Marionete Little Amal, de 3,5 metros, vai percorrer oito países "em busca da mãe". Com o projeto, coletivo teatral quer chamar atenção para milhões de migrantes cujo destino ameaça ser esquecido em meio à pandemia.
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A Pequena Amal está para enfrentar uma longa viagem: da fronteira da Turquia com a Síria até o Reino Unido, ela percorrerá 8 mil quilômetros, à procura da mãe, que saiu para buscar comida e nunca mais voltou.
Mas não se trata de uma menina comum: "Little Amal" é uma boneca animada de 3,5 metros de altura, protagonista do projeto de teatro de rua The walk (A caminhada), cuja partida foi dada na última terça-feira (27/07), na cidade turca de Gaziantep, próximo à fronteira síria. Ao longo de dois meses, ela atravessará oito países europeus, entre eles a Alemanha.
Com esse projeto, o coletivo teatral britânico Good Chance quer chamar a atenção para os milhões de migrantes cujo destino ameaça ficar esquecido em meio à pandemia de covid-19. "Justamente por o mundo se fixar agora em outros assuntos, é importante trazer de volta ao foco a crise dos refugiados", explica o diretor artístico do coletivo, Amir Nizar Zuabi.
Sua meta é enfatizar "o potencial dos refugiados", em vez de só "suas terríveis circunstâncias". Em seu website, o Good Chance define a ação como "uma das obras de arte públicas mais inovadoras e ousadas que já foram empreendidas". Entre os manipuladores da marionete gigante estão também ex-refugiados.
Encontros na Alemanha
Em cada parada da viagem, um programa com artistas e personalidades culturais locais acompanhará a presença de Little Amal. Em Stuttgart, no sul da Alemanha, o encarregado é o grupo Dundu, que também manipula grandes bonecos. A cidade é um dos centros nacionais dessa forma de arte, ao lado de Bochum e Berlim.
Lá, a "pequena" refugiada será recebida por marionetes de cinco metros, que representarão seus sonhos. Fabian Seewald, do Dundu, diz admirar a ambição artística de The walk: produzir uma performance do gênero em oito países é algo sem precedentes em condições pandêmicas, observa.
Little Amal chegará à Alemanha após passar por Izmir, no litoral turco do Mar Egeu, Roma, Marselha, Genebra e Estrasburgo, descansando de 1º a 3 de outubro em Stuttgart, Colônia e Recklinghausen. Depois, segue por Bruxelas, Paris e Londres, até Manchester, no noroeste da Inglaterra.
Em Colônia, a associação ArtAsyl organizará um encontro entre Amal e idosos que, como ela, vivenciaram a guerra. Em Recklinghausen, na região do rio Ruhr, ela será saudada por uma "Rua das Boas Vindas", atravessando a cidade, confeccionada com pedras por moradores e pelo festival de teatro Ruhrfestspiele.
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Animação conjunta
Little Amal foi construída pela famosa Handspring Puppet Company, da África do Sul. Para tal, seus fundadores, Basil Jones e Adrian Kohler, até mesmo suspenderam sua aposentadoria.
"A história dos refugiados é o grande tema do nosso tempo", comenta Kohler no website de The walk. "Numa época em que os teatros ainda lutam para reabrir suas portas, uma ação artística dessas é capaz de voltar a reunir os seres humanos."
Para movimentar a gigantesca marionete, são necessários quatro bonequeiros: um em cada braço, um encarregado das costas e outro dentro de seu corpo. Caminhando sobre pernas de pau, este último manipula a assim chamada "harpa", um complexo instrumentário que dá vida ao rosto, cabeça e olhos da boneca.
Aproximando seres humanos
O coletivo teatral Good Chance foi fundado em 2015, no campo de refugiados de Calais, França, também conhecido como "La Jungle" – A Selva. Sua primeira peça, intitulada The Jungle, foi apresentada com grande sucesso nos teatros do West End de Londres.
Assim como os artistas integrantes, a gerente Naomi Webb enfatiza que a meta do coletivo é reaproximar os seres humanos: "Desde a nossa fundação, nós sublinhamos o grande significado da arte nas crises humanitárias. A arte tem a capacidade desarmadora de unir as pessoas e de contar histórias humanas."
O alemão Seewald também está convencido disso: "Com o Dundu, nos apresentamos, por exemplo, na praça Tahrir do Cairo, em 2013. Com os nossos bonecos gigantes, criamos uma situação de perplexidade coletiva infantil que, por um momento, superou as diferenças entre os indivíduos e as fronteiras nas suas cabeças, permitindo vivenciar a coletividade."
Ele considera especial nos grandes bonecos, como Little Amal, o fato de exigirem diversos manipuladores, "muitas forças têm que agir em conjunto para se conseguir algo". E o grande momento revelador é quando se fornece aos espectadores a possibilidade de eles próprios guiarem a boneca. "Aí, eles criam algo em comum. Essa é a magia dos bonecos animados: dar vida às coisas, juntos."
