Uma em cada quatro crianças tem direito à infância negado
29 de maio de 2019
Relatório da ONG Save the Children afirma que 690 milhões de crianças têm seus direitos a uma infância segura e saudável desrespeitados, apesar de avanços notáveis em quase todos os países nas últimas duas décadas.
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Cerca de 690 milhões de crianças em todo o planeta têm seus direitos mais fundamentais desrespeitados, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira (28/05) pela ONG Save the Children. Esse número corresponde a um quarto das crianças do mundo.
Usando dados das Nações Unidas, o Global Childhood Report analisa a situação das crianças em 176 países em termos de saúde, educação, alimentação e proteção contra riscos como o casamento precoce e o trabalho infantil forçado.
Em um ranking de países, Cingapura aparece em primeiro lugar como o país que mais protege e proporciona uma melhor infância às suas crianças, seguido de Suécia, Finlândia, Noruega, Eslovênia, Alemanha, Irlanda, Itália, Coreia do Sul e Bélgica.
No fim da lista, entre os dez países onde a situação é mais precária, está a República Centro-Africana na última posição, antecedida por Níger, Chade, Mali, Sudão do Sul, Somália, Nigéria, Congo e Burkina Faso – todos na África.
Entre os 176 países da lista, os Estados Unidos aparecem na 36ª posição, empatados com a China. O Brasil, por sua vez, está em 99º, atrás de países como Coreia do Norte e Palestina, além de várias nações da América Latina, como Cuba, Chile, Argentina, Uruguai, Equador e Peru.
"Milhões de jovens são privados de sua infância, e os governos podem e devem fazer mais para proporcionar a cada criança o melhor início de vida possível", afirmou, em comunicado, a presidente da Save the Children International, Helle Thorning-Schmidt.
O relatório, que também compara a situação atual com a do ano 2000, aponta, por outro lado, "progressos notáveis" no bem-estar infantil ao longo das últimas duas décadas.
Se hoje 690 milhões de crianças são privadas de sua infância, em 2000 esse número era ainda maior: dados daquele ano mostram que 970 milhões de menores foram vítimas do que se chama de "assassinos da infância", como casamento ou gravidez precoce, exclusão do sistema educacional, trabalho forçado, doenças, desnutrição ou morte violenta.
Ou seja, atualmente ao menos 280 milhões de crianças têm uma possibilidade maior de crescerem saudáveis, viverem em um ambiente seguro e terem acesso a educação do que há 18 anos, destacou a ONG Save the Children.
Esses avanços notáveis foram alcançados "graças à forte vontade política, aos investimentos sociais e ao sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), fixados pela ONU em 2000", escreve a organização em seu relatório.
"Hoje em dia, as crianças têm mais saúde, são mais ricas e mais educadas do que nunca", celebrou Thorning-Schmidt, que já foi primeira-ministra da Dinamarca.
O documento, publicado pouco antes do Dia Internacional da Criança, em 1º de junho, considera que a situação dos menores melhorou em 173 dos 176 países analisados.
Os progressos mais significativos foram registrados em alguns dos países mais pobres do mundo, como Serra Leoa, Ruanda, Etiópia e Níger, o que demonstra que "as decisões políticas podem ser mais importantes do que a riqueza nacional", diz o relatório.
Em comparação com 2000, houve uma queda de 49% nas mortes de crianças com menos de 5 anos; de 40% no trabalho infantil; 33% na desnutrição crônica; e de 25% no casamento infantil.
Segundo a organização, apenas um dos indicadores subiu ao longo dos últimos 18 anos, e "muito significativamente": crianças vivendo em conflito ou afetadas pela violência.
Entre 2000 e 2018, houve um aumento de 80% no número de menores que vivem em zonas de guerra ou fogem dessas regiões. Estima-se que elas sejam hoje 420 milhões de crianças.
Em muitos países os direitos mais fundamentais das crianças não são respeitados e elas estão sujeitas à pobreza, ao trabalho infantil, à prostituição, ao tráfico de pessoas e à escravidão.
Foto: Mustafiz Mamun
Cotidiano de trabalho infantil
Como este menino, mais de 4,5 milhões de crianças precisam trabalhar em Bangladesh – muitas vezes em empregos perigosos e recebendo baixos salários. A separação de lixo ou de trapos é muitas vezes vista como um trabalho razoavelmente bom.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar em vez de brincar
Enquanto milhões de crianças frequentam a escola e têm tempo para brincar, outras, como esta menina em Bangladesh, podem apenas sonhar com isso. Em vez de brincar, ela tem que carregar pedras todos os dias, sofrendo com todas as consequências negativas para sua saúde e seu desenvolvimento.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar, comemorar – ou lutar?
O objetivo do Dia Mundial da Criança é conscientizar o público sobre questões como a proteção e direitos das crianças. Alguns países lembram a data em 1º de junho, e a Alemanha, em 20 de setembro. Já a ONU celebra em 20 de novembro, o dia que, no ano de 1989, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças foi adotada.
Foto: Mustafiz Mamun
Sob a ameaça de uma máquina
Nem mesmo no Dia Mundial da Criança há tempo para jogos e brincadeiras: esta criança de 11 anos opera uma máquina numa fábrica de telas contra mosquitos no sul da Índia. Muitas vezes, em tais fábricas, as medidas de segurança são insuficientes, gerando riscos consideráveis para a integridades física e também para a vida.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Comovente
Anil, de 27 anos e que trabalhava em canais de drenagem, morreu após um acidente em Déli, deixando um filho. O repórter Shiv Sunny publicou a foto do menino, de 11 anos, chorando junto ao corpo do pai. A imagem levou muitos a lágrimas e doações, que chegaram ao equivalente a 37.500 euros.
Foto: Twitter/Shiv Sunny
Crianças-soldados
O recrutamento de crianças-soldados é considerado uma das formas mais brutais de exploração de menores de idade. Este jovem combatente da milícia somali Al Shabaab mostra que teve ferimentos em uma das mãos. Não melhor do que ele estão outras milhares de crianças que têm que trabalhar como prostitutas, traficantes de drogas ou escravas.
Foto: Getty Images/AFP/M. Dahir
Muros e fronteiras
Mas não apenas o trabalho infantil é um problema: o então presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou mais uma vez sua insensibilidade ao mandar separar crianças de pais que cruzassem a fronteira dos EUA ilegalmente. Foi necessário um clamor internacional para que ele mudasse de ideia.
Foto: Reuters/J. Luis Gonzalez
Em busca de um recomeço
Longe dos pais, dois jovens buscam um recomeço na Alemanha. Eles preparam suas refeições na cozinha de um lar para refugiados no mosteiro Lehnin, no estado de Brandemburgo. Os refugiados menores de idade, em especial os desacompanhados, dependem de ajuda para recomeçar suas vidas.
Foto: picture alliance/dpa/B. Settnik
Depósito de lixo? Não, moradia
Este menino vive e trabalha num aterro de lixo localizado nas proximidades do rio Bhagmati, em Kathmandu, capital do Nepal. Sem qualquer proteção, ele procura por objetos que possam ser úteis.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Índios "chineses"
Estes jovens chineses celebram o Dia Mundial da Criança num jardim de infância em Yiyuan. "Crianças precisam de espaços livres", que é o lema do Dia Mundial da Criança de 2018, parece ter sido ao menos parcialmente implantado aqui.
Foto: picture-alliance/dpa/Xinhua/Z. Dongshan
"Eu tenho um sonho!"
Esta menina em Bangladesh mostra um desenho que fez para o Dia Internacional da Criança: nele, jovens brincam despreocupadas num dia de sol.
Foto: p-cture alliance/Pacific Press/M. Hasan
Liberdade limitada
Três meninas paquistanesas se divertem num passeio de carruagem, uma brincadeira que muitas crianças, sejam ricas ou pobres, também gostariam de fazer. Mas será que elas terão essa liberdade por muito mais tempo numa sociedade patriarcal?