União Europeia recebe Prêmio Nobel da Paz na capital norueguesa
10 de dezembro de 2012O discurso de entrega do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia (UE), nesta segunda-feira (10/12) em Oslo foi, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma advertência por parte de Thorbjörn Jagland, presidente do Comitê do Nobel da Paz.
Jagland lembrou os primórdios do bloco com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1951; o Tratado de Roma, constitutivo da Comunidade Econômica Europeia, em 1957; e a queda do Muro de Berlim, em 1989, que permitiu a entrada de novos Estados-membros.
Em seu discurso, Jagland ressaltou a importância do ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl na reunificação alemã e no processo europeu de integração. Por outro lado, lembrou as dificuldades de integração ainda existentes no continente, principalmente nos Bálcãs, onde ele mencionou o caso do Kosovo e da Bósnia e Herzegovina.
"Devemos cuidar juntos para não perdermos o que construímos sobre os escombros de duas guerras mundiais", disse Jagland, lembrando as 80 milhões de vítimas de guerra e extremismo em solo europeu no século passado.
O presidente do Comitê do Nobel da Paz apontou também para o papel da França e da Alemanha na criação da UE. E não foi à toa que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, sentaram lado a lado durante a cerimônia em Oslo. Um dos pontos altos da entrega do Nobel da Paz foram os aplausos recebidos por Merkel e Hollande.
Papel estabilizador
Quando Jagland anunciou a decisão, em 12 de outubro último, em Oslo, espalharam-se pela plateia sussurros de surpresa. Mas o comitê justificou sua decisão, dizendo que a União Europeia merecia o Nobel da Paz "porque a UE e seus precursores têm contribuído por mais de seis décadas para o avanço da paz e da reconciliação, democracia e direitos humanos na Europa". E essa, de acordo com o comitê, "foi a principal contribuição da UE".
Em tempos em que a rotina diária das instituições europeias consiste em lidar com questões complicadas referentes ao mercado comum europeu, à proteção dos direitos do consumidor ou ao resgate do euro, essas são questões que muitos europeus consideram óbvias.
Mas, de acordo com o Comitê, quer seja o processo de reconciliação franco-alemã, a adesão dos antigos Estados soviéticos ou o sonho europeu de muitos países nos Bálcãs ocidentais, "o papel estabilizador exercido pela União Europeia contribuiu para transformar a maior parte da Europa de um continente de guerra em um continente de paz".
Prêmio é também um aviso
Os representantes oficiais da UE ficaram satisfeitos com o prêmio e não tiveram nenhum problema quanto à compreensão da justificativa. O presidente do Conselho da União Europeia, Herman Van Rompuy, chegou a chamar a UE de "a maior instituição pacificadora já criada na história mundial". O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, apresentou-se como um amigo do povo, assinalando que o prêmio não foi concedido somente às instituições da UE e aos Estados-membros, mas também aos 500 milhões de cidadãos do bloco europeu.
A ideia de usar o Nobel da Paz para dispersar o mau humor espalhado pela UE veio de Durão Barroso. "O prêmio da Comissão do Nobel mostra que, mesmo nestes tempos difíceis, a União Europeia continua a ser uma inspiração para países e povos de todo o mundo, e mostra ainda que a comunidade internacional precisa de uma União Europeia forte."
No entanto, poucos dias depois, o presidente do Comitê do Nobel da Paz alertou para um colapso da UE em entrevista à edição dominical do jornal berlinense Tagesspiegel. O Comitê do Nobel, disse Jagland, também aproveitou a decisão para apontar "o que está em jogo". "Se o euro fracassar, o mercado comum pode desintegrar-se. Ninguém sabe aonde isso poderia levar."
O que aconteceu com a inspiração?
Críticos do prêmio afirmam que a UE não corresponde às expectativas do Nobel. Entre os pontos criticados, estão a falta de ajuda para refugiados e a venda de armamentos em grande escala para zonas de conflito. Além disso, a UE não teria feito nada para impedir o aumento do abismo social na Europa.
Alguns chegaram mesmo a ridicularizar a decisão de Oslo, como o britânico Nigel Farage, um notório crítico da UE entre os parlamentares europeus. Ele chamou o prêmio de "mentira de 1° de abril atrasada."
Mas esse é um exemplo extremo, e é consideravelmente maior o número daqueles que pensam como a eurodeputada Rebecca Harms, do Partido Verde. Poucos dias após o anúncio, logo após a cúpula da UE, ela foi perguntada sobre o clima na cúpula e indagou incrédula: "O que aconteceu? Por que não paramos por um momento? Por que o apelo do comitê do Prêmio Nobel para fazer uma pausa e pensar grande está, na verdade, virando fumaça?"
Propositalmente de fora
Mas, em vez de pensar grande, tem havido muita discussão em torno de minúcias. A questão de quem iria receber realmente o prêmio em Oslo causou um grande alvoroço. O presidente do conselho, Van Rompuy, o presidente da Comissão, Durão Barroso, e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, logo concordaram que iriam todos juntos. No final, Van Rompuy e Durão Barroso receberam o diploma do Prêmio Nobel, enquanto Schulz segurou a medalha.
Outra questão envolveu os chefes de Estado e governo a prestigiar a cerimônia de entrega do prêmio. Merkel disse que todos os 27 líderes do bloco deveriam ir. Mas a ausência do primeiro-ministro britânico, o eurocético David Cameron, não surpreendeu ninguém. Seu colega de pasta tcheco, Vaclav Klaus, também ficou no Castelo de Praga.
A União Europeia é, realmente, um nobre projeto de paz para o mundo? As discussões em torno do Prêmio Nobel mostram antes a banalidade do dia a dia na UE. Mas, em comparação aos primórdios, talvez essa seja realmente sua grande conquista.
Autores: Christoph Hasselbach / Carlos Albuquerque
Revisão: Francis França