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Um referendo sobre Lula

4 de outubro de 2018

Bolsonaro ou Haddad-Lula? No próximo domingo, sairá vencedor das urnas o candidato à Presidência menos odiado pelos brasileiros, escreve o colunista Thomas Milz.

Partidário de Lula em comício de Haddad no Rio de Janeiro
Partidário de Lula em comício de Haddad no Rio de JaneiroFoto: Reuters/P. Olivares

Seria surreal se não fosse verdade. Dois candidatos foram determinantes na fase crucial da campanha eleitoral, que agora se encaminha para o fim, sem sequer terem estado presentes nela. Todos os demais, que corajosamente se digladiaram de debate em debate na TV, não terão chance. A contribuição deles em termos de conteúdo não desempenhará papel algum.

Jair Messias Bolsonaro, um dos que não estiveram presentes, ficou internado durante quase todo o mês de setembro após ser esfaqueado. O outro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permaneceu atrás das grades – assim como nos cinco meses anteriores. Neste ano de 2018, parece não ter importância se um candidato está ou não fisicamente presente na campanha eleitoral. Ou se ele – como no caso de Lula, barrado pela Justiça – pode ou não ser candidato oficialmente.

Em 7 de outubro, o Brasil vai decidir sobre Lula. Quem o considera um vilão e odeia tudo o que ele representa vota em Bolsonaro. Quem odeia tudo aquilo contra o que Lula se coloca – começando pelo presidente Michel Temer, passando pela Justiça, promotores e juízes, até os militares – vota em Lula. Ou seja, em Fernando Haddad. Agora depende de quem é retratado como mais odioso: o "fascista e racista" Bolsonaro ou o "comunista" Lula.

Em ambos os casos, trata-se da figura de Lula, e não da de Bolsonaro. Pois Bolsonaro só existe politicamente, sobretudo, por causa de Lula. Ele deve sua ascensão, em primeiro lugar, ao ódio que manifestou publicamente contra todas as mudanças que Lula e o PT trouxeram ao Brasil. Mais tarde, inflamou sua base com os apelos para que Lula fosse para a cadeia.  Quando isso aconteceu, Bolsonaro reajustou suas mensagens em vídeo: agora se tratava de impedir que Lula fosse libertado por um presidente Haddad e continuasse seu plano de transformar o Brasil numa nova Cuba.

Enquanto isso, o candidato substituto do PT, Haddad, se apresenta como um outdoor ambulante de Lula. O ex-presidente pediu repetidas vezes que não fosse julgado pela Justiça – isto é, pelo juiz federal Sérgio Moro –, mas sim pelo povo brasileiro. Nas urnas, e não num tribunal. E é isso o que Lula receberá agora. No próximo domingo – ou no mais tardar no segundo turno, em 28 de outubro – o povo vai proferir a sentença sobre o ex-presidente.

Para alguns, Lula é o maior brasileiro de todos os tempos; para outros, o maior vilão. Ambos os lados têm suas opiniões reforçadas pelas redes sociais. Informações objetivas, soluções construtivas e contribuições sensatas para o debate não são oferecidas. Geralmente, há apenas veneno puro, pulverizado sem piedade sobre o arqui-inimigo político.

Há muito tempo não se trata mais de conteúdo, da política econômica acertada, de uma melhora da educação e da saúde. Nada disso vai decidir as eleições, nada disso é importante. O que conta é prejudicar o outro, com puro ódio. Não há espaço para mais informações nas postagens no Facebook, assim como não há vontade de debater.

Estas são as primeiras eleições no Brasil cujos temas não são mais norteados pela imprensa tradicional. Agora, dominam grupos anárquicos no Whatsapp e postagens no Facebook sobre o fluxo de (des)informação, e quase ninguém mais sabe o que é falso nas notícias. E isso também não interessa. Porque o fake está na moda, e a verdade foi há muito tempo substituída pelo instinto. As eleições serão vencidas por aquele que conseguir meter medo e pintar o inimigo de forma ainda mais odiosa do que ele próprio é visto pelo adversário.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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