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Uma guinada à direita na América do Sul?

10 de maio de 2023

Enquanto no Chile o governo do esquerdista Gabriel Boric sofreu um duro golpe em eleição para Constituinte, na Argentina, a esquerda ruma para uma possível derrota histórica nas presidenciais.

Depois da vitória do esquerdista Gabriel Boric nas presidenciais de 2021, o pêndulo agora foi para a direita no ChileFoto: Pablo Vera/AFP/Getty Images

Vimos, nos últimos anos, grande parte da América do Sul sendo governada pela esquerda. Houve mudanças históricas, como as vitórias de uma nova esquerda, mais moderna, de Gabriel Boric no Chile e do ex-guerrilheiro Gustavo Petro na Colômbia. Ainda mais surpreendente foi a vitória de Pedro Castillo, um professor e sindicalista, no Peru. Com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou a extrema direita de Jair Bolsonaro no Brasil, sobraram apenas Uruguai, Paraguai e Equador governados pela direita – três países pequenos, aliás, enquanto os grandes elegeram governos de esquerda.   

No entanto, o exemplo recente do Chile mostrou como um país pode mudar rapidamente de rumo político. Depois de manifestações maciças em 2019 pedindo reformas sociais e de vitórias da esquerda nas urnas em 2020 e 2021, o pêndulo agora foi para a direita, com a derrota acachapante de uma nova Constituição, em plebiscito realizado em setembro de 2022, e a vitória, no último fim de semana, da ultradireita liderada por José Antonio Kast na eleição para uma Constituinte.

As exigências de mudanças sociais que dominaram as manifestações de 2019 e que levaram à vitória de Boric nas urnas deram espaço para temas mais tradicionais: economia e segurança. Por muito tempo visto como um dos países mais seguros da América do Sul, o Chile vive um aumento da violência. Além disso, a alta da imigração gera cada vez mais críticas. Ainda temos uma situação inusitada de crise econômica justamente num país que vinha mostrando um robusto crescimento nas últimas décadas. Mas temos que lembrar que o Chile tradicionalmente é um país conservador e que, portanto, a volta da direita não seria uma grande surpresa.

O tema do aumento de violência também tem sido importante nas companhas eleitorais no Paraguai. No pequeno país ultraconservador, há um temor em relação à grande influência que o PCC, o poderoso cartel brasileiro, tem, principalmente no leste. A maioria dos paraguaios tem pavor da esquerda e, assim, a direita se manteve no poder. O Partido Colorado governa desde 1947, com una única exceção: de 2008, quando o bispo Fernando Lugo venceu as eleições, até 2013, quando os colorados voltaram ao poder. A vitória do conservador Santiago Peña nas mais recentes eleições paraguaias não foi, portanto, uma surpresa.

Também não surpreenderia uma derrota clara da esquerda nas eleições presidenciais de outubro deste ano na Argentina, onde o peronismo está na corda bamba depois de um agravo da situação econômica nos últimos anos e, ainda mais, nas últimas semanas. Há, ainda por cima, uma crise de segurança pública, com o aumento do poder das gangues de drogas que dominam cada vez mais regiões do país.

No Peru, por sua vez, o governo do esquerdista Pedro Castillo mostrou incompetência política e grande apetite pela corrupção, fazendo com que o país se somasse a outros péssimos exemplos de governos de esquerda na região.

Os desastres econômicos e também no quesito liberdade democrática em países como Venezuela, Cuba e Nicarágua não só geram ondas de migrantes, mas, também, pavor nos países vizinhos.

Assim, não será uma grande surpresa se o pêndulo agora se mover para a direita, gerando uma onda conservadora no sul da América do Sul.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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