União Europeia e Reino Unido firmam maior acordo pós-Brexit
19 de maio de 2025
Parceiros redefinem suas relações comerciais e de defesa 5 anos após britânicos deixarem o bloco europeu. Pacto viabiliza investimentos militares, reduz controles de fronteira e compartilha controle marítimo.
Reino Unido e União Europeia defendem urgência de reaproximação em cenário mundial "instável"Foto: Carl Court/AFP
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Quase nove anos depois de ter votado pela saída da União Europeia, o Reino Unido chegou nesta segunda-feira (19/05) a um amplo acordo com o bloco que vai redefinir seus laços comerciais e de defesa.
O pacto reaproxima o Reino Unido da UE em meio à política protecionista do presidente americano Donald Trump e a pressão por uma maior coordenação militar europeia devido à guerra na Ucrânia. A proposta inclui um pacto de defesa, menos restrições aos exportadores de alimentos e turistas e um novo e polêmico acordo de pesca.
Ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, na Lancaster House, em Londres, Starmer disse que o acordo marca "uma nova era em nosso relacionamento".
Para Von der Leyen, o pacto enviou uma mensagem. "Em um momento de instabilidade global, e quando nosso continente enfrenta a maior ameaça que já enfrentou em gerações, nós, na Europa, permanecemos unidos", disse.
Esse é o terceiro acordo firmado por Starmer neste mês, depois de negociações com a Índia e os EUA.
O que diz o acordo
Em vez de buscar um retorno total a um pilar da UE, como o mercado único, por medo de irritar os eleitores conservadores, Starmer procurou negociar um melhor acesso ao mercado em algumas áreas – uma medida que é frequentemente rejeitada pela UE como uma "escolha seletiva" dos benefícios da UE sem as obrigações de associação.
No centro da redefinição está um pacto de defesa e segurança que permitirá que a Grã-Bretanha faça parte de qualquer aquisição conjunta de produtos militares com a UE e abrirá caminho para que empresas britânicas, como BAE, Rolls-Royce e Babcock, participem de um programa de 150 bilhões de euros (US$ 951 bilhões) para rearmar a Europa.
Isso permitirá que o Reino Unido obtenha empréstimos baratos com o apoio do orçamento da UE para comprar equipamentos militares, em parte para ajudar a Ucrânia a se defender.
A UE afirmou que o programa de empréstimos ajudará a aumentar a prontidão da defesa europeia, além de permitir um apoio mais coordenado à Ucrânia.
O Reino Unido também defende que o pacto vai reduzir a burocracia para os produtores agrícolas britânicos, melhorar a segurança energética e, até 2040, acrescentar quase 9 bilhões de libras (R$ 67 bilhões) à economia.
Guerra na Ucrânia forçou maior cooperação entre membros da UE e Reino UnidoFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance
Imigração e pesca no centro da discussão
Starmer também incluiu nas negociações demandas populares dos britânicos, como um sistema de imigração mais ágil para cidadãos que se deslocam à União Europeia. Além disso, assegurou a redução permanente da burocracia e dos controles de fronteira que dificultavam a exportação de produtos por pequenos produtores de alimentos.
A ideia é contornar problemas como a fila de caminhões que esperam por horas nas fronteiras com alimentos frescos que não podem ser exportados automaticamente para a UE devido às complexas certificações pós-Brexit.
As mudanças também permitem ao Reino Unido voltar a vender produtos como hambúrgueres britânicos crus, salsichas e frutos do mar para a UE. Os benefícios se aplicam à Irlanda do Norte, onde os controles alfandegários pós-Brexit têm sido um problema há anos.
Tais medidas, no entanto, exigiram que o Reino Unido aceitasse uma cláusula polêmica relacionada ao setor pesqueiro. De acordo com o tratado, embarcações britânicas e da União Europeia terão acesso mútuo às respectivas águas pelos próximos 12 anos.
Embora a pesca tenha um impacto econômico menor para o Reino Unido, o controle britânico sobre suas águas territoriais é considerado um de seus principais trunfos comerciais frente à Europa, tendo sido, inclusive, um dos temas centrais nas negociações do Brexit. É uma questão simbolicamente importante para o Reino Unido, que disputa o controle comercial marítimo com estados-membros da UE, como a França.
Também foi incluída uma cláusula que permitirá a jovens britânicos e europeus viver e trabalhar nos territórios uns dos outros por períodos determinados, cujos detalhes ainda serão definidos. O governo britânico também está em tratativas para retomar sua participação no programa de intercâmbio estudantil Erasmus+.
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Críticas dos opositores
O acordo foi questionado pelo Partido Conservador, oposicionista que estava no poder quando o Reino Unido deixou o bloco e passou anos negociando o Brexit. Segundo membros da legenda, o Reino Unido agora terá que aceitar as regras da UE.
Nigel Farage, líder do partido de ultradireita pró-Brexit Reform UK, chamou o pacto de "rendição abjeta – o fim do setor pesqueiro". A Scottish Fishermen's Federation (Federação Escocesa de Pescadores) também acusou o texto de ser um "show de horrores", pois os pescadores da UE poderão acessar as águas britânicas por muito mais tempo do que o esperado, pressionando a competição.
Críticos também veem o plano de mobilidade para jovens e profissionais como um retrocesso em direção à antiga circulação livre de pessoas, que permitia cidadãos da UE se mudarem para o Reino Unido
Já Chris Curtis, membro do Partido Trabalhista, argumenta que o pacto corrigiria alguns dos problemas criados pelo acordo original dos conservadores pós-Brexit e disse acreditar que a maioria das pessoas queria melhores relações.
"É muito fácil fingir que não há compensações, que você pode conseguir tudo o que quer e não precisa abrir mão de nada, mas isso é claramente uma balela", disse ele à Reuters.
Disputa pela exploração comercial de águas entre Reino Unido e França já foi alvo de protestos em 2021Foto: Oliver Pinel/AP/picture alliance
As pesquisas mostram que a maioria dos britânicos agora se arrepende de seu voto pelo Brexit.
Apesar do acordo, a economia do Reino Unido continuará significativamente diferente do que era antes de deixar o bloco. O Brexit custou milhares de empregos ao centro financeiro de Londres, pesou sobre a produção do setor e reduziu suas contribuições fiscais, segundo estudos.
Embora a UE seja o maior parceiro comercial do Reino Unido, o país foi atingido por uma queda de 21% nas exportações desde o Brexit devido à burocracia mais onerosa e a outras barreiras não tarifárias.
gq (reuters, ap)
O mês de maio em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Francesco Sforza/REUTERS
Morre Sebastião Salgado, gênio brasileiro da fotografia documental
Fotógrafo entrou em 1979 para a lendária agência Magnum Photos e ganhou fama internacional com suas imagens icônicas em preto e branco. Se no princípio a pobreza, a guerra e as migrações foram os principais motivos de seus trabalhos, mais tarde ele transformou sua obra numa homenagem colossal ao planeta. Reconhecido internacionalmente, Salgado morreu aos 81 anos. (23/05)
Foto: imago images / photothek
Israel reforça segurança de embaixadas após atirador matar dois de seus funcionários nos EUA
O casal Sarah Milgrim e Yaron Lischinsky foi morto a tiros ao deixar um evento no Museu Judaico da Capital, em Washington. O suspeito foi detido aos gritos de "Palestina livre". O ataque ocorreu num momento em que o governo israelense é alvo crescente de críticas internacionais pela forma como conduz a ofensiva contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza. (22/05)
Salão Oval vira, mais uma vez, palco de "emboscada"
