1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Um suicídio pressiona Blair

rw20 de julho de 2003

Contrário à invasão do Iraque, executada pela aliança britânico-americana, o governo de Berlim não se pronuncia sobre a morte do microbiologista David Kelly. Premiê Tony Blair pressionado. A imprensa alemã opina.

Morte de Kelly leva governo Blair à sua pior criseFoto: AP

"Mesmo sem deixar uma carta de despedida, o controlador de armas britânico David Kelly deixou um testamento: o dossier de Tony Blair de setembro último, sobre as supostas armas atômicas, químicas e biológicas do Iraque, quase sem sombra de dúvidas informou em um ponto, planejada- e propositalmente, de forma errônea a opinião pública", comenta o jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique, referindo-se à morte de David Kelly.

Não interessa se Alastair Campbell, porta-voz e confidente do premiê Toni Blair, tenha ordenado que o dossier sobre as armas do Iraque fosse tornado mais 'sexy', se o serviço secreto britânico não fez um trabalho sério ou se a guerra foi legítima por outros motivos.

A questão é muito mais até que ponto um governo pode ir para conquistar o apoio da população quando quer justificar uma guerra. E a partir de que ponto ele pode se sujeitar à acusação de provocador de um conflito. Justamente destes temas o ministério britânico da Defesa pretendia desviar a atenção ao usar Kelly praticamente como granada de efeito ofuscante, escreve o jornal bávaro.

Bode expiatório

"O canto solitário num bosque de Osfordshire onde Kelly se suicidou estende uma longa sombra sobre o governo Blair, sobre a busca pelas fantasmagóricas armas de destruição em massa do regime iraquiano e sobre a polêmica entre o Estado-Maior de Blair e a BBC em relação ao conflito no Iraque", comenta o Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), para o qual Kelly foi um bode expiatório que acabou triturado pela máquina da propaganda.

Local onde o corpo foi encontradoFoto: AP

O microbiologista britânico, de 59 anos, havia sido inspetor de armas da ONU no Iraque depois da Guerra do Golfo, entre 1991 e 1998, e era conselheiro do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha. Ele havia sido apontado pelo governo britânico como a fonte que teria dado à BBC informações sobre o programa de armas do Iraque, o que foi contestado pelo cientista.

Desaparecido na quinta-feira (17), o cientista foi encontrado morto no dia seguinte. Seu corpo foi encontrado ao lado de um bosque, com um corte no pulso esquerdo.

No final de semana, a BBC confirmou ter sido ele a fonte para a matéria que apontava o chefe da assessoria de imprensa do premiê Tony Blair, Alastair Campbell, como responsável pelos "exageros" no dossiê apresentado pelo governo em setembro sobre as armas em poder do Iraque. Elas foram usadas como argumento para a operação militar de março último, ao lado dos Estados Unidos.

A família de Kelly afirmou que ele estava sob forte tensão depois de ter sido interrogado por uma comissão parlamentar em Londres sobre a forma como o governo britânico justificou a invasão ao Iraque. Pressionado, o primeiro-ministro Tony Blair, em viagem pelo Japão, afirmou que não vai renunciar.

Pular a seção Mais sobre este assunto

Mais sobre este assunto