Um parque em Moscou como reflexo da nostalgia soviética
Alexander Kauschanski
16 de setembro de 2019
Capital russa mantém espécie de "país das maravilhas soviético", que glorifica as realizações da antiga URSS. Em meio a uma onda nostálgica no país, governo reavivou o espaço e, com isso, a idealização da era soviética.
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"Eu tenho as melhores lembranças deste parque", recorda a aposentada Lydia Gavrilova. Com um sorriso no rosto, ela observa a Exposição das Conquistas da Economia Nacional (VDNKh, na sigla em russo), um espaço no norte de Moscou antes conhecido como Centro Panrusso de Exposições.
"Durante a era soviética, vínhamos passear aqui com amigos. Ficávamos encantados com os magníficos pavilhões onde as várias repúblicas da União Soviética apresentavam seus artesanatos e suas melhores colheitas." Desta vez, Gavrilova veio sozinha. "Os edifícios monumentais ainda são os mesmos de antes. Mas hoje as pessoas são diferentes. Melhor não ficou", diz ela, amargurada.
O fluxo intenso de visitantes ao parque reflete o que mostram estudos científicos: muitos russos sentem nostalgia da União Soviética. Duas em cada três pessoas na Rússia lamentam o colapso da antiga URSS. Esses dados são de um estudo feito pelo instituto de pesquisa independente Levada-Center. A maior lamentação entre os entrevistados foi o fim do sistema econômico soviético.
Gavrilova também recorda com melancolia os tempos passados, quando compunha canções junto a seus "camaradas" na central elétrica e as cantava coletivamente. "Tudo está diferente hoje", diz ela, enquanto olha em volta. "Já se foram os dias em que as pessoas ficavam felizes com as pequenas coisas da vida. Muitas pessoas hoje estão insaciáveis. Elas querem sempre mais dinheiro, os carros mais caros e residências ostentosas."
O fato de tantas pessoas lamentarem o colapso da União Soviética está aparentemente relacionado aos desenvolvimentos políticos atuais. Como exemplo, a socióloga Karina Pipia, do instituto Levada-Center, mencionou o aumento da idade de aposentadoria – uma medida que teria sido sentida por grande parte da população russa como um "ataque aos benefícios sociais estatais" e que, consequentemente, levou a uma nostalgia pelo estado social soviético.
Idealização da era soviética
Quem entra no terreno da VDNKh está seguindo os passos de uma antiga utopia. Sobre o enorme arco do triunfo na entrada estão estátuas douradas de um trabalhador e de uma fazendeira, que orgulhosamente erguem um ramo de trigo ao céu.
Muitos dos cerca de 100 pavilhões estão decorados com motivos típicos soviéticos. Murais e mosaicos retratam proletários e construtores, estudiosos e agricultores, martelos e foices. Hoje, exatamente 80 anos após sua inauguração, o parque de exposições é uma espécie de museu ao ar livre da URSS.
O local da VDNKh não atrai apenas as pessoas que têm lembranças dos tempos soviéticos. Também jovens visitam o parque, atraídos por festivais gratuitos ao pé da estátua de Lenin. Todos os dias há diferentes apresentações no local, seja de músicos, DJs ou batalhas de rap.
Artjom, de 17 anos, está em pé ao lado do palco. Ele pertence aos chamados "Puteens" – a geração de jovens que nasceram e cresceram nos 20 anos desde que Vladimir Putin assumiu o poder em Moscou. "Conheço a União Soviética apenas pelas histórias de meus pais", diz Artjom. Segundo ele, essas histórias nada têm a ver com a apresentação cafona da VDNKh. "Este parque recreativo não passa de propaganda contemporânea com camuflagem soviética."
Neste segundo semestre, Artjom iniciará a faculdade de medicina. Ele diz não saber o que deseja para o futuro da Rússia. "A situação parece desesperadora. Muitos dos meus amigos querem emigrar, e eu estou pensando nisso também", afirma. Pesquisas mostram que mais de 40% dos jovens na Rússia preferem morar no exterior.
A memória coletiva da União Soviética é a área de pesquisa da socióloga Valeria Kasamara. Segundo ela, a maioria dos jovens sabe pouco sobre a URSS. Um dos estudos de Kasamara apontou que os jovens russos idealizam a vida na União Soviética, embora não tenham ideia de como resolver os atuais desafios na Rússia.
História polida e embelezada
A memória soviética na VDNKh em Moscou ostenta novamente um brilho próspero. Logo após o colapso da União Soviética no início dos anos 1990, a área caiu no esquecimento e decaiu gradativamente. O parque foi privatizado, delinquentes saquearam pavilhões de exposições, e camelôs vendiam eletrônicos contrabandeados e imitações de couro.
Nos anos 2000, o governo de Putin mostrou um interesse crescente em reavivar a herança soviética. Em 2013, a administração municipal de Moscou comprou todo o parque de investidores privados e, desde então, tem se ocupado em renová-lo, limpá-lo e ocupá-lo com novas tarefas. Por exemplo, uma repartição municipal de última geração foi instalada no Pavilhão da Rússia, e no complexo de Technograd é ensinado o manuseio de impressoras 3D.
No entanto, alguns trabalhos de modernização são controversos: muitos moscovitas estão indignados com a reforma das fontes no terreno. O alto custo seria desproporcional ao reparo de aparência barata.
Hoje em dia, o parque incorpora o desejo de preservar o passado. Conquistas e realizações novas e antigas são exibidas. No Pavilhão 57 está exposta a mostra "Rússia – minha história", na qual o terror stalinista é retratado como um "mal necessário".
