União da Bayer e Monsanto "prejudica pequenos agricultores"
15 de setembro de 2016
Organizações dizem que transação eleva dependência dos produtores das multinacionais e incentiva uso de transgênicos e produtos químicos. Comissão Europeia alerta para concentração no mercado de produtos agrícolas.
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Após o anúncio da aquisição da empresa americana Monsanto pela alemã Bayer, nesta quarta-feira (14/09), ambientalistas disseram temer que a transação traga consequências negativas para o meio ambiente e os pequenos agricultores.
"A compra da Monsanto pela Bayer fortalecerá a dependência mundial dos agricultores em relação a corporações multinacionais, incentivará a utilização de sementes geneticamente modificadas e de produtos químicos perigosos e a disseminação das monoculturas prejudiciais ao meio ambiente", afirmou a ONG ambientalista WWF.
"Os perdedores serão os pequenos agricultores e o meio ambiente", acrescentou o WWF. "Se o governo alemão e a União Europeia quiserem realmente uma agricultura sustentável e que poupe os recursos naturais, eles devem impedir esse negócio", apelou a organização.
Outras instituições ambientalistas e humanitárias expressaram temores semelhantes. A fusão entre a Monsanto e a Bayer, que transformará a nova empresa na líder mundial do ramo de sementes e herbicidas, é uma "má notícia para os agricultores de todo o mundo", afirmaram, em comunicado, as organizações Misereor, Fian, Inkota Netwswerk e Brot für die Welt.
"Privatização, desregulamentação e liberalização só favoreceram, nas últimas décadas, os grandes atores do agrobusiness internacional", argumentaram. Segundo as organizações, a transação impulsiona uma nova onda de concentração de mercado e poder.
As entidades apelaram às autoridades antitruste para que impeçam a união dos dois gigantes, argumentando que os big six – Monsanto, Syngenta, Bayer, DuPont, Dow e BASF – já controlam 75% do mercado global de agroquímicos e mais de 60% do mercado de sementes.
A comissária da UE para Concorrência, Margrethe Vestager, também se declarou preocupada com as consequências da união e disse ser importante manter a diversidade no mercado de produtos agrícolas. Vestager disse que os agricultores devem continuar tendo opções de escolha na hora de comprar herbicidas e sementes e sublinhou que o mercado agrícola já está muito concentrado.
MD/dpa/rtr
Agricultura na União Europeia
Há muito dinheiro envolvido: o setor que recebe as maiores verbas da União Europeia é o agrícola. No entanto, as condições nos diferentes países e regiões do bloco não poderiam ser mais diversas.
Foto: GEORGES GOBET/AFP/GettyImages
Setor bilionário
Com subsídios anuais de 47 bilhões de euros, a agricultura é o maior segmento orçamentário da União Europeia. Essa verba é distribuída entre os fazendeiros segundo a extensão de suas terras, independente da produção agrária real. No entanto, as condições de trabalho são extremamente diversas, não só entre os países-membros, como também dentro deles.
Foto: Getty Images
Falso idílio campestre
O leite do café da manhã vem de "vacas felizes", que vagam por verdes pastos: essa é a imagem de idílio rural que a publicidade tenta passar ao consumidor. Na realidade, o leite provém da produção em massa, e os animais passam o dia em pé nos estábulos, quase sem espaço para se mover. O capim que pisam é seco ou totalmente substituído por outro tipo de substrato.
Foto: imago/Eibner
Ordenha em ritmo industrial
Para que os agricultores europeus se mantenham competitivos no mercado mundial, eles precisam investir em métodos de produção eficientes. Carrosséis de ordenha economizam tempo e substituem mão de obra humana. As vacas são ordenhadas três vezes ao dia por esses dispositivos. A alta tecnologia expulsou o trabalho manual dos estábulos, e a agricultura é cada vez mais otimizada.
Foto: picture-alliance/ZB
Criação em massa
Os frangos de corte são engordados em tempo recorde nos galpões de criação intensiva, para que a fábrica produza o máximo possível de carne. Nesses galinheiros, eles crescem três vezes mais rápido do que as galinhas poedeiras, alcançando um peso entre 1,5 e 1,8 quilo no espaço de 30 dias. Os animais só sobrevivem a tal tratamento à custa de fartas doses de antibióticos.
Foto: Getty Images
Luta pela sobrevivência
Desde que vários países do Leste Europeu aderiram à UE, os agricultores locais competem por um lugar no mercado do bloco. As terras aráveis da Romênia são as mais valiosas da UE. Lá, grandes conglomerados compram áreas consideráveis e empregam máquinas modernas no cultivo. Enquanto isso, milhares de pequenos fazendeiros, que ainda usam arados puxados por burros ou bois, lutam pela sobrevivência.
Foto: DANIEL MIHAILESCU/AFP/Getty Images
Trabalho duro na vindima
Apesar da alta taxa de desemprego, vinicultores alemães quase não acham mão de obra para a colheita. Trabalhadores sazonais da UE têm permissão de auxiliar na agricultura, dentro do bloco, durante seis meses ao ano. Mas para romenos e búlgaros, esse acesso ainda é restrito. Somente a partir de 2014 eles se beneficiarão plenamente da liberalização do mercado de trabalho em todos os Estados da UE.
Foto: MARIO LAPORTA/AFP/Getty Images
Ouro verde
Para cada litro de puro óleo de oliva, é preciso prensar de quatro a cinco quilos de azeitonas. Colhê-los exige bastante esforço físico, e são geralmente os ajudantes estrangeiros a se encarregarem da tarefa. Mas para financiar seus salários, a safra precisa ser abundante e o lucro, elevado. Tarefa difícil para os pequenos produtores, já que cresce a concorrência por parte das grandes empresas.
Foto: Getty Images
Movidos pela esperança
Nenhum caminho é longo demais na procura por trabalho. Trabalhadores sazonais atravessam toda a União Europeia, na esperança de encontrar ocupação e ganhar o suficiente para alimentar suas famílias. Mas as crianças permanecem na terra natal, e as famílias são dilaceradas.
Foto: picture-alliance/ZB
Aeroporto subvencionado
Os subsídios agrícolas da União Europeia deveriam beneficiar os fazendeiros. No entanto, qualquer proprietário de campo arável, pedaço de floresta ou prado também recebe verbas do bloco. Um deles é o aeroporto Schiphol, de Amsterdã, quarto maior da Europa. Cerca de 50 milhões de passageiros e 1,5 milhão de toneladas de carga são transportados anualmente a partir dele. De agricultura, nem sombra.