casas. O desastre provocou mais de 900 mortes em sete cidades e afetou mais de 300 mil pessoas.
Foto: AP
Tsunami provoca derretimento de reatores e acidente nuclear no Japão
Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9 seguido de um tsunami causou danos devastadores no Japão. A catástrofe matou pelo menos 16 mil pessoas. Na usina nuclear de Fukushima, os núcleos de três dos seis reatores derreteram, causando o pior acidente atômico desde Chernobyl, em 1986. O tsunami fez com que quase 300 espécies marinhas viajassem através do Pacífico até o litoral dos EUA.
Foto: AP
Dezenas de mortos cercados pelo fogo em estrada de Portugal
Uma onda de calor causou vários incêndios em Portugal em junho de 2017. Ao menos 61 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em um deles, que atingiu a vila de Pedrógão Grande. Corpos de 30 pessoas foram encontrados dentro de veículos, em uma estrada que foi cercada pelo fogo. Mais de 800 bombeiros trabalharam para extinguir as chamas, com a ajuda de cinco aviões.
Foto: Reuters/R. Marchante
Onda de calor deixa 70 mil mortos na Europa
Embora os brasileiros estejam acostumas e preparados para temperaturas que frequentemente chegam a 40°C, a Europa não costumava, até alguns anos, enfrentar esse tipo de problema. Mas uma onda de calor atingiu o continente no verão de 2003, provocando a morte de cerca de 70 mil pessoas – na Alemanha foram 7 mil mortes. Na foto acima, o rio Reno em Düsseldorf.