Universidade dos EUA abre arquivos de Garcia Márquez
12 de dezembro de 2017
Instituição disponibiliza gratuitamente mais da metade do arquivo de 27 mil páginas do Nobel em Literatura. Medida chama a atenção, já que obra do colombiano continua protegida por direitos autorais.
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Mais da metade de um arquivo de 27 mil páginas referentes ao escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez foi liberada para uso público gratuito, informou o jornal The New York Times nesta segunda-feira (11/12).
A iniciativa partiu do Centro Harry Ransom, da Universidade do Texas, que adquiriu o arquivo literário do autor em 2014 por 2 milhões de dólares. A medida chama a atenção pelo fato de a obra ainda estar sob proteção dos direitos autorais.
"Muitas vezes, tem-se uma visão limitada da propriedade intelectual, com a ideia de que o uso acadêmico ameaça ou diminui seu interesse comercial", disse ao jornal Steve Enniss, diretor do Harry Ransom Center.
"Agradecemos a família de Gabo por liberar o arquivo e reconhecer esse trabalho como uma prestação de serviço a seus leitores em todo o mundo", acrescentou, usando o popular apelido pelo qual Garcia Márquez é conhecido.
Desde 2015, quando foi aberto para pesquisas, o arquivo do escritor colombiano se tornou uma das coleções mais circuladas da instituição, um fenômeno que agora deverá se expandir ainda mais.
"Qualquer pessoa com acesso à internet pode ter uma visão aprofundada do arquivo de García Márquez", disse Jullianne Ballou, bibliotecária do projeto Ransom Center. "Abrangendo mais de meio século, o conteúdo reflete a energia e a disciplina de García Márquez e revela uma visão íntima de seu trabalho, família, amizades e política."
O escritor alcançou renome internacional graças ao uso do chamado "realismo mágico”, especialmente em romances aclamados como 100 anos de solidão e O amor nos tempos de cólera. Após sua morte em 2014, ele chegou a ser descrito pelo presidente Juan Manuel Santos como o "maior colombiano que já viveu".
Garcia Márquez começou a carreira de escritor como jornalista e não teve medo de tecer críticas tanto contra políticos colombianos como contra estrangeiros. Um crítico ardente do capitalismo desenfreado, também se opôs ao que ele apontou ao longo de sua vida como um imperialismo arrebatador por parte do governo dos Estados Unidos.
Seus laços com o partido comunista da Colômbia foram inclusive motivo para que ele fosse proibido de entrar nos EUA por três décadas. Ironicamente, Garcia Márquez é o romancista favorito do ex-presidente americano Bill Clinton, que uma vez o chamou de "o mais importante escritor de ficção em qualquer idioma desde a morte de William Faulkner".
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Curiosidades sobre o Nobel de Literatura
O homenageado mais jovem, os mais controversos, os que não quiseram buscar o prêmio e outras curiosidades do Nobel de Literatura, que é concedido desde 1901.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Por livro antigo
Quando Thomas Mann recebeu o Nobel de Literatura em 1929, não foi pela sua então obra mais recente, "A montanha mágica". O escritor foi homenageado por seu romance anterior, "Os Buddenbrook". Os jurados do Nobel na Suécia consideraram ""A montanha mágica" muito "prolixo e pesado", por isso optaram por uma obra mais antiga.
Foto: picture-alliance/dpa/Bifab
"Outros compromissos" mais importantes
Bob Dylan foi o primeiro músico a ganhar o Nobel de Literatur em 2016. Embora muitos músicos tenham celebrado o fato, Dylan demonstrou dar pouca importância ao prêmio. Ele não só não compareceu à cerimônia de entrega, alegando outros compromissos, como não enviou nenhum discurso para ser lido em sua ausência. Em março de 2017, então, ele deu uma passada por Estocolmo par apanhar sua medalha.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Medo de aglomeração humana
Também a escritora austríaca Elfriede Jelinek não compareceu à cerimônia de premiação em 2004. Na época, alegou sentir medo em aglomerações humanas e da popularidade repentina: "Não estou em condições psíquicas de me expor a isso". Mas ela ao menos mandou um discurso por vídeo.
Foto: Imago/Leemage/S. Bassouls
Ameaça do regime soviético
O autor russo Boris Pasternak, famoso pelo romance "Doutor Jivago", foi homenageado em 1958. Seu governo, no entanto, o ameaçou de expatriação se aceitasse o prêmio. Pasternak não cedeu à pressão, o que lhe valeu a saída da Associação dos Escritores da União Soviética. Apesar de tudo, Pasternak permaneceu no país. A medalha pelo Nobel foi apanhada pelo filho dele em Estocolmo em 1989.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Outro prêmio controverso
A elite literária se indignou em 1997, alegando que o italiano Dario Fo, homenageado naquele ano com o Nobel de Literatura, era apenas um "bufão divertido e não um autor de classe mundial". Ao que o escritor respondeu com um discurso memorável ao receber o prêmio da Academia sueca.
Foto: Vittorio Zunino Celotto/Getty Images
Nobel pela retórica
Por duas vezes, o então premiê britânico Winston Churchill esteve na lista de nomeados ao Nobel da Paz. Até que, em 1953, ele recebeu o prêmio, mas de Literatura. O júri elogiou sua "maestria na descrição histórica e biográfica" e por sua "brilhante oratória, em que defende os valores humanos".
Foto: picture-alliance/AP-Photo
Interesse pelo dinheiro do prêmio
Em 1969, o prêmio foi para o francês Jean-Paul Sartre. Mas ele surpreendentemente o negou, alegando que "todo prêmio cria a dependência". Mais estranho ainda foi que, alguns anos mais tarde, ele discretamente perguntou junto ao Comitê Nobel se não seria possível receber as 273 mil coroas suecas do prêmio.
Foto: picture alliance/AP Images
O mais jovem
O britânico Joseph Rudyard Kipling é o mais jovem agraciado com o Nobel de Literatura. Ele o recebeu em 1907, com 41 anos de idade, por suas histórias curtas e poemas sobre o tempo que passou na Índia e por suas famosas histórias infantis como "O livro da selva". Ele também foi o primeiro escritor britânico a ganhar o Nobel de Literatura.
Foto: Getty Images/Hulton Archive
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