O presidente dos EUA, Donald Trump, aproveitou a visita do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, para apresentar supostas provas de um "genocídio" contra fazendeiros brancos sul-africanos, teoria propagada por Elon Musk. O mal-estar diplomático foi transmitido ao vivo. Jovens negros são as maiores vítimas da violência na África do Sul, que ainda enfrenta marcas do apartheid. (21/05)
Foto: Jim Watson/AFP/Getty Images
Reino Unido sanciona Israel por ofensiva militar em Gaza
Após avisar que tomaria "ações concretas" contra a escalada das operações israelenses em Gaza, o Reino Unido interrompeu as negociações sobre um acordo de livre comércio com Israel, convocou a embaixadora do país para prestar esclarecimentos e impôs novas sanções contra colonos da Cisjordânia. Já a UE disse estar aberta a revisar um acordo de associação com Israel. (20/05)
Foto: REUTERS
União Europeia e Reino Unido firmam maior acordo pós-Brexit
Quase nove anos depois de votar pelo Brexit, o Reino Unido chegou a um amplo acordo com a União Europeia que vai redefinir seus laços comerciais e de defesa. O pacto viabiliza investimentos militares, reduz controles de fronteira e compartilha controle comercial marítimo. (19/05)
Foto: Carl Court/AP/picture alliance
Leão 14 celebra missa inaugural de seu pontificado
O papa Leão 14 celebrou sua missa de entronização, que inaugura seu pontificado e marca oficialmente o início de seu período à frente do Vaticano e da Igreja Católica. Na homilia, o papa pediu união e amor à humanidade, e condenou o sistema econômico que explora os recursos da Terra e marginaliza os pobres (18/05)
Foto: Yara Nardi/REUTERS
Áustria vence Eurovision 2025
O festival Eurovision 2025 chegou ao fim com a vitória de Johannes Pietsch, conhecido como JJ, da Áustria, que apresentou a canção "Wasted Love". O cantor de ópera foi o vencedor com um total de 436 pontos, 154 dos quais obtidos através do voto popular. (17/05)
Foto: Denis Balibouse/REUTERS
Surto de gripe aviária no Brasil
A confirmação do primeiro surto de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil levou alguns países como China e Argentina a interromperem a compra de carne de frango brasileira, pressionando o mercado bilionário de exportação do produto. Governo afirma que as medidas de contenção e erradicação para debelar a doença e manter a capacidade produtiva do setor já foram tomadas. (16/05)
Foto: JUSTIN SULLIVAN/Getty Images/AFP
Israel intensifica ataques enquanto mantem bloqueio a Gaza
Defesa Civil palestina relatou mais de 100 mortes em apenas um dia em ataques israelenses à Faixa de Gaza, onde a crise humanitária e a escassez de recursos atingem níveis cada vez mais alarmantes. ONU alerta que estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos atingiram níveis extremamente baixos. (15/05)
Foto: Hatem Khaled/REUTERS
Alemanha prende três por planejarem atos de sabotagem
O Ministério Público da Alemanha anunciou a prisão de três cidadãos ucranianos, dois deles na Alemanha e um na Suíça, por suspeita de atuarem como agentes da Rússia para realizar atos de sabotagem com explosivos no transporte de cargas alemão. (14/05)
Foto: Uli Deck/dpa/picture alliance
Morre "Pepe" Mujica, o presidente mais humilde do mundo
O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos. Ele estava em estágio terminal de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos. Sua morte foi informada pelo atual líder do país sul-americano, Yamandu Orsi. Líderes do mundo inteiro se despediram do ex-guerrilheiro uruguaio. (13/05)
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/IMAGO
Hamas anuncia libertação de refém israelense-americano
O braço armado do Hamas informou que libertou o soldado israelense-americano Edan Alexander, de 21 anos, que havia sido mantido como refém em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A libertação ocorreu "após contatos com a administração dos EUA, no âmbito dos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo", disse a organização terrorista palestina em comunicado (12/05).
