União Européia condena violência no Oriente Médio
15 de março de 2006
Na agenda do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, estava marcado para esta quarta-feira (15/03) um discurso do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Os conflitos nos territórios autônomos palestinos e a invasão de uma prisão em Jericó por forças israelenses fizeram com que Abbas interrompesse sua viagem.
Josep Borrell, presidente do Parlamento, criticou severamente a ação militar de Israel, apontando a invasão da prisão como ilegal e desnecessária. "Nós nos perguntamos como as terríveis imagens, veiculadas pela televisão, podem contribuir para a segurança de Israel. A União Européia vai ter que pagar agora por uma nova prisão, da mesma forma como teve que pagar por outras coisas que foram destruídas", concluiu Borrell.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, fez um apelo ao lado palestino e afirmou que a UE poderá suspender a ajuda financeira aos territórios autônomos, caso não haja um cessar da violência. "Ninguém auxiliou tanto os palestinos quanto a UE. E pretendemos continuar ajudando. Por isso faço um apelo explícito para que deixem de lado todo tipo de ataque a organismos da União Européia ou de seus países-membros".
Proximidade das eleições
Os conflitos, ocorridos a apenas duas semanas das eleições gerais israelenses, também não escaparam à atenção de analistas da imprensa alemã. "Missão militar como comercial eleitoral", afirma um analista do diário Süddeutsche Zeitung.
"A ação militar aconteceu pouco antes da eleição parlamentar israelense, o que faz com que ela deva ser interpretada como autopromoção do primeiro-ministro em exercício, Ehud Olmert", escreve o comentarista do jornal. Segundo ele, o "sucessor sem carisma de Ariel Sharon quer incorporar a reputação de linha dura e pai da nação" do seu antecessor.
Críticas a Abbas
Já o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung observou que a resposta palestina à invasão israelense levou a ataques violentos contra pessoas e instalações estrangeiras num nível como há tempos não se via, lembrando que colaboradores de organizações humanitárias foram seqüestrados e instituições culturais e um comitê da Cruz Vermelha foram atingidos.
"Pode-se fazer objeções ao ataque a uma prisão palestina por Israel, mas o que os europeus têm que ver com isso?", perguntou Jacques Schuster, articulista de outro importante jornal conservador, o Die Welt, numa referência ao seqüestro de cidadãos europeus pelos palestinos.
Segundo ele, a ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, tem razão: "O presidente palestino, Mahmud Abbas, é irrelevante". Já o Frankfurter Allgemeine Zeitung escreveu que "o fraco presidente Abbas ficou ainda mais fraco depois da vitória do Hamas nas urnas".
Retirada de observadores estrangeiros
O governo de Israel justificou a invasão afirmando que os palestinos estavam perto de libertar o secretário-geral da Frente Popular para Libertação da Palestina (FPLP), Ahmed Saadat, detido em Jericó. Ele estava sob a vigilância de soldados britânicos e americanos, que deixaram o local pouco antes da invasão. Saadat é acusado da morte do ex-ministro israelense do Turismo, Rehvam Zeevi.
"O problema é que as lideranças palestinas disseram publicamente que essas pessoas seriam libertadas. Além disso, as lideranças palestinas precipitaram uma situação que obrigou os observadores estrangeiros a se retirar. A nossa ação teve como objetivo impedir que esses presos fossem libertados", afirmou o porta-voz do Ministério israelense das Relações Exteriores, Mark Regev.
O comportamento de britânicos e americanos causou indignação entre os palestinos. O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Mussa, afirmou que a retirada dos observadores internacionais antes da ação de Israel deixa no ar a suspeita de uma ação coordenada.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Jack Straw, afirmou que os observadores foram retirados devido às crescentes ameaças à sua segurança.