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'O capital' católico

Wolfgang Küpper (av)1 de novembro de 2008

Arcebispo Reinhard Marx escreveu seu "Capital" como "um apelo pelo ser humano". Embora sem uma receita para vencer a crise, ele se apóia na doutrina social católica e na crença que "Deus é apaixonado pelo ser humano".

O clérigo apresenta seu livroFoto: AP

Seu sobrenome é o do grande comunista. Com o qual, contudo, ele não quer, de forma alguma, ser comparado. O arcebispo Reinhard Marx, de Munique, considera "totalmente erradas" as idéias de seu xará e teme que elas retornem, nestes tempos de crise econômica global. Contra este perigo, o católico especializado em ética social opõe sua concepção de uma economia de mercado social e global, que acaba de publicar sob um título bastante chamativo: O capital.

Marx, o grande inimigo

Todos, até mesmo um católico, têm a aprender com o talento analítico do filósofo Karl Marx (1818-1883), afirma o arcebispo bávaro. Porém Marx não é o mesmo que Marx. Um é o mentor do comunismo e do socialismo, o outro se apóia na doutrina social católica, e conseqüentemente numa outra imagem do ser humano. Esta doutrina tem em Karl Marx seu grande inimigo, "porém o respeita– senão, ele não seria um grande adversário", observa Reinhard Marx.

Diante da atual situação econômica do mundo, o clérigo não poderia ter escolhido uma ocasião melhor para publicar o seu livro, Das Kapital. Ein Plädoyer für den Menschen (O capital – Um apelo pelo ser humano). Segundo ele, entretanto, trata-se de mera coincidência, pois a publicação já estava planejada há mais de dois anos, quando nem havia sinal de crise bancária e financeira.

Mas na época já se podia notar que o Estado social vacilava cada vez mais. Para Reinhard Marx foi importante deixar bem claro: Estado social não é apenas o subproduto de uma boa economia de mercado, mas sim seu pré-requisito. "Só se pode pensar a economia de mercado dentro do Estado social", é sua máxima.

Ser legal não basta

O arcebispo não pode nem quer fornecer receitas prontas para combater a crise. Ele se concentra nos princípios: solidariedade, subsidiariedade (tomada de decisões o mais próximo possível do cidadão), o apoio na razão ao assumir responsabilidades, posicionamento do ser humano no centro das considerações, recusa de se deixar dominar pelo trabalho, o capital ou o Estado.

'O capital' vende bem em épocas de criseFoto: picture-alliance / dpa / AP / Montage DW

Todos estes são princípios da doutrina social católica postulada por Reinhard Marx. Ele rejeita a gana desenfreada de lucros e condena radicalmente os chamados "fundos abutres", embora estes sejam inatacáveis, do ponto de vista jurídica. "Provavelmente alguns dirão: 'Mas a coisa é legal. Ninguém transgrediu nenhuma lei'. Porém isto não basta como justificativa moral. Se só fazemos aquilo a que somos obrigados, estamos moralmente acabados", critica o prelado muniquense.

Importante é também ampliar os horizontes. A reivindicação de igualdade e solidariedade não pode parar nas fronteiras nacionais. "Pois este será o grande tema do século 21. Seremos capazes de pensar o bem-estar global e traduzi-lo em estruturas? Para tal não é necessário um Estado mundial, mas se precisa de elementos de uma política interna global. E esta diz respeito também aos mercados financeiros globais."

Paixão pelo ser humano

O novo livro de Reinhard Marx se dirige a um público amplo. Todos, não apenas o perito em questões sociais, devem poder participar da discussão e absorver os impulsos positivos do autor. Embora a crise mundial ainda esteja longe do fim, não há motivo para um pessimismo sem esperanças, encoraja o arcebispo.

"O campo é complexo. Mas sou incuravelmente confiante, porque sou cristão, bispo e padre. Deus é apaixonado pelo ser humano. Portanto também Ele crê que o homem seja capaz de bondade, de pensar, de amor, de conciliação."