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União Europeia busca saída para o desemprego entre jovens

Bernd Riegert (rc)28 de maio de 2013

Com 6 milhões de habitantes de até 25 anos sem trabalho, UE prepara ofensiva para combater uma das consequências mais graves da crise. Saída pode estar na migração interna, mas especialistas cobram mudanças estruturais.

Foto: REUTERS

Com dificuldades para encontrar trabalho na Espanha, a jovem Araci Perera não pensou duas vezes quando, em fevereiro, ficou sabendo de uma feira de empregos em Bruxelas. Viajou os mais de mil quilômetros que separam os países e, na Bélgica, descobriu que deixar a terra onde passara toda a vida pode ser a única saída para uma das consequências mais preocupantes da crise europeia: o desemprego entre os jovens.

O desemprego na UE entre os menores de 25 anos chegou em fevereiro a 23,5%, o equivalente a cerca de 6 milhões de pessoas. Na Espanha de Araci, a situação é ainda mais grave: um em cada dois jovens não tem trabalho. O problema preocupa e levou, nesta terça-feira (28/05), o presidente francês, François Hollande, e a ministra do Trabalho alemã, Ursula von der Leyen, a anunciarem uma ofensiva para combatê-lo.

"Temos que agir imediatamente. Seis milhões de jovens estão [oficialmente] desempregados na Europa", disse Hollande em Paris. "Quase 14 milhões estão sem trabalhar, sem estudar ou sem fazer um estágio."

Feiras de emprego como a visitada por Araci são organizadas pela Comissão Europeia em Bruxelas e em outras cidades da Europa. A procura por trabalho no exterior tem o suporte do chamado "Eures", o website europeu que reúne as oportunidades em todo o continente.

"Estou muito satisfeita com o que encontrei até agora. Existem muitas possibilidades aqui, não apenas na Bélgica, mas também na França e no Reino Unido. As oportunidades não são só para profissionais com experiência, mas também para pessoas como eu, que estão apenas começando", conta Araci.

Mudanças na formação

O que a CE tem a oferecer, no entanto, é apenas uma gota no oceano – a busca por emprego em outros países ainda é exceção. De acordo com a agência europeia de estatísticas (Eurostat), apenas 3% de todos os cidadãos da UE trabalham fora de seu país de modo permanente.

Karl Brenke, especialista em mercado de trabalho do Instituto Alemão para Pesquisa Econômica (DIW), diz que progressos significativos na luta contra o desemprego entre os jovens só serão possíveis através de reformas estruturais nos Estados-membros. Mesmo antes da crise econômica, o índice de desemprego entre menores de 25 anos já era, em algumas partes da Europa, o dobro em comparação com as estatísticas referentes aos mais velhos.

Fila de jovens em frente a agência de empregos na EspanhaFoto: REUTERS

"Para resolver esses problemas estruturais, deve-se mudar o treinamento vocacional nos países afetados pela crise, assim como na Europa oriental e na Escandinávia", diz o especialista, que defende maior capacitação prática nas escolas. "Os mais novos precisam dos benefícios de uma educação prática mais intensa."

A Espanha já começou a introduzir um sistema dual de educação consistindo em treinamento paralelo em escolas e locais de trabalho. Outros países, como Portugal e Grécia, deveriam, segundo Brenke, seguir o mesmo caminho. Mas em alguns países, como a Itália, leis rígidas de trabalho criam obstáculos para a iniciativa.

Na semana passada, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, pediu aos líderes da União Europeia que ajam com maior intensidade no combate ao desemprego juvenil. A UE quer aprovar a chamada "garantia de emprego", que visa a assegurar aos recém- formados nas escolas ou nas universidades, quatro meses de trabalho – ou, no mínimo, uma vaga em algum treinamento profissional.

Em fevereiro, a Comissão Europeia já havia sugerido medida semelhante, mas a implementação prática tem sido lenta. Brenke acredita que, primordialmente, é necessária vontade política nos países europeus mais atingidos pela crise para que algo possa de fato acontecer.

"É claro que é possível direcionar os jovens para a uma educação mais prática, mas essa ainda não é a solução para o problema. Deve haver ainda atitude política por trás dessa iniciativa", afirma.

Nos próximos anos, a UE almeja destinar 6 bilhões de euros para programas especiais referentes ao desemprego entre jovens, através de iniciativas e investimentos. A forma de distribuição dos recursos será discutida em julho próximo, quando a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se reunir com os ministros do Trabalho e agências de emprego da Europa.

Jovem em busca por emprego na Alemanha, que pode ser modeloFoto: dapd

"Dessa forma, quando as verbas estiverem disponíveis no final do ano, nós não vamos deixar que cada um lance mão dos recursos da maneira que quiser", afirmou Merkel na última conferência da UE. "É importante discutir como implementar o plano com rapidez e saber como podemos aprender com os países que estão em melhor situação."

Merkel comparou a atual situação do desemprego na Europa à do Leste alemão após a reunificação, quando o nível de desemprego era semelhante ao da Europa atual. A chanceler ressaltou que seu país está disposto a repassar a experiência adquirida na época.

Na Grécia, 59% sem trabalho

O índice de desemprego entre jovens, de 23,5%, é mais que o dobro na comparação com os cidadãos maiores de 25 anos, que em fevereiro estava perto de 11%. A maior porcentagem de desemprego juvenil está na Grécia, 59%. Em 12 dos 27 países-membros da UE, os níveis são superiores a 25%.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, qualificou a situação como "dramática" e acrescentou que em alguns países o problema se expressa de tal forma que pode levar à destruição do tecido social.

"Quando alguns países chegam ao ponto de ter 50% de seus jovens desempregados, alguns dos mais qualificados acabam perdendo oportunidades em razão de uma crise pela qual não são responsáveis. Esse é um problema que devemos resolver agora, e não em longo prazo", afirmou. "Não são apenas os bancos europeus que têm importância, mas também a atual geração de jovens."

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso (esq.) e o presidente do Conselho Europeu, Herman Van RompuyFoto: Reuters

Brenke alerta que, se o perigo do alto desemprego continuar, é possível que os jovens europeus acabem se conformando e desistam de obter uma educação. Ele aponta como maior problema a crise econômica que assolou a Europa, e que novos postos de trabalho e vagas em programas de treinamento apenas estarão disponíveis quando a questão estiver superada. "A crise é o problema número um", observou.

Essa análise é também compartilhada pelo presidente da Comissão Europeia, Manuel Barroso, que desde março último vem repetidamente se declarando a favor de impulsionar a economia através de uma maior intervenção dos Estados.

"Sejamos honestos: necessitamos de medidas a curto prazo para possibilitar o crescimento econômico", afirmou Barroso ao Parlamento Europeu. "O pacto de crescimento é insuficiente e não foi posto em ação com a rapidez necessária. Os temas sociais não foram abordados corretamente. Devemos ser cautelosos."

Há um ano, os líderes da UE concordaram sobre um pacto de crescimento de 120 bilhões de euros, mas, desde então, pouco aconteceu. Barroso convocou os lideres a, pelo menos, liberar os 6 bilhões de euros destinados aos programas de combate ao desemprego juvenil.

"A Comissão Europeia propôs rapidamente medidas para lidar com essa questão, que incluem os 6 bilhões de euros", afirmou. "Agora, o Conselho e o Parlamento Europeu devem decidir com rapidez para que os resultados não demorem a vir. Espero que possamos, assim, iniciar novos esforços, em nível nacional e europeu, que possam trazer esperanças aos nossos jovens."

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