Brasil, país dos teatros
As representações teatrais sempre fizeram parte do cotidiano brasileiro, mesmo antes da construção das primeiras casas de espetáculos no país. Veja aqui uma seleção dos mais belos e mais antigos teatros do Brasil.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Dana
Teatro Municipal de Ouro Preto
Quem diria que por trás desta casa alaranjada (dir. na foto) se encontra o mais antigo teatro em funcionamento das Américas, o Teatro Municipal de Ouro Preto, antiga Casa da Ópera de Vila Rica. O teatro foi inaugurado em 6 de junho de 1770. Localizado no Largo do Carmo, o prédio não se destaca do casario vizinho. Somente a lira de Apolo sobre o frontão da fachada denuncia a função do edifício.
Foto: DW/C. Albuquerque
Antiga Casa da Ópera de Vila Rica
A disposição interna remonta aos teatros barrocos italianos. Em Ouro Preto, três pisos distintos se distribuem em plateia, camarotes, frisas e galerias, totalizando 300 lugares. As mulheres confinavam-se nos camarotes. Os atores eram pardos ou negros. O teatro de Vila Rica introduziu duas atrizes no ano de sua inauguração, revolucionando a moral da época, que não admitia mulheres no palco.
Foto: imago/imagebroker
Teatro Arthur Azevedo, São Luís
Este teatro com fachada neoclássica e frontão triangular onde se vê a lira de Apolo em alto relevo foi construído em São Luís por dois comerciantes portugueses. Na Europa, esse esquema de teatro correspondeu à ascensão da burguesia. Ele foi inaugurado com o nome de Teatro União em 1817, dois anos após a inclusão do Brasil ao Reino Unido de Portugal e Algarves, fato que originou o nome do prédio.
Foto: Teatro Arthur Azevedo
Antigo Teatro União
O projeto era grandioso. A simbologia teatral, baseada na mitologia greco-romana, é abundante. Na época, São Luís era a quarta maior cidade do Brasil e os 800 lugares do teatro representavam 5% da população local. Nos últimos anos do Império, as mulheres descem finalmente à plateia. O nome Teatro Arthur Azevedo viria somente na década de 1920 em homenagem ao importante teatrólogo maranhense.
Foto: Teatro Arthur Azevedo
Teatro Santa Isabel, Recife
Projetado em estilo neoclássico, este teatro foi inaugurado em 1850 no Recife em homenagem à princesa Isabel, a quem lhe deve o nome. Seus jardins foram mais tarde incorporados à Praça da República, cujas palmeiras imperiais valorizaram a arquitetura, integrando-a na paisagem. Durante muitos anos, o Santa Isabel foi considerado a mais bela construção teatral do império.
Foto: CC BY 2.5/P. Camelo
Exemplo pernambucano
O Santa Isabel é um dos poucos exemplos do genuíno neoclassicismo no Brasil na primeira metade do século 19. A sociedade vinha atravessando um lento, mas decisivo processo de transformações no que diz respeito à mentalidade e aos hábitos sociais que justificavam um desejo de contato social e busca de divertimento. A iniciativa de construir um teatro de porte serviu de exemplo para outras capitais.
Foto: imago/Fotoarena
Teatro São Pedro, Porto Alegre
A construção de um teatro que abrigasse dignamente as diferentes manifestações culturais era um sonho que acompanhava governantes e população da província de São Pedro do Rio Grande do Sul desde a colônia. Em 1833, o presidente da província doou um terreno para o início das obras, mas com o início da Revolução Farroupilha em 1835, a construção foi suspensa, sendo retomada anos depois.
Foto: Diego Neves
Projetado por um alemão
Projetado pelo arquiteto alemão Georg Karl Phillip Theodor von Normann, o teatro foi inaugurado em 27 de junho de 1858 na capital gaúcha, trazendo o estilo neoclássico prematuramente para a província. O arquiteto buscou fugir da rigidez prismática característica do neoclassicismo, mas o prédio sofreu reformas, que modificaram significativamente o projeto original.
Foto: Marcelo Nunes
Teatro da Paz, Belém
No final do século 19, a Amazônia se tornou uma das regiões mais ricas do planeta. Nesse período áureo do ciclo da borracha, foi fundado em Belém o Theatro da Paz. Inaugurada em 1878, ele foi projetado em estilo neoclássico pelo engenheiro pernambucano José Tibúrcio Pereira de Magalhães. Mas sua fachada teve de ser modificada para conciliar o projeto com os rigorosos cânones clássicos.
Foto: CC BY 2.0/C. R. de Abreu Silva
Características grandiosas
Foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazônia com características grandiosas: acústica perfeita, lustres de cristal, piso em mosaico de madeiras nobres, afrescos nas paredes e teto, elementos decorativos revestidos com folhas de ouro. A sala de espetáculos comporta hoje 900 pessoas. As cadeiras conservam o estilo da época em madeira e palhinha adequadas ao clima da região.
