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'Um povo que mata os filhos'

Jürgen Liminski (av)11 de maio de 2008

O cardeal Joachim Meisner, de Colônia, é conhecido por suas tiradas críticas sobre a atualidade. Numa entrevista à DW-RADIO, o prelado católico se choca de frente com a política e a sociedade da Alemanha.

Cardeal Meisner no Carnaval de ColôniaFoto: AP

DEUTSCHE WELLE: Eminência, hoje é Pentecostes, oficialmente a festa da descida do Espírito Santo. Um padre do século passado, santificado pela Igreja, certa vez definiu o Espírito Santo como "o grande desconhecido". Como o senhor denominaria este desconhecido ou o explicaria a um povo, do qual mais de um terço é ateu e outro terço certamente não tem a menor idéia de religião?

Cardeal Joachim Meisner: Sempre foi difícil explicar o Espírito Santo, pois o espírito não tem rosto – de início. O espírito de Deus ganha um rosto quando estamos plenos do Espírito Santo, portanto nos santos. Pode-se perceber o que é o Espírito Santo vendo a Madre Teresa, no papa João Paulo 2º, em Charles de Foucauld – nas grandes figuras da Cristandade.

Em sua opinião, não seria necessário – se não santos – pelo menos mais espírito na política? E em caso positivo, em que temas?

O Espírito Santo é para o mundo o que o ar é para nossa Terra. Há alguns anos houve uma declaração entre a Igreja católica e luterana, com o título Deus é o amigo da vida. Tratava da santificação da vida, da concepção à morte. E aí deparamos com um povo esquecido pelo espírito, que mata seus filhos. E por isso a situação é esta, hoje em dia: temos poucas crianças, muitos alemães emigram, tantos como nunca. E jamais o número de imigrações caiu tanto. Um povo que aniquila a vida dentro de si mesmo. Este é o balanço diante do qual nos encontramos. É claro que isso deveria fazer com que os políticos finalmente acordem. Assim não pode continuar.

No tocante ao tema "aborto", ocorrem algumas mudanças nos partidos com "C" [democratas- e social-cristãos, da coalizão de governo]. Sobre o tema "pesquisa de células-tronco" houve um grande debate público, cujo resultado certamente não lhe agradou. O que pode fazer um partido "C" que está comprometido com uma grande coalizão?

Bem, sou da opinião de que, se por exemplo, a presidente do partido "C" [premiê Angela Merkel, da CDU] e a ministra na grande coalizão que traz a responsabilidade por esta área e que igualmente se inclui no partido "C" [Ursula von der Leyen, da Família], se elas houvessem tomado uma posição clara, o resultado possivelmente haveria sido bem outro. E, tenho que dizer, é uma enorme lástima. O que espero do membros do partido "C" é que, na vida privada e pública, eles se esforcem por viver de acordo com o Evangelho, quer seja conveniente, quer não.

A política se imiscui na família?

Acho terrível a forma como a família é vista, sobretudo do ponto de vista da economia. Tudo o mais na família tem que se curvar ao aspecto econômico. E deveria ser exatamente o contrário.

Fervor em massa durante a Jornada Mundial da Juventude 2005Foto: dpa

Os estudiosos – mesmo os liberais e desligados da Igreja – percebem um retorno do religioso. Constata-se uma necessidade crescente de certezas que dêem sentido e confortem, subiu a cotação dos valores [humanos, espirituais] no mercado. Mas, ao mesmo tempo, se constata que apenas 4% dos cidadãos da Alemanha lêem o Livro dos Livros com freqüência, 9% uma vez por outra, e só 25% raramente. Apenas pouco mais da metade das pessoas abaixo dos 30 anos sabe o que é a Última Ceia. Menos da metade tem alguma idéia sobre a Torre de Babel. Tais números contrastam com os megaeventos dos últimos anos, também aqui em Colônia. Costuma-se dizer que o espírito sopra onde e como quer. Em sua opinião, onde sopra o espírito na geração jovem?

Dizem que nossa sociedade "fumega" de religião. Isso está longe de ser cristianismo, mas aqui se assinala uma intranqüilidade entre as pessoas que não pode ser saciada só pela economia. Por ser imagem e semelhança do Senhor, o ser humano precisa transcender a si mesmo.

Na qualidade de cristãos – e os jovens nos dão o exemplo hoje em dia – temos que partir novamente para a ofensiva. Temos que ir novamente às ruas. Pense só: de cada cinco pessoas que encontramos, praticamente três estão batendo em retirada, voltando de um passado cristão e agora soletrando o sentido de suas vidas. Mas ninguém está lá para lhes perguntar, para entrar junto em suas vidas e tentar explicar o seu sentido. Esta é a imagem de uma Igreja em marcha. E aqui – os jovens entenderam – "Juventude 2000", saiam algumas vezes por ano às ruas de Colônia e sejam missionários. E há outros que fazem o mesmo. Nesse ponto, podemos aprender muito com os jovens.

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