Universidade de Cinema Konrad Wolf cuida do legado audiovisual
24 de julho de 2014Fundada no dia 1° de novembro de 1954, a Universidade de Cinema Babelsberg Konrad Wolf era até pouco tempo chamada Escola Superior de Cinema e Televisão Konrad Wolf. Até 1966, foi a única instituição de ensino de cinema na Alemanha. A condição recém-adquirida de "universidade" permite à HFF (das iniciais da Escola em alemão), como continua sendo conhecida, oferecer doutorados em várias áreas, entre elas em Direito de Mídia.
Com aproximadamente 550 estudantes (a cada ano ingressam de 100 a 150 alunos novos), a universidade tem hoje um orçamento de 14 milhões de euros e é possivelmente a mais bem equipada do país na área. Cerca de 13% dos estudantes vêm de outros países. A ideia de transformar a então escola superior em universidade abriu portas para a pesquisa acadêmica, sem deixar de lado a prática, pela qual a HFF se tornou conhecida ao longo de seus 60 anos de existência.
Oferta diversificada
As áreas de formação oferecidas são diversas: direção de cinema e TV, direção de fotografia, roteiro/dramaturgia, animação, produção de cinema e TV, trilha sonora, montagem, ciência da mídia, cultura da mídia digital, cenografia, som, além de formação específica para atores e atrizes. E o número de candidatos interessados é altíssimo. O curso de Ciência da Mídia é o mais teórico de todos, incluindo cadeiras como estética da recepção e distribuição de produtos audiovisuais.
Especialmente o curso de direção atrai um alto número de candidatos (geralmente mais de mil ao ano), embora as vagas se resumam a apenas 9 a 12 por ano. Da lista de nomes conhecidos que estudaram na HFF consta o do cineasta Andreas Dresen (Sombras da Noite, Entre Casais, Verão na Sacada, Nuvem Nove), um dos mais conceituados diretores alemães da atualidade, bem como os de Thomas Brussig, Robert Thalheim ou do músico Frank Dellé, da banda Seeed.
No entanto, como salienta Robert Thalheim em depoimento publicado em 2013 no volume Global Cinema – The Education of filmmakers in Europe, Australia and Asia, editado por Mette Hjort, "só há uma meia dúzia de diretores que podem, de fato, viver única e exclusivamente de seus projetos autorais para cinema". Talheim lembra que até aquele momento, entre os colegas da própria turma, desde o fim do curso 50% tinham concluído apenas um longa. Outros 33% tinham conseguido fazer um segundo e somente ele próprio havia finalizado um terceiro longa-metragem. Prova de que o sistema de fomento do país, que sucede a graduação em cinema, não consegue suprir a demanda de todos os que concluem seus cursos na área.
Estúdios Babelsberg
Não resta dúvida, contudo, que um diploma da Universidade de Cinema Konrad Wolf é um bom cartão de visita. A instituição, pela proximidade, acaba remetendo com frequência aos vizinhos Estúdios Babelsberg – estes com mais de 100 anos de existência e os mais antigos estúdios de cinema da Europa. Os mesmos que rendem à pequena Potsdam, situada nos arredores de Berlim, o título de "cidade do cinema".
Fundados em 1912, os estúdios Babelsberg sobreviveram a quatro regimes políticos: a monarquia, a República de Weimar, o nazismo e o comunismo da Alemanha Oriental. O nome Babelsberg está até hoje associado a nomes como Friedrich Wilhelm Murnau, Fritz Lang, Ernst Lubitsch e Billy Wilder e remete aos áureos tempos dos filmes mudos, bem como aos primórdios do cinema falado.
O mito em torno de Babelsberg se deve entre outros ao clássico Metrópolis, de Fritz Lang, rodado em grande parte ali entre os anos de 1925 e 1926 e exibido pela primeira vez em 1927. Consta que até mesmo Alfred Hitchcock teria dito que tudo o que precisava para fazer cinema teria "aprendido em Babelsberg", onde trabalhou nos idos de 1924/1925, quando teve a oportunidade de apreciar in loco o trabalho de Friedrich Wilhelm Murnau.
A era DEFA e os tempos pós-queda do Muro de Berlim
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os estúdios DEFA (Deutsche Film-AG) realizaram nos estúdios Babelsberg mais de 1200 filmes para cinema e TV. Depois da Queda do Muro e com a reunificação alemã, os estúdios foram privatizados e abrigaram desde então uma série de grandes produções cinematográficas, entre elas O Pianista, de Roman Polanski, e Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. As instalações contam com 16 estúdios altamente equipados, além de uma área de 156 mil metros quadrados de cenários externos. Ou seja, uma parceria e tanto para os estudantes da vizinha Universidade Konrad Wolf.
A produção dos próprios estudantes por ano também é alta: como parte integrante da formação profissional, os alunos concluem a cada ano uma série de filmes de ficção, documentários, animações e projetos de novas mídias, com presença regular marcada em diversos festivais dentro e fora da Alemanha. Anualmente acontece ainda um festival próprio dentro das dependências da universidade, cujo título é Sehsüchte – um trocadilho que mistura a palavra Sehnsüchte (saudades) e o verbo "ver" em alemão (sehen).
Os prêmios destinados aos alunos da escola também não são poucos, resultantes da presença de trabalhos apresentados em mais de 50 festivais do mundo todo ano. Uma consequência do esforço dos alunos e do trabalho de docentes recrutados de vários países, entre eles Estados Unidos, Brasil, Hungria, Irã, Bélgica, Grécia, Japão, Suíça, Canadá, Israel e França.
No decorrer dos 60 anos de existência da HFF, a escola formou nada menos que cinco mil profissionais de cinema. Destaca-se atualmente sobretudo o setor de animação. Ao lado de outras instituições de ensino na área de artes visuais do país, a Universidade de Cinema Babelsberg Konrad Wolf é uma das responsáveis pela produção de animações da Alemanha.
Herança audiovisual
Na HFF existe hoje uma cadeira intitulada Herança Cultural Audiovisual. Na era digital, este assunto ganha extrema relevância, uma vez que os arquivos cinematográficos não podem mais ser armazenados num espaço físico concreto, mas precisam ser delegados aos departamentos de informática das instituições que os preservam. Se o arquivista do passado guardava os rolos de filme num espaço bem ventilado e com iluminação adequada, o do presente precisa estar constantemente atento à deterioração do material, além de ter que cuidar da migração constante dos dados para plataformas que vão se modernizando.
Em 2001, por exemplo, Metrópolis, de Fritz Lang, foi incluído na lista de patrimônio cultural da humanidade. A HFF se vê, neste contexto, como um dos lugares mais adequados para o debate sobre a herança cultural, processos de digitalização, restauração e arquivamento de material. Desde julho de 2011, o Museu do Cinema de Potsdam passou a pertencer à Universidade, o que facilita ainda mais a interação entre professores e alunos interessados na questão. Quem quiser pode se aprofundar a ponto de se tornar especialista neste setor tão importante para a preservação da memória cultural na era do virtual e do digital.