União Européia ganha braço militar
16 de dezembro de 2002Na cúpula dos chefes de Estado e de governo, em Copenhague, foi decidida não só a ampliação histórica da União Européia de 15 para 25 países, mas também dado o sinal verde para uma cooperação militar entre a UE e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que permite a criação da tropa comum européia de reação rápida. Para o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, "isso é muito importante porque evita a criação de estruturas duplas, que seriam uma insensatez política e custariam muito dinheiro".
Longa contenda
As negociações para a formação da tropa foram bloqueadas durante dois anos pela contenda absurda entre os velhos rivais Turquia e Grécia. Ancara, que só pertence à OTAN e não à UE, insistia em obter o direito de opinar sobre ações da tropa da UE em regiões perto de suas fronteiras. Caso contrário, não aprovaria o uso de infra-estruturas da OTAN pela tropa da UE. A Grécia, que é membro da UE e da OTAN, só admitia um direito muito limitado de opinar para a Turquia.
Os dois países concordaram, finalmente, em Copenhague, com uma fórmula pela qual o Chipre vai permanecer fora da integração militar da UE mesmo depois que a parte grega da ilha fizer parte da comunidade européia, a partir de 2004. O norte do Chipre, ocupado por turcos desde a invasão em 1974, vai ficar de fora da UE até que haja um acordo para a reunificação da ilha. Com o acerto entre Ancara e Atenas, a tropa de reação rápida da UE poderá dispor dos sistemas mais modernos de armas e técnicas de comunicação da OTAN.
A UE terá também acesso às capacidades de planejamento da aliança militar para suas ações. Sem essa cooperação, que começará em primeiro de março de 2003, a tropa comum européia seria simplesmente impossível.
Supremacia americana
A UE teria enormes dificuldade para criar uma capacidade própria de planejamento, como a França ambicionava pelo menos parcialmente, em virtude da grande escassez de armamento e dos orçamentos da defesa dos países-membros. Além disso, seriam fortemente estorvadas as relações dos aliados europeus com os Estados Unidos, país com supremacia indiscutível na OTAN.
A UE decidiu criar seu braço militar três anos atrás, depois de constatar, na guerra do Kosovo, a sua dependência da ajuda americana. Cada ação da tropa de reação rápida, a ser constituída por 60 mil homens e mais apoio no mar e no ar, poderá durar até um ano. Suas metas são preservar e restabelecer a paz, prevenir conflitos e prestar ajuda humanitária em casos de conflitos armados ou catástrofes.
Primeira ação
A primeira ação já está decidida há meses e será na Macedônia. A UE quer substituir as tropas de paz da OTAN, que vigiam o armistício entre as Forças Armadas e os separatistas albaneses. Mas como só restam algumas centenas de soldados na Macedônia, os chefes de Estado e de governo declaram-se também dispostos, em Copenhague, a assumir o comando das tropas de paz na Bósnia (SFOR), constituída por 12 mil soldados. O chefe da diplomacia européia, Javier Solana, foi encarregado de negociar as condições com a ONU, a OTAN e o governo bósnio, até fevereiro próximo.