Um terço dos brasileiros desconhece crise na Venezuela
12 de abril de 2019
Pesquisa Datafolha aponta que, entre os que dizem conhecer a situação do país vizinho, 54% são contra envolvimento do Brasil numa intervenção militar para derrubar o regime de Nicolás Maduro.
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Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta sexta-feira (12/04) aponta que cerca de um terço (35%) dos brasileiros desconhecem a crise econômica e social enfrentada pela Venezuela.
Segundo o levantamento, 65% responderam que têm conhecimento do que se passa no país vizinho, que sofre com a hiperinflação, a decadência dos serviços do Estado e um crescente autoritarismo do regime chavista de Nicolás Maduro.
Dos que responderam estarem informados sobre a crise venezuelana, os maiores índices foram verificados entre os mais instruídos (89%), os mais ricos (89%) e os moradores da região Sul do Brasil (76%).
Entre esses 65% que afirmaram ter conhecimento da situação na Venezuela, a maioria não concorda que o Brasil participe de uma eventual invasão militar e envie tropas ao país vizinho para derrubar o regime de Maduro. Ao todo, 54% dos entrevistados desse grupo responderam "não" à pergunta "caso ocorra uma invasão militar na Venezuela, o Brasil deveria enviar tropas?", enquanto 43% responderam "sim".
Por enquanto, o governo brasileiro continua, oficialmente, a se posicionar contra de uma intervenção militar no país. Na quinta-feira, durante uma audiência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse ser contra qualquer intervenção na Venezuela. Na segunda-feira, o vice-presidente, Hamilton Mourão, também havia refutado a possibilidade.
Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro tem emitido sinais contraditórios, ora descartando completamente qualquer intervenção, ora afirmando que "todas as possibilidades estão na mesa", mas sem defender abertamente uma invasão – uma posição semelhante à do governo dos Estados Unidos.
Tanto o Brasil como os EUA, junto com cerca de outros 50 países, reconheceram o oposicionista Juan Guaidó como o presidente legítimo da Venezuela em uma tentativa de isolar ainda mais o governo Maduro.
Refugiados venezuelanos
Outro tema abordado pela pesquisa Datafolha envolve o acolhimento de refugiados da Venezuela. Segundo o levantamento, 68% dos brasileiros que conhecem a situação da Venezuela afirmaram que o Brasil deveria receber refugiados venezuelanos. Outros 27% são contra, e 4% são indiferentes ou não souberam responder.
Ainda segundo a pesquisa, o índice de pessoas favoráveis ao acolhimento é superior entre os mais instruídos (79%) e jovens (77%). Entre os que rejeitam, as taxas mais altas foram registradas entre os mais velhos (36%) e menos instruídos (37%).
Segundo a agência da ONU para refugiados (Acnur), há 3,4 milhões de refugiados venezuelanos – e o número deve continuar a subir.
No Brasil, há 94,8 mil venezuelanos que solicitaram refúgio, e 64,7 mil que pediram residência temporária, segundo números da Acnur. Os números são bem mais baixos que os da Colômbia (1,1 milhão) e Peru (506 mil), mas a entrada crescente de venezuelanos vem sobrecarregando o isolado e pobre estado de Roraima, na fronteira com o país vizinho.
A pesquisa Datafolha foi realizada nos dias 2 e 3 de abril e ouviu 2.086 pessoas em 130 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
JPS/ots
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Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.