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Um passeio pela Berlim de David Bowie

Gavin Blackburn (mas)14 de março de 2013

Um passeio guiado mostra aos fãs onde o "camaleão do rock" vivia, trabalhava e se divertia nos tempos em que a cidade ainda era dividida pelo Muro.

Foto: Getty Images

É preciso dedicação, e também alguma coragem, para enfrentar as temperaturas abaixo de zero do inverno alemão e perambular pela fria e úmida Berlim sem quase nenhum raio de sol colorindo o céu.

Mas os fãs de David Bowie tiram de letra essas pequenas inconveniências diante da oportunidade de conversar sobre o ídolo por algumas horas e, principalmente, recriar os passos dele pela Berlim do final dos anos 1970, quando ele viveu na cidade.

O Berlim Bowie Walk é um passeio guiado organizado pelo DJ Mike West. A jornada começa em uma estação de metrô no bairro de Neukölln. O ponto de encontro do grupo não está diretamente relacionado à carreira de Bowie. O local é central e conveniente, mas também pode servir como tributo à faixa instrumental Neuköln, do disco Heroes, de 1977.

Drogas, celebridades e discos

O passeio guiado é feito por aproximadamente 20 pessoas – a maioria fãs de Bowie, claro. Depois de uma pequena introdução, o grupo segue em direção à estação de Kleistpark. A primeira parada fica na Hauptstraße 155, endereço de Bowie no período em que ele viveu em Berlim.

"Por que ele se mudou para Berlim?", pergunta West ao grupo. "Bem, havia muitas razões. Ele se interessava muito pela história da República de Weimar e também pela cena musical alemã na época: krautrock, bandas como Tangerine Dream e Kraftwerk. Naquele ponto de sua carreira, ele também estava quase todo o tempo sob o efeito de drogas. Ele veio para Berlim para ser anônimo e ficar sóbrio."

Hauptstraße 155, no bairro de Schöneberg, foi o endereço de Bowie em BerlimFoto: DW/ G. Blackburn

O anonimato oferecido pela curiosa atmosfera da Berlim Ocidental da Guerra Fria foi algo que Bowie, uma das maiores estrelas do mundo da música na época, altamente valorizava. A atitude da cidade em relação a celebridades era – e continua sendo – tranquila. Em geral, os berlinenses não se impressionam muito com pessoas famosas.

Mike relembra uma história da época que dizia que os fãs não perseguiam Bowie pelas ruas, mas ficavam em frente às lojas de discos que ele frequentava e, assim que ele saía, entravam e compravam os mesmos discos que o ídolo havia acabado de comprar.

O passeio continua a apenas algumas casas do antigo apartamento de Bowie – no café Neues Ufer (nova margem). Na época de Bowie, o aconchegante bar era chamado Anderes Ufer (outra margem), mas o nome também pode ser interpretado como "outro lado" – uma referência ao fato de o local ter sido um dos primeiros bares abertamente gays da Europa.

O Anderes Ufer era frequentado por Bowie e seu parceiro musical da época, Iggy Pop. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os dois moravam no mesmo prédio, mas não no mesmo apartamento. Dentro do bar há uma pequena galeria com objetos relacionados a Bowie.

Beijo junto ao muro

Depois do passeio pelo bairro de Schöneberg, o grupo pega um ônibus em direção à Potzdamerplatz. O que hoje é um dos pontos turísticos mais modernos de Berlim era, no final dos anos 1970, uma espécie de beco sem saída, uma área deserta e árida.

Assim que o grupo se reúne onde antes passava o Muro de Berlim, West explica que o local é citado numa das músicas mais conhecidas de Bowie. "I, I can remember, standing by the Wall, and the guns shot above our heads, and we kissed as though nothing could fall." (eu, eu me lembro, de pé junto ao Muro, e as armas dispararam sob nossas cabeças, e nos beijamos, como se nada pudesse cair, em tradução livre do inglês). Os versos fazem parte de Heroes, uma das mais famosas músicas de Bowie, que tem também uma versão em alemão.

Ao lado de Iggy Pop, o músico frequentava o primeiro bar abertamente gay da EuropaFoto: DW/ G. Blackburn

"Há uma história interessante sobre o casal se beijando na música", explica West. "Os estúdios Hansa ficam bem perto daqui, e diz a lenda que Bowie estava na sacada olhando um casal se beijando junto ao Muro. Quando a imprensa perguntou quem eles eram, ele disse 'apenas um casal qualquer'. Na verdade o casal era formado pelo guitarrista Tony Visconti, que também produziu alguns dos álbuns de Bowie, e uma das backing vocals. Bowie não podia revelar a identidade do casal porque Visconti era casado e ele não queria acabar com o casamento."

A próxima parada são os estúdios Hansa, onde West descreve o pioneiro e experimental som que Bowie desenvolveu com o produtor Tony Visconti – particularmente o cavernoso som de bateria que ele criou com o um harmonizador Eventide. West também explica que o local era usado por bandas alemãs, mas foi Bowie quem popularizou o estúdio.

Bowie em cena do filme berlinense Christiane F.Foto: picture alliance / United Archives/IFTN

Depois de uma caminhada, o grupo está em frente ao Portão de Brandemburgo, com uma vista para a Platz der Republik. A praça, em frente ao prédio do Parlamento alemão, marcou o retorno de Bowie a cidade em 1987 para o Concert for Berlim Festival.

Bowiemaníacos

Apesar do frio e de uma ou outra reclamação a respeito das informações oferecidas, o grupo de fãs do cantor inglês ficou satisfeito com o passeio por Berlim.

"Foi ótimo", disse uma turista da Dinamarca. "Penso que Berlim mudou muito desde que Bowie viveu aqui, então foi interessante ver como era. O local que ele costumava frequentar é bem diferente de onde vivem os artistas em Berlim hoje."

"O passeio nos levou a novas áreas da cidade, onde nunca havíamos estado", declarou um americano que fazia o trajeto com a namorada. "Estamos em Berlim há nove meses. Foi interessante ouvir sobre o primeiro café abertamente gay da Europa. Aprendemos muitas coisas novas."

Para o guia Mike West, uma das principais vantagens do passeio é oferecer a oportunidade de os fãs estarem juntos, conversarem sobre o ídolo e, o mais importante, trocar informações.

O DJ e guia Mike West maquiado como seu ídoloFoto: Zoe Noble

"Quando fiz o primeiro passeio, era somente eu falando sobre o Bowie", disse West. "Eu não sou um guia turístico profissional. Estou sempre descobrindo novas informações a respeito dele. O passeio está evoluindo constantemente."

West tem planos de organizar um Bowie Pub Crawl (maratona de bares), dando aos participantes não só a chance de beber nos bares onde o "camaleão do rock" costumava estar, mas também oferecer a oportunidade de eles se vestirem como o ídolo. Os diferentes visuais criados por Bowie durante as últimas cinco décadas são uma fonte abundante de ideias.

"Recebemos todos os tipos de participantes: turistas, pessoas que vivem aqui há anos, berlinenses que estavam aqui quando Bowie vivia aqui. É bacana porque todo mundo se diverte, e eu fiz amigos com o passeio. Não se trata apenas de falar sobre Bowie, mas de conversar com pessoas que tem interesses comuns", completou West.

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