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Um tabu de meio século e um trauma inglês

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
29 de junho de 2021

Um dos maiores clássicos do futebol mundial tem uma longa história de rivalidade e uma maldição que já dura desde 1966, última vez que a Inglaterra superou a Alemanha no lendário estádio de Wembley.

Geoff Hurst chuta para marcar o gol decisivo da final da Copa do Mundo de 1966Foto: Getty Images/Hulton Archive

No dia do histórico clássico entre Inglaterra e Alemanha, fortes emoções vêm à tona e impactam os ânimos de jogadores e torcedores. Foi, é e continuará sendo um dos maiores confrontos do futebol europeu e mundial.

A última vez que a Inglaterra derrotou a Alemanha em Wembley em jogo oficial foi na final da Copa do Mundo de 1966. A partida já estava na prorrogação, e o placar anotava 2x2. Decorridos 11 minutos do tempo complementar, Geoff Hurst finalizou à curta distância, o goleiro Hans Tilkowski ainda conseguiu desviar para a borda inferior do travessão, de onde a bola quicou na linha do gol antes de o zagueiro Wolfgang Weber ter afastado o perigo.

O juiz suíço Gottfried Dienst vacilou e, em vez de marcar o escanteio, foi em direção ao bandeirinha Tofik Bachmarov, que confirmou: "It's goal, goal, goal". Esse gol entrou para a história do futebol mundial como o Wembley-Tor, palavra em alemão que significa Gol de Wembley.

Para os ingleses foi uma benção e maldição ao mesmo tempo. Benção porque abriu o caminho para o único título mundial da seleção Three Lions, conquistado em sua própria casa, no lendário templo do futebol inglês. Maldição porque desde então, toda vez que a Inglaterra joga contra a Alemanha em partidas oficiais, ela sai de campo sem o sabor de uma vitória. É um tabu que já dura mais de meio século.

Três derrotas em casa

Desde aquela última derrota que sofreram por lá, em 1966, os alemães enfrentaram os ingleses três vezes em partidas oficiais em Wembley. Ganharam todas.

A primeira vitória em solo inglês da Mannschaft foi em 1972 pelas quartas de final do torneio europeu. Uma vitória categórica e inesquecível em Wembley por 3x1, já anunciando a conquista do título dois meses mais tarde em cima da União Soviética (3x0), além de prenunciar o triunfo na Copa do Mundo de 1974.

Especialmente dolorosa para o English Team foi a derrota sofrida em 2000 pelas eliminatórias europeias. Foi a última partida realizada no antigo Wembley Stadium, que daria lugar à uma nova arena no mesmo lugar. Didi Hamann encarregou-se de bater uma falta a 30 metros do gol defendido por Dave Seaman, que aceitou e engoliu um frangaço: 1x0 Alemanha.

E quem não se lembra da semifinal da Euro de 1996? Trinta anos depois do Wembley-Tor, o jogo terminou em 1x1 e foi para a decisão por cobrança de penalidades máximas. O placar nos pênaltis estava 5x5 quando Gareth Southgate (atual técnico da Inglaterra) foi para a bola, bateu mal e desperdiçou. O goleirão Andreas Köpke (atual treinador de goleiros da Alemanha) defendeu sem maiores dificuldades. Em seguida, Andreas Möller não perdoou, comemorou o tri europeu e foi para o abraço com seus companheiros de time.

Importância dos pênaltis

O trauma inglês de ser eliminado de uma competição na decisão por penalidades máximas começou na Copa do Mundo de 1990, quando, na semifinal em Turim, encarou a Alemanha. Stuart Pierce não superou o goleiro Bodo Illgner, enquanto os alemães converteram todas suas cobranças. A Alemanha foi à final contra a Argentina, quando levantou a taça pela terceira vez.

Southgate, desde 2016 no comando da seleção inglesa, espera um jogo difícil contra a Alemanha nesta terça-feira (29/06), mas ao mesmo tempo está confiante porque considera que sua equipe está muito bem preparada, até mesmo para a eventual cobrança de pênaltis. Desde que Southgate assumiu o comando técnico do time, talvez marcado pelo seu trauma pessoal em 1996, treinou seus jogadores exaustivamente nesse quesito. E foi bem-sucedido.

Nas oitavas de final da Copa da Rússia, em 2018, eliminou a Colômbia nos pênaltis (4x3), e na disputa pelo terceiro lugar na Liga das Nações em 2019 superou a Suíça (6x5).

Southgate acredita que, "neste jogo, a minha equipe poderá escrever história e fornecer ao torcedor boas lembranças do duelo entre Alemanha e Inglaterra, lembranças bem diferentes daquelas dos últimos anos, quando fomos superados”. É verdade. Dos últimos quatro duelos oficiais de mata-mata em grandes torneios contra a Alemanha, a Inglaterra não venceu nenhum.

E os alemães? Joshua Kimmich, por exemplo, encara o confronto com seu natural espírito crítico: "Tem coisa pior na vida do que jogar em Wembley contra a Inglaterra”. Já Thomas Müller se emociona com o mito Wembley e a história das partidas entre as duas grandes nações do futebol: "Confesso que vira e mexe sou tomado por lembranças nostálgicas e mágicas daquela partida em 2010 na África do Sul, quando vencemos por 4x1 e jamais vou esquecer Wembley, que me proporcionou o triunfo inesquecível na final da Champions League”.

A aura que envolve Wembley não passa desapercebida pelos jogadores. Tem um efeito mágico. Basta ouvir o que dizem sobre o estádio. Parece que estão falando sobre um templo milenar, e quando o adversário se chama Inglaterra, os jogadores alemães tem certeza de que estarão escrevendo história.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.