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/dpa/picture alliance
Primeira bênção dominical do papa Leão 14
Em sua primeira bênção dominical na Praça de São Pedro, o papa Leão 14 pediu uma paz genuína e justa na Ucrânia e um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "Depois desse cenário dramático de uma terceira guerra mundial em pedaços, como tantas vezes afirmou o papa Francisco, eu me dirijo também aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra", afirmou o pontífice. (11/05)
Foto: Vatican Media/ZUMA Press/IMAGO
Macron, Merz, Starmer e Tusk visitam Kiev
Os líderes do Reino Unido, Keir Starmer, da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Friedrich Merz, e da Polônia, Donald Tusk, se encontraram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev, uma demonstração conjunta de apoio à Ucrânia. A visita ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, receber aliados no evento que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra em Moscou. (10/05)
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP/Getty Images
Leão 14 celebra sua 1ª missa como novo papa
O papa Leão 14 celebrou sua primeira missa após ter sido escolhido como o novo líder da Igreja Católica. O missionário agostiniano retornou à Capela Sistina, onde ocorreu o conclave, para celebrar a missa na presença dos cardeais. Na homilia, disse que foi eleito para que a Igreja possa ser um "farol" para iluminar as regiões do mundo onde haja falta de fé. (09/05)
Foto: VATICAN MEDIA/Handout/AFP
Cardeal americano Robert Prevost é eleito novo papa
O conclave elegeu o cardeal americano Robert Prevost, de 69 anos, como o 267º papa da Igreja Católica. Missionário agostiniano, ele é o primeiro pontífice nascido nos EUA da história. Em seu primeiro discurso aos fiéis, homenageou o papa Francisco, pediu construção de pontos e paz a todos os povos. (08/05)
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Começa o conclave que irá eleger o novo papa
Cardeais de todo o mundo estão reunidos no Vaticano para eleger o próximo líder da Igreja Católica.133 cardeais de 71 países estão aptos a votar no maior e mais geograficamente diverso conclave em 2 mil anos de história. Ao fim do primeiro dia, fumaça preta na chaminé da Capela Sistina indicou que não houve consenso em torno de um novo nome. (07/05)
Foto: Gregorio Borgia/AP/picture alliance
Merz toma posse após tropeço histórico no Bundestag
O Bundestag (Parlamento) elegeu oficialmente, em segunda votação, o conservador Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como o novo chanceler federal do país Ele é o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990. O conservador conseguiu o feito inédito de não conseguir se eleger na primeira rodada de votação (06/05).
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Israel se prepara para ampliar ofensiva militar em Gaza
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a "conquista" do território palestino e a pressão para que residentes se desloquem para o sul. No domingo, militares israelenses já haviam iniciado uma convocação em massa de reservistas para ampliar a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza. (05/05)
Foto: Omar Ashtawy/ZUMAPRESS.com/picture alliance
Míssil disparado do Iêmen cai perto do aeroporto de Tel Aviv
O Aeroporto Internacional de Ben Gurion, na região de Tel Aviv, foi alvo de um ataque de míssil. Os rebeldes Houthis, do Iêmen, grupo aliado do Hamas, reivindicaram a autoria do ataque, que causou interrupção no tráfego aéreo. O exército israelense reconheceu que não conseguiu interceptar o míssil. (04/05)
Foto: Ohad Zwingenberg/AP/dpa/picture alliance
Austrália: esquerda reelege premiê em meio a onda anti-Trump
O primeiro-ministro da Austrália, o trabalhista Anthony Albanese, proclamou a vitória de seu partido nas eleições gerais. Ele se tornou, assim, o primeiro chefe de governo a conquistar um segundo mandato consecutivo de três anos em 21 anos. "Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros e construindo o futuro", disse Albanese. (03/05)
Foto: Rick Rycroft/AP Photo/picture alliance
Inteligência alemã classifica AfD como extremista de direita
A inteligência interna da Alemanha classificou sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia e viola a dignidade humana ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes. A medida permite às agências de segurança monitorarem de forma mais incisiva o partido. (02/05)
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Trabalhadores ao redor do mundo protestam no 1º de Maio
Redução de jornada, garantia de direitos e melhoria do ambiente de trabalho foram algumas das reivindicações de manifestações em todo o mundo no Dia do Trabalhador, como nesta em Daca, capital de Bangladesh. A data remonta ao início de uma greve em Detroit ocorrida em 1886, que resultou na prisão e morte de trabalhadores. (01/05)