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UE afirma não reconhecer regime do Talibã no Afeganistão

21 de agosto de 2021

Bloco mantém contato com membros do grupo islâmico apenas para garantir a retirada segura de pessoas, diz presidente da Comissão Europeia. Países começam a receber refugiados.

Von der Leyen discursa
"Não há conversas políticas com o Talibã", afirmou Von der Leyen durante visita a base na Espanha que recebe refugiadosFoto: Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images

Autoridades da União Europeia (UE) alertaram o Talibã neste sábado (21/08) que as conversas em andamento com membros do grupo fundamentalista islâmico para garantir a retirada do maior número possível de afegãos do país não significa que o bloco reconhece o novo regime instalado em Cabul.

"Temos contatos ativos com o Talibã neste momento de crise, pois precisamos discutir, neste momento difícil, como podemos facilitar o deslocamento de pessoas em Cabul até o aeroporto", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enquanto visitava um centro instalado perto de Madri para receber pessoas retiradas do Afeganistão.

"Mas isso é completamente diferente e separado de conversas políticas. Não há conversas políticas com o Talibã nem reconhecimento do Talibã", disse ela. Também participou da visita o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez.

Von der Leyen afirmou que a continuidade da ajuda humanitária da UE para o Afeganistão dependerá de o Talibã respeitar os direitos humanos, especialmente os de mulheres e garotas.

"Ouvimos comunicados do Talibã que enfatizam que as mulheres terão o seu lugar certo na sociedade e direito a estudar e trabalhar, de acordo com o sistema do Islã, o que quer que isso signifique. Mas também ouvimos mais e mais relatos de pessoas sendo caçadas por seus trabalhos anteriores ou suas opiniões, e ouvimos que mulheres estão sendo enviadas de volta para casa quando chegam em seus locais de trabalho", disse a presidente da Comissão Europeia.

"O 1 bilhão de euros (R$ 6,3 bilhões) reservado pela União Europeia para os próximos sete anos para apoio ao desenvolvimento está vinculado a condições estritas: respeito aos direitos humanos, bom tratamento das minorias e respeito aos direitos de mulheres e garotas", afirmou ela.

Base em Torrejon

As autoridades da UE e o primeiro-ministro da Espanha vistoriaram as instalações na base área militar de Torrejon, que pode abrigar 800 pessoas.

Dois aviões enviados pela Espanha para Cabul já chegaram à base. Um deles trouxe cinco espanhóis e 48 afegãos que trabalhavam para a Espanha ou são seus familiares. Um segundo chegou na noite de sexta-feira, com mais 110 afegãos.

A base aérea está recebendo também voos de aviões de países da UE com passageiros afegãos. Eles devem passar até três dias no local, antes de serem transportados para centros de acolhida na Espanha ou em outros países do bloco.

Sanchez e Von der Leyen conversam com refugiadas afegãs na base de TorrejonFoto: Moncloa Palace/Handout/REUTERS

Von der Leyen pediu aos países da UE que recebam refugiados que saíram de Cabul, e disse que Bruxelas oferecerá apoio financeiro para isso. Todos as nações do bloco que tiveram missões ativas no Afeganistão precisam estar preparadas para receber um número adequado de refugiados, segundo ela.

"A Comissão [Europeia] está pronta para avaliar os meios orçamentários para apoiar os estados-membros da UE que se voluntariem e recebam refugiados", disse. Alguns países já concordaram em receber afegãos que trabalhavam para a UE, como a Dinamarca e alguns países bálticos.

Sanchez disse que a receptividade de outros membros UE tem sido positiva e que alguns afegãos já haviam deixado a base em direção a outros países.

Situação difícil em Cabul

Os Estados Unidos e seus aliados da Otan estão enfrentando dificuldades para ajudar os afegãos que trabalharam para eles e agora temem sofrer represálias do Talibã no caminho e na entrada do aeroporto de Cabul.

Von der Leyen disse que funcionários da UE estavam conversando com funcionários dos Estados Unidos e da Otan sobre o problema, mas também estavam trabalhando "em campo" na capital afegã.

"É uma situação muito difícil, que muda a cada minuto, mas há um trabalho intenso sendo feito para fazer o possível em uma situação muito difícil", disse.

Von der Leyen também pediu que a comunidade internacional como um todo ajude os afegãos que permanecerão no país. Ela disse que o colapso da democracia afegã e o retorno do Talibã ao poder provocou o deslocamento de quase 3,7 milhões de pessoas. Alguns países europeus também temem uma onda de migração similar à que ocorreu em 2015, provocada pela guerra civil na Síria.

"Precisamos ajudar a garantir que os afegãos deslocados possam voltar às suas casas, ou pelo menos tenham uma perspectiva, tanto os que estão no Afeganistão como nos países vizinhos", disse.

Von der Leyen afirmou que a migração de afegãos deverá ser um dos pontos centrais da reunião do G-7 na próxima semana, para ajudar a criar "rotas globais legais e seguras, organizadas por nós, a comunidade internacional, para aqueles que precisam de proteção". "O reassentamento de pessoas vulneráveis é da maior importância. (...) É nosso dever moral", disse.

Sanchez e Von der Leyen afirmaram acreditar que os projetos internacionais realizados no Afeganistão nos últimos anos, inclusive no campo da educação, "não foram em vão". "Nós semeamos, e esperamos que essas sementes levem a mais prosperidade, segurança e liberdade para o povo afegão no futuro", disse o primeiro-ministro espanhol.

bl (AP, AFP, dpa)

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