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Universitários alemães e Brasil debatem sobre comércio mundial

Fernando Scheller29 de maio de 2006

Alunos de mestrado da Universidade de Kassel visitam missão brasileira na Organização Mundial do Comércio, em Genebra, e debatem com negociadores do Brasil o caráter desenvolvimentista das disputas comerciais.

Foto: AP

Uma cena rara: universitários europeus se reúnem para debater questões brasileiras e a pauta da reunião não é samba, carnaval ou violência.

Em Genebra, na Suíça, dez alunos do mestrado em Economia e Política Internacional da Universidade de Kassel, na Alemanha, encontraram-se com negociadores brasileiros para entender melhor o processo de disputas comerciais na Organização Mundial do Comércio (OMC). E tentar relacionar as reuniões que ocorrem nos escritórios bem decorados de Genebra com a resolução de um dos maiores problemas brasileiros: a distribuição de renda.

De acordo com Cláudia Maciel, uma das representantes da missão brasileira em Genebra, a questão agrícola é fundamental para países como o Brasil: "O agronegócio tem o lado social, da agricultura familiar, e representa o lado desenvolvimentista da liberalização comercial".

Brasil, líder do G-20

O raciocínio dos países em desenvolvimento – representados na questão agrícola pelo grupo G-20, do qual o Brasil é visto como líder – é simples. A redução de subsídios, uma prática que distorce a competição internacional, deixaria o caminho livre para as economias de menor porte exercerem sua vantagem comparativa no agronegócio, uma vez que as nações em desenvolvimento produzem alimentos mais baratos – e sem ajuda governamental.

Dentro do raciocínio da OMC, tarifas também deveriam desaparecer, embora tenha ficado claro na reunião que as mudanças nas políticas dos EUA e da União Européia só vão ocorrer no longo prazo.

Subsídios

A luta contra os subsídios é prioritária para o Brasil. Segundo explicaram os negociadores brasileiros, a identificação das barreiras tarifárias é mais fácil, pois a porcentagem é claramente definida e o debate para sua redução pode ser feito de maneira mais objetiva. Já a notificação de subsídios é mais lenta, até porque muitos países europeus têm demorado em informar o real tamanho do apoio governamental ao agronegócio.

Os representantes da missão brasileira em Genebra disseram acreditar que a sociedade civil é uma aliada da posição do G-20. Isso porque as mudanças trazidas pela redução de subsídios vão levar à redução dos preços dos alimentos em todos os continentes.

Embaixador brasileiro na OMC, Clodoaldo HugueneyFoto: Fernando Scheller

O Brasil, em especial, está atrelando a abertura comercial em produtos industriais à redução das barreiras para seus produtos agrícolas. Na medida em que o país ganha competitividade e aumenta a produtividade no campo, o agronegócio se torna um setor cada vez mais vital para