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Unidos pela África

Estelina Farias17 de agosto de 2003

Paralelo à campanha do UNICEF pela reintegração de 300 mil crianças soldados no mundo, 23 ONGs alemãs se uniram para combater a pobreza na África, onde sobretudo a fome já levou 120 mil menores à luta armada.

Menino de 12 anos com Kalashnikov em Serra LeoaFoto: DPA

Na primeira ação comum do gênero na história da Alemanha, 23 organizações de ajuda humanitária abriram uma conta conjunta para arrecadar donativos da população. Antes do lançamento da campanha nacional, prevista para os três primeiros dias de novembro, o popular cantor Herbert Grönemeyer vai visitar vários projetos no Congo, Ruanda e Burundi. Com a campanha "Gemeinsam für África" (Unidos pela África) o artista e as ONGs esperam despertar a comprovada generosidade dos alemães para combater a miséria no continente africano.

Não é por acaso que o número de crianças soldados seja tão grande na África. A pobreza empurra muitas para as fileiras rebeldes ou para os Exércitos oficiais, onde esperam escapar da fome, com pelo menos um prato de comida por dia. Além disso, em países conturbados como Sudão, Libéria e Angola, as crianças procuram segurança nas tropas. Recrutamento forçado de crianças é também uma prática comum. Outras são vendidas pelos próprios pais às partes em conflito. Nos lugarejos onde grupos étnicos combatem entre si, as crianças não conhecem nada além da guerra.

As partes em conflito lucram com a miséria,

diz o presidente do UNICEF na Alemanha, Reinhard Schlagintweit. "As crianças são baratas, podem ser convocadas às armas com grande facilidade e são fácies de ser manipuladas. Elas são mais obedientes e sob a ação de drogas obedecem ordens sem pestanejar", afirmou.

A maioria dos países africanos tem leis que proíbem ação de menores na guerra, mas que estão só no papel. Na prática existem crianças de até sete anos participando da luta armada. Meninos e meninas servem como pombos-correio, carregadores ou cozinheiros, e também com armas de mão. Elas podem também matar, inclusive outras crianças. São obrigadas, com freqüência, até a torturar e matar parentes e membros de tribos, para dificultar o seu retorno para casa.

Meninas sofrem abusos sexuais

ou são forçadas a casar com soldados. O conflito no Congo bateu o triste recorde neste capítulo, pois 60% de algumas milícias no leste do país são crianças. "O futuro de grupos populacionais inteiros será impregnado por esse trauma", lamenta o representante do UNICEF na Alemanha. As piores conseqüências para a crianças que lutaram em guerra são insônia, agressividade, depressão e incapacidade de aprendizagem, segundo Schlagintweit.

Ainda não dá para prever o que o conflito psíquico de toda uma geração representa para a sociedade. Mas, para Schlagintweit, é óbvio que o desenvolvimento econômico de uma nação sofre quando suas crianças trocam a escola pelo campo de batalha e, em vez de um brinquedo, têm uma arma na mão.

Desde o início dos anos 90

o UNICEF tem projetos para ajudar crianças a escapar das guerras. Nesse meio tempo há, por exemplo, centros de transição no Congo, onde crianças que desertam recebem roupa, comida e, o que é muito importante, assistência psicológica, para esquecer os horrores da guerra. Elas são preparadas para uma vida normal com aulas, esporte e brincadeiras em grupo. Quem ainda tem uma família é levado de volta para casa no espaço de dois ou três meses. O UNICEF assistiu 650 crianças soldados desde 2001, mas 30 mil ainda estão em combate.

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