Como nos livros de história soviéticos, as atrocidades são ocultadas e as realizações, glorificadas. Não há na VDNKh o estímulo a um debate crítico sobre a União Soviética. Em vez disso, emblemas dourados de foice e martelo são vistos por todo o parque. No esplendor dos velhos tempos.
Até a queda do Muro de Berlim, em 1989, um terço da população mundial vivia em países comunistas. Após o colapso da União Soviética, teve início um processo de revisão histórica e construção de monumentos.
Foto: picture alliance/dpa/P. Zinken
República Tcheca: Monumento às Vítimas do Comunismo
Sete esculturas em bronze de pé sobre uma escadaria branca na base do Monte Petřin, em Praga. O memorial inaugurado em 2002 é do escultor e ex-preso político Olbram Zoubek. Segundo a inscrição no pedestal, o monumento não é apenas dedicado àqueles "que foram presos ou executados, mas também a todos aqueles que tiveram suas vidas destruídas pelo despotismo totalitário".
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Alemanha: Memorial de Hohenschönhausen
Entre 1951 e 1989, mais de 11 mil pessoas passaram pela antiga prisão da Stasi, polícia secreta da ex-Alemanha Oriental comunista. Antes, o terreno em Berlim foi usado pelas forças de ocupação soviéticas como entreposto para suspeitos de serem opositores do regime. De lá, entre outros destinos, os detentos eram transferidos para o campo de concentração de Sachsenhausen, construído pelos nazistas.
Foto: picture alliance/dpa/P. Zinken
Romênia: Lembrando a resistência
Em 2016, o monumento do escultor Mihai Buculei foi erigido sobre o pedestal de uma estátua derrubada de Lênin em Bucareste. A obra, que tem 20 metros de altura e é composta por três asas de aço inoxidável, foi colocada diante de um dos edifícios mais importantes da era Stalin, na atual "Praça da Imprensa Livre". A iniciativa para a instalação foi da associação de ex-presos políticos.
Foto: Florian Kindermann
Albânia: "Casa das Folhas"
Em Tirana, o primeiro memorial erigido após a deposição do regime stalinista foi inaugurado em 2017. Durante a ocupação pelos nazistas, os alemães usaram o edifício como prisão. Quando os comunistas assumiram o poder em 1945, o local era palco de torturas e assassinatos. Mais tarde, a "Casa das Folhas" – chamada assim por causa das trepadeiras na fachada – foi usado pela polícia secreta.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Geórgia: Museu da Ocupação Soviética
Em Gori, sua cidade natal, o ditador soviético Josef Stalin ainda possui uma aura heroica no museu que leva seu nome – 65 anos após sua morte e 27 depois da reconquista da independência. Porém, já há planos de rever a exposição. Os crimes cometidos sob o comando de Stalin só foram tematizados a partir de 2006 no museu nacional em Tbilisi.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Cazaquistão: vítimas da fome
Em 1932/33, um milhão e meio de cazaques foram vítimas de uma catástrofe de fome causada por má administração e pela coletivização forçada de propriedades na União Soviética. O conjunto de esculturas em Astana homenageia os mortos. A obra foi inaugurada em 31 de maio de 2012, dia nacional em memória às vítimas de repressões políticas.
Foto: Dr. Jens Schöne
Letônia: Monumento da Liberdade
A figura feminina sobre obelisco de 19 metros de altura em Riga, capital da Letônia, é popularmente conhecida como "Milda". A obra foi construída nos anos 1930, antes da ocupação soviética em 1940. Para os letões, a estátua é o símbolo fundamental do desejo por liberdade e autonomia. Ao longo do tempo, sempre voltou a ser ponto de partida de protestos e resistência.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Mongólia: perseguição política
O país situado entre Rússia e China sofreu exploração e domínio estrangeiro por quase todo o século 20. Tanto política quanto economicamente, dependeu da União Soviética pela maior parte do tempo. O Museu Memorial das Vítimas de Perseguição Política foi inaugurado em 1996 em Ulan Bator. Um ano depois, foi criado o Memorial.
Foto: Torsten Baar
Coreia do Sul: "Ponte da Liberdade"
A ponte construída sobre o rio Imjin já no início do século 20 é a única ligação entre as duas Coreias. Durante a Guerra da Coreia (1950-1953), teve grande importância militar. No lado sul, é possível chegar à barreira por um píer de madeira. Muitos visitantes deixam bandeiras e mensagens pessoais no local.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Camboja: vítimas do Khmer Vermelho
Estima-se que cerca de 2,2 milhões de cambojanos tenham morrido durante o regime sangrento do Khmer Vermelho – o equivalente a cerca de metade da população. Depois da invasão das tropas também comunistas do Vietnã, ossadas e crânios foram expostos publicamente para documentar os crimes. Muitas valas coletivas não foram encontradas até hoje.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Estados Unidos: "Deusa da Democracia"
A estátua inaugurada em 2007 em Washington é uma reprodução da "Deusa da Democracia" erigida por estudantes chineses em 1989 durante os protestos que acabaram sendo fatais na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim. Além de políticos locais, ativistas pela liberdade como Václav Havel e Lech Wałęsa também se empenharam na criação do monumento na capital americana.
Foto: Prof. Dr. Hope Harrison
Estados Unidos: as vítimas de Katyń
Numa floresta no vilarejo de Katyń, na Rússia, soviéticos executaram 4.400 presos de guerra poloneses – em sua maioria, oficiais – em 1940. Na Polônia, o massacre é sinônimo para uma série de genocídios. A iniciativa para a criação do memorial em New Jersey, dedicado a todas as vítimas do comunismo soviético, partiu de imigrantes poloneses nos EUA.