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Universidade alemã oferece bolsa para não fazer nada

Stefan Dege ip
24 de agosto de 2020

Projeto de arte dará 1.600 euros para candidatos que apresentarem as melhores ideias sobre o que pretendem não fazer. Iniciativa quer estimular reflexão sobre valores da sociedade.

Estudantes em frente à Universidade de Belas Artes de Hamburgo
Propostas de candidatos à bolsa da Universidade de Belas Artes de Hamburgo serão apresentadas em exposição Foto: HfBK Hamburg/Robert Schlossnickel

"Boa noite, senhoras e senhores, bom dia, caros artistas", é assim que se brinca muitas vezes de forma irônica sobre a profissão de quem trabalha no meio cultural. Agora foi a vez da Universidade de Belas Artes de Hamburgo (HfBK) anunciar uma bolsa para não se fazer nada. Qualquer um pode se inscrever, artista ou não. O idealizador do projeto, Friedrich von Borries, promete 1,6 mil euros (mais de 10 mil reais) para cada um dos três candidatos que mais convencerem o júri.

Mas o projeto de arte, como a universidade chama a iniciativa, é menos sobre o dolce far niente, ou "o doce fazer nada". Os candidatos devem, antes de tudo, declarar o que exatamente não querem fazer (mais) e por quanto tempo pretendem não fazê-lo.

"Pode ser um apresentador de rádio que decide não dizer nada por cinco minutos em um programa. Ou alguém que não quer produzir lixo plástico por um mês", disse Borries à DW. As propostas dos candidatos à bolsa serão apresentadas a partir de 6 de novembro de 2020 numa exposição no Museu de Artes e Ofícios de Hamburgo.

O que acontece quando deixamos de fazer algo? Quais são as consequências disso para o meio ambiente, a sociedade, a saúde, o clima? Com a iniciativa, o arquiteto, curador, designer e escritor quer ajudar a mudar a sociedade.

"Para a transformação ecossocial, precisamos de uma mudança cultural e, para isso, temos que mudar nosso comportamento", afirma. "Mas essa mudança só pode ser alcançada quando mostramos perspectivas positivas, em vez de pregarmos a renúncia!" Segundo Borries, a renúncia soa muito negativa. "Todo mundo acha bom colocar os pés para cima. Mas ninguém gosta de ouvir que não pode mais fazer isso ou aquilo."

"A ausência de resultado", conforme define Borries, seria uma rejeição do pensamento focado no desempenho. Basta de tentar ser mais alto, mais rápido ou ir mais longe. "É sobre sair da espiral de luta pelo sucesso, da roda do hamster." Ele lamenta que o status social ainda seja medido por referências como tamanho da casa, velocidade do carro ou espessura do relógio.

"Se queremos viver numa sociedade que usa menos energia e desperdiça menos recursos, esse é o sistema de valores errado", explica Borries. "Não seria muito melhor ganhar prestígio social com ter tempo para sonhar, tempo para ir nadar com as crianças, encontrar amigos, colocar os pés para cima, tempo para não fazer nada?" Este é o debate que Borries deseja iniciar e, assim, moldar a sociedade de amanhã.

Debate sobre renda básica incondicional

A renda básica incondicional é discutida há muito tempo na Alemanha. Recentemente, o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) lançou um estudo para saber como a vida de beneficiários muda quando eles recebem 1.200 euros todos os meses. A pesquisa de longo prazo será realizada em conjunto com a associação Mein Grundeinkommen (minha renda básica), o Instituto Max Planck e a Universidade de Colônia.

O projeto, que é financiado por meio de doações, prevê que 120 participantes recebam 1.200 euros por mês por três anos a partir de 2021. "Queremos descobrir como isso influencia o comportamento e as atitudes e se a renda básica pode ajudar a lidar com os desafios atuais da nossa sociedade", disse Michael Bohmeyer, fundador da associação Mein Grundeinkommen, no lançamento do projeto em Berlim.

Entre os defensores famosos da renda básica estão, por exemplo, a chefe do partido A Esquerda, Katja Kipping, além do fundador da rede de drogarias alemã DM, Götz Werner. A ideia é que todos recebam esse "dinheiro do cidadão" – seja rico, pobre, bebê ou idoso. Críticos apontam para os altos custos da proposta e alertam que tal pagamento pode frear a motivação para trabalhar e ser criativo ou até tornar os beneficiários mais infelizes.

Borries não quer ser visto como um sonhador ou um fantasista. Críticas à sua bolsa para não fazer nada, garante ele, só vieram da associação de contribuintes, que quer saber quem está financiando o projeto. "Ninguém para de buscar o sucesso, nem mesmo quem se encontra em uma situação financeira segura", afirma.

As propostas enviadas pelos candidatos à bolsa são aguardadas com curiosidade. Talvez o não fazer nada pode levar mais criativos a ter boas ideias sustentáveis.

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