Unesco condena destruição de Patrimônio Mundial em Mali
3 de julho de 2012![A still from a video shows Islamist militants destroying an ancient shrine in Timbuktu on July 1, 2012. Islamist rebels in northern Mali smashed four more tombs of ancient Muslim saints in Timbuktu on July 1 as the International Criminal Court warned their campaign of destruction was a war crime. The hardline Islamists who seized control of Timbuktu along with the rest of northern Mali three months ago, consider the shrines to be idolatrous and have wrecked seven tombs in two days. They began their destruction of tombs on JUne 30, 2012, after UNESCO put Timbuktu on its list of endangered world heritage sites. AFP PHOTO (Photo credit should read STR/AFP/GettyImages)](https://static.dw.com/image/16069998_800.webp)
O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco condenou nesta terça-feira (03/07) a destruição dos mausoléus em Tombuctu, Mali, apelando ao setor cultural da Organização das Nações Unidas a instituir um fundo de emergência para aquele país africano.
Em declaração divulgada durante o encontro anual da Unesco na cidade russa de São Petersburgo, o comitê exigiu o fim dos "repugnantes atos" de destruição por parte de extremistas islâmicos.
Anúncio de mais destruição
"Vemos neste ato um verdadeiro crime contra a história", declarou Eleonora Mitrofanova,presidente do Comitê do Patrimônio Mundial 2012. Ela apelou a governos, organizações internacionais e à mídia para que se unam, a fim de "não permitir que esses bárbaros apaguem da face da Terra tais monumentos".
Desde 1988, Tombuctu é oficialmente Patrimônio Cultural da Humanidade, e na última quinta-feira fora incluída na lista vermelha dos patrimônios sob ameaça grave. A ministra malinesa da Cultura e Turismo, Fadima Diallo, agradeceu à Unesco por sua "rápida reação", assim como pela promessa de fundos urgentes para seu país.
Segundo testemunhas oculares, no último sábado combatentes do grupo rebelde Ansar Dine, associado à rede radical islâmica Al Qaeda, investiram contra as antigas sepulturas com picaretas e pás. Vários mausoléus e santuários foram simplesmente demolidos. Os rebeldes também anunciaram a intenção de arrasar todos os 16 santuários importantes da cidade.
Pecado contra o Islã
Situada à borda do Sahara e a cerca de mil quilômetros ao norte da capital Bamaco, Tombuctu é apelidada "Pérola do Deserto". Durante muito tempo foi considerada uma das principais atrações turísticas da África Ocidental. Além de três grandes mesquitas, 16 cemitérios e mausoléus fazem parte do Patrimônio Cultural da Humanidade na cidade.
Um dos monumentos já destruídos é o mausoléu de Mahmud Ben Amar, um erudito islâmico do século 16. Tratava-se de um local de peregrinação para os fiéis em busca do socorro da personagem que cultuam como a um santo.
Aos olhos dos fanáticos, isso atenta contra o monoteísmo do Islã, que só admite a adoração de um único Deus. Segundo o porta-voz do Ansar Dine, Sanda Ould Bamama, os monumentos em questão seriam haram, ou seja, pecado e, portanto, proibidos.
Ameaça de Haia
Contudo, o intuito dos fundamentalistas em Tombuctu não é apenas investir contra a fé popular. Com seus atos de vandalismo, eles intimidam os habitantes de toda a região e deixam claro: aqui quem manda somos nós. Ao desencadear o estarrecimento mundial, procuram se afirmar como antiimperialistas, que rechaçam toda influência do Ocidente.
"Nós somos muçulmanos. Quem é a Unesco?", provocou o porta-voz Ould Bamama.
Juntamente com guerrilheiros do povo tuaregue, desde abril os radicais islâmicos conseguiram o controle sobre dois terços de Mali. Os tuaregues pretendem fundar um Estado próprio no norte do país. Entretanto, os muçulmanos almejam o domínio total, impondo sua interpretação rigorosa da Xariá – as leis islâmicas – a todo o Mali.
No domingo, partiu de Haia uma advertência decidida aos fundamentalistas islâmicos em Mali. Fatou Bensouda, nova promotora-chefe da Corte Penal Internacional, sediada naquela cidade holandesa, lembrou que a destruição de monumentos fúnebres é um crime de guerra, e como tal será perseguido por ela.
AV/dw/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer