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Uma revolução adaptada

sm14 de maio de 2003

Imprensa alemã faz balanço do governo Lula, destacando seriedade do programa político e resistência da ala mais radical do PT.

Foto: AP

“Lula e Brasília!” – exclama o diário Süddeutsche Zeitung deste domingo (12/5) – “Sob o legendário céu do planalto cruzam-se dois dos mais significativos experimentos que a gigante nação já viveu nos últimos 50 anos.” Assim como o projeto de Niemeyer e Lúcio Costa ainda exerce grande fascinação sobre o imaginário europeu, o governo Lula continua sendo avaliado pela imprensa alemã como um marco fundamental de ruptura, mesmo passada a euforia das eleições.

Estabilidade: mais econômica do que política

Num balanço do quadro político-econômico brasileiro, o Süddeutsche Zeitung enfatiza a curiosa inversão de expectativas em relação ao governo do PT: “O ex-marxista Lula vai arruinar o país – temiam seus adversários. Agora, eles elogiam sua política financeira, enquanto seus antigos aliados se sentem traídos.”

O real se estabilizou, a economia cresceu, o índice-risco caíu e a inflação também. Estas garantias de estabilidade econômica, que contribuíram para reconquistar a confiança dos investidores estrangeiros, geralmente são ignoradas pela ala mais radical do PT – descreve o jornal, pincelando as principais críticas internas contra Lula. A pretensa “lógica neoliberal” de sua política econômica e a ausência de diálogo são destacadas como as principais acusações dos correligionários mais radicais.

Política austera, apesar da impopularidade

Na avaliação do diário, que pinta o quadro político em cores mais sombrias do que a situação econômica, o maior desafio que Lula enfrenta é encontrar um meio-termo entre as exigências das bases e as determinações da política financeira. Um sinal promissor, em meio a esta difícil prova de poder, seria o apoio de 75% da população, de acordo com enquetes recentes.

O jornal semanal Die Zeit, por sua vez, traça um quadro econômico mais complicado. Os altos juros e a austera política de contenção de despesas limitam a margem de atuação do governo e inviabilizam a realização de ambiciosos projetos de política social. O prognóstico de crescimento econômico foi reduzido de 2,8% para 2,2% e o desemprego tende a aumentar, na avaliação dos especialistas.

O jornal lembra de tudo isso, destacando – no entanto – que a credibilidade do Brasil entre investidores estrangeiros só pôde ser conquistada graças a metas orçamentárias mais ambiciosas do que os antecessores neoliberais jamais haviam traçado.

Ao lado da grave situação econômica, o Die Zeit esboça o conflito político de Lula com seus correligionários, atribuindo-o à necessária transformação de “trotzkistas, leninistas e guerrilheiros em social-democratas liberais”. Os desafios mais imediatos de Lula seriam a aprovação da reforma da previdência e o conflito com o MST.

A posição do governo é deduzida das palavras de José Dirceu: o governo Lula terá que dar continuidade à sua rigorosa política econômica, apesar da impopularidade, e estabilizar seu orçamento a médio ou longo prazo por meio de reformas estruturais.

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