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Uma mistura que deu certo

(ms)8 de maio de 2003

Um diretor americano da velha vanguarda uniu-se a um cantor pop alemão para a montagem de um clássico da dramaturgia germânica que é interpretado por um dos grupos teatrais mais tradicionais de Berlim.

Cena da montagem de "Leonce e Lena"Foto: AP

A ousadia desta versão contemporânea de Leonce e Lena – escrita em 1836 pelo alemão Georg Büchner (1813-1837) – foi recompensada pelo público, que no dia da estréia aplaudiu a montagem por mais de dez minutos. O diretor americano Robert Wilson não poupou a imaginação para dar um toque contemporâneo a uma história que bem se adapta aos dias de hoje. Ele convidou Herbert Grönemeyer, um dos maiores astros do rock alemão (recorde de vendas do último CD, Mensch), para escrever a letra e compor as dez canções que foram inseridas na peça, interpretada pelo Berliner Ensemble, um dos mais respeitáveis grupos teatrais da Alemanha.

O antagonismo de todos esses elementos, ao contrário do que se possa imaginar, resultou em uma montagem harmoniosa, mas que foge aos padrões habituais justamente por ressaltar as características de cada um dos envolvidos. "O desempenho individual dos atores é tão forte que, de forma inesperada, as duas horas de espetáculo conseguem prender a atenção e entreter", comentou o semanário Der Spiegel.

Um cantor sentimental

Grönemeyer, 49 anos, que no início de sua vida artística esteve ligado ao teatro, revelou que precisou ler o roteiro seis vezes para entender o humor satírico de Büchner. "Eu acho que acima de tudo ele faz uma gozação sobre os alemães e seus supostos problemas", disse o compositor. As dez canções que se entrelaçam à trama possuem a sonoridade típica do cantor, cuja carreira solo está impregnada de músicas que falam sobre sentimentos e abordam questões sociais.

Justamente esse perfil de Grönemeyer é que encanta o diretor americano. "Uma de suas virtudes é que ele consegue cantar sobre a dor e a gente se sente bem com isso", disse Wilson, acrescentando que o repertório do astro pop alemão é marcado por um cunho espiritual que transmite esperança.

Sátira atual

Com a mistura de ritmos do jazz, swing, pop e rock, a trama de Leonce e Lena apresenta um mundo onde as convenções e os compromissos sociais são escrachados pelos personagens, levando o público a refletir o quão séria, e por vezes absurda, é a mentalidade do ser humano, impregnada por normas culturais e sociais.

A história gira em torno do príncipe Leonce e da princesa Lena, prometidos um ao outro por suas famílias. Embora ambos não concordem com o casamento arranjado, acabam se apaixonando sem saber na verdade quem o outro é. No final, eles ficam juntos, como era de se esperar, e resolvem fundar um Estado utópico onde ninguém mais precisa trabalhar. "Nós ficaremos alegres, preguiçosos e velhos", cantam os súditos no último ato.

O diretor estético

Robert Wilson é uma figura conhecida no cenário artístico internacional. Nascido no Texas, em 1941, começou a despontar nos palcos de Nova York aos 23 anos. Sua primeira experiência na Alemanha foi em 1976, dirigindo a ópera Einstein on the beach, de Philip Glass. A partir de meados de 80, sua presença tornou-se freqüente, com apresentações de trabalhos de autoria própria e de outros dramaturgos.

O primeiro trabalho com o Berliner Ensemble data de 1998, com a obra de Bertolt Brecht Der Ozeanflug (O vôo sobre o oceano). Em Leonce e Lena, além da direção, Wilson é responsável também por parte do figurino, pela concepção do cenário e da iluminação.

O Berliner Ensemble foi fundado por Bertolt Brecht e Helene Weigel, em 1949. O famoso grupo já teve nomes como Ruth Berghaus, Heiner Müller e Peter Zadek ocupando o cargo de direção artística. A peça Leonce e Lena será apresentada ainda entre os dias 10 e 12 e de 14 a 16 de maio.

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