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Esporte

Uma Alemanha longe da Bundesliga, até hoje

28 de maio de 2019

Desde 2009, nenhum clube tradicional do Leste alemão dava as caras na Bundesliga. Este jejum de uma década se encerra agora, com o ascenso histórico do Union Berlin. Mas a distância entre "os dois lados" permanece.

Torcida invade o campo para celebrar a subida histórica do Union Berlin
Torcida invade o campo para celebrar a subida histórica do Union BerlinFoto: picture-alliance/dpa/Bildfunk/A. Gora

Houve um tempo em que os tradicionais clubes do leste da Alemanha (DDR) chegaram até a disputar copas europeias. Em 1974, por exemplo, o Magdeburg foi campeão da Recopa ao derrotar o Milan por 2 a 0. Naquela década, a seleção da Alemanha Oriental também teve algum sucesso.

Nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, abocanhou a medalha de bronze e, quatro anos mais tarde, em Montreal, foi campeã olímpica. O incentivo ao esporte em geral e, ao futebol em particular, se tornou uma das marcas registradas do regime comunista da DDR. A vitória sobre a Alemanha Ocidental no Mundial de 1974 foi festejada como se fosse um triunfo sobre o capitalismo.

Imaginava-se que a partir destes sucessos poderia haver um desenvolvimento acentuado do futebol praticado na Alemanha Oriental. Entretanto, isto não aconteceu. Os clubes eram geridos de forma amadora, muitas vezes por quadros do partido governista que pouco ou nada entendiam do futebol como negócio.

Além disso, havia uma intervenção política permanente nos clubes, já que eles eram financiados pelo próprio Estado, seja através da Stasi, do Exército ou das grandes empresas estatais. Os jogadores que, no papel, tinham status de amadores, recebiam seu salário dessas empresas onde constavam como funcionários.

A deterioração política e econômica da DDR ao final da década de 80 resultou na queda do Muro de Berlim. Um ano mais tarde veio a Reunificação, que acabou representando a pá de cal no que restou do futebol da Alemanha Oriental.

Nenhum clube que em 1989 ainda disputava a Oberliga (1ª divisão da DDR), conseguiu-se estabelecer permanentemente na Bundesliga depois da Reunificação.

O Dynamo Dresden aguentou apenas as três primeiras temporadas de 1991 a 1993. Atualmente está na segunda divisão.

O Energie Cottbus ficou, com interrupções, por sete temporadas no futebol de elite. Caiu demais e em 19/20 vai jogar na Liga Regional Nordeste, equivalente à quarta divisão.

O Hansa Rostock esteve por mais tempo na Bundesliga. Seu maior período foi de 1995 a 2005. Em 2007 ainda conseguiu voltar mais uma vez, mas não resistiu. Desde 2008 vagueia pelas divisões inferiores e atualmente está na terceira divisão e, pelo visto, não sairá de lá tão cedo.

Outro fator determinante no esfacelamento dos tradicionais clubes da DDR foi a atuação de agentes da Alemanha Ocidental que visavam primordialmente a obtenção de altos ganhos e se lançaram tal qual gafanhotos predadores sobre talentos como Andreas Thom, Matthias Sammer, Thomas Doll, Ulf Kirsten e Michael Ballack. Todos foram parar em clubes do Oeste. Estima-se que aproximadamente 150 jogadores se transferiram para clubes da Bundesliga nos primeiros cinco anos depois da reunificação.

Além do êxodo de bons talentos, nenhum clube da região conseguiu motivar jogadores do Ocidente a atuar seja pelo Cottbus, Dresden ou Rostock.  

A chance de um ou outro time do lado oriental do país entrar para o rol do futebol de elite era e continua sendo muito pequena. Única exceção à regra até agora é o RB Leipzig. Só que esse é um clube fundado em 2009, acoplado a um megaprojeto de marketing de um fabricante de energéticos, que nada tem a ver com a história das tradicionais equipes alemãs orientais.

Desde 2009 nenhum clube histórico do Leste alemão deu as caras na Bundesliga. Na temporada 18/19 quatro estavam na segunda divisão e cinco na terceira.

Ao fim da atual campanha, teve uma luz no fim do túnel.  Um dos clubes da segunda divisão teve a grande chance de chegar ao topo pela primeira vez na sua história. Era o Union Berlin encarando na repescagem o Stuttgart.

Foi a campo nesta segunda-feira no seu estádio "An der Alten Försterei" para dar um fim à escrita de que times da antiga DDR são imprestáveis para a Bundesliga. Teve que encarar o Stuttgart, um clube patrocinado por grandes empresas globais como Daimler AG, por exemplo. Dinheiro não falta no clube do sudoeste da Alemanha, mas o futebol apresentado na última temporada deixou muito a desejar. Tanto é verdade que precisou disputar a repescagem com o Union Berlin da segunda divisão.

Não deu outra. O pequenino Union montou uma barragem defensiva insuperável e ainda se deu ao luxo de mandar duas bolas na trave. O jogo acabou 0x0. O resultado rebaixou o Stuttgart e levou o clube berlinense para a primeira divisão.

Garra, determinação e vontade férrea resultaram numa noite gloriosa festejada à exaustão por milhares de torcedores que, depois do jogo, tomaram conta do gramado ao som de "Eisern Union", o hino oficial do clube cantado por Nina Hagen.

A noite estava apenas começando.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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