Foto: L. Santa Brígida
Teatro Amazonas, Manaus
Inaugurado em dezembro de 1896, a construção do Teatro Amazonas também se deve ao crescimento econômico proporcionado pelo ciclo da borracha, numa época em que a burguesia de Manaus enviava a sua roupa de cama para ser lavada na Europa. Ele foi construído num estilo eclético neoclássico, adornado pela cúpula com as cores da bandeira nacional que se eleva acima da cobertura.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Dana
Nomes famosos
Para executar painéis e pinturas, foram contratados artistas europeus que hoje compõem um dos mais ricos acervos do gênero no Brasil. A variedade de artistas também é grande, já tendo passado por seu palco nomes como Heitor Villa-Lobos, em 1911; José Carreras, em 1996; e Luciano Pavarotti, que cantou no palco do Teatro Amazonas durante uma visita turística: ele queria experimentar a acústica.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Dana
Teatro Municipal do Rio de Janeiro
O teatro, que se autodenomina o mais importantes do país, foi inaugurado no Rio de Janeiro em 1909. O projeto foi resultado de um concurso, em que o primeiro e segundo vencedores fundiram as propostas. A distribuição dos volumes em três corpos – entrada, corpo central (sala de espetáculos) e caixa de cena (palco) – é claramente inspirada na Ópera de Paris, construída por Charles Garnier em 1875.
Foto: Ministério da Cultura/P. França
Inspiração barroca
O neobarroco foi o estilo empregado preferencialmente em casas de espetáculo, como se vê na exuberante decoração do teatro carioca. A escada principal é revestida com dois tipos de ônix, bronzes dourados e cristais. Inicialmente, o Municipal recebia apenas companhias estrangeiras. A partir dos anos 1930, no entanto, ele passou a ter seus próprios corpos artísticos: orquestra, coro e balé.
Foto: Secretaria de Cultura/RJ
Teatro Alberto Maranhão, Natal
Inaugurado em 1904, o antigo Teatro Carlos Gomes manteve forma de chalé até 1910, quando foi reconstruído por Herculano Ramos, arquiteto que já havia trabalhado no Teatro José de Alencar de Fortaleza, e pouco aproveitou da estrutura anterior, acrescentando elementos do ecletismo do século 19. Sua arquitetura é semelhante à do José de Alencar, com parte interna em estrutura metálica independente.
Foto: CC BY 2.0/A. R. Costa
Teatros-jardim
Eles chamam atenção pela existência de avarandados e pátios internos, especialmente criados para o arejamento desses edifícios erguidos em regiões de temperaturas elevadas. Na reforma executada durante o governo de Alberto Maranhão, o teatro ganhou em 1912 um pavimento superior, portões e grades de ferro vindas da França, assim como balcões e obras de arte na fachada. Seu nome foi mudado em 1957.
Foto: gemeinfrei
Teatro José de Alencar, Fortaleza
Inaugurado na capital alencarina em 1910, a construção é dividida em bloco frontal, onde se encontra o vestíbulo e foyer; pátio interno, sala de espetáculos e caixa de cena. A fachada eclética apresenta elementos do neobarroco. Na época, a caixa de palco e plateia construídas em estrutura metálica ainda não eram vistas como "arquitetura", tendo de ser escondida por elementos clássicos de fachada.
Foto: DW/C. Albuquerque
Fundição escocesa
O Teatro José de Alencar é um dos mais belos exemplos da arquitetura de ferro no Brasil. Sua estrutura metálica foi executada pela fundição escocesa Walter MacFarlane & Co. A ideia de construir um teatro-jardim foi concebida em 1904 pelo capitão Bernardo José de Melo. Mas o jardim mesmo, projetado por Burle Marx, só foi construído na reforma de 1975. Ele ocupa todo o espaço vizinho ao teatro.
Foto: CC BY 3.0 br/ME/Portal da Copa/Embratur
Teatro Municipal de São Paulo
Inaugurado em 1911, o teatro paulista é fruto do ciclo do café. Segundo a instituição, "o Theatro Municipal surgiu para a cidade de São Paulo como um grande símbolo das aspirações cosmopolitas do início do século 20." Trata-se de uma construção eclética, que recorre à sobrecarga ornamental com o objetivo de atingir acentuados efeitos de luz e sombra, à semelhança do municipal do Rio de Janeiro.
Foto: imago/Fotoarena
Grande teatro, grandes nomes
Com a construção influenciada pela Ópera de Paris, São Paulo integrou-se, finalmente, ao roteiro internacional dos grandes espetáculos. Por seu palco, passaram nomes como Enrico Caruso, Maria Callas, Renata Tebaldi, Bidu Sayão, Arturo Toscanini, Camargo Guarnieri, Villa-Lobos, Ana Pawlova, Arthur Rubinstein, Isadora Duncan, Margot Fonteyn, Nijinsky, Nureyev, Baryshnikov e muitos outros.