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Uma campanha eleitoral para somente metade da população

31 de agosto de 2022

O racismo e suas consequências sociais ficam de fora da disputa pela Presidência. A impressão que dá é que o Brasil é um país de imigrantes europeus.

Protesto anti-Bolsonaro no Dia da Consciência Negra, em novembro de 2021Foto: Bruna Prado/AP Photo/picture alliance

O primeiro debate televisivo e as sabatinas dos presidenciáveis no Jornal Nacional na semana passada transmitiram a imagem de um Brasil que até pouco tempo atrás era a dominante na publicidade: uma sociedade que parece ser composta exclusivamente por brancos.

Entre os principais candidatos e candidatas à Presidência não há nenhum representante negro. E das extensas entrevistas individuais com os quatro que lideram a corrida e do debate de domingo ficaram completamente de fora temas que são existenciais para a maioria da sociedade brasileira: o racismo e suas consequências para o país.

Cerca de 56% dos brasileiros se autodeclaram pretos ou pardos. Eles convivem com o racismo cotidiano, que continua sendo a raiz do desfavorecimento social da maioria da sociedade. Três quartos de todas as vítimas de violência são negras. Quase tão alta é a taxa de evasão escolar entre os jovens negros. Ou a parcela de negros que passam fome. O desemprego também é maior entre eles. E sobretudo os negros estão à mercê da violência policial, de quadrilhas de drogas, criminosos e milícias.

Nos últimos anos, as consequências do racismo e da escravidão vêm sendo intensamente discutidas pela sociedade civil. Também no Brasil houve atos de violência motivados pelo racismo como o sofrido por George Floyd, nos EUA. E Marielle Franco foi assassinada, uma vereadora que sempre se posicionou fortemente contra o racismo.

É verdade que a proporção de candidatos negros aumentou nos últimos anos. Isso vale especialmente para os níveis federais mais baixos: entre os candidatos a deputado estadual, a parcela de negros é proporcional à da população brasileira como um todo. Entre os candidatos a deputado federal, já são menos. E entre os que concorrem aos cargos de senador ou governador quase não há negros.

À mais alta esfera da política, no entanto, o debate sobre o racismo na sociedade civil parece ainda não ter chegado. A política parece ser feita em uma espécie de vácuo, que pouco tem a ver com a realidade brasileira.

Os negros são os mais afetados pelas falhas do atual governo nas políticas de saúde e educação. Sob Bolsonaro, também estagnou a política de inclusão das duas últimas décadas. No gabinete do presidente, nunca houve um ministro negro. À frente da Fundação Palmares, Bolsonaro colocou um negro que afirmou não haver racismo no Brasil.

É ainda mais espantoso que nenhum dos candidatos da oposição aproveite a oportunidade de conquistar esse potencial eleitorado.

Não apenas Bolsonaro, mas também Lula, Ciro e Simone Tebet, ou seja, os candidatos mais promissores à Presidência, estão rodeados de assessores e gerentes de campanha majoritariamente brancos. E eles parecem não se dar conta de que ignoram sistematicamente metade da população.

Raramente a política brasileira pareceu tão envolvida em sua própria bolha como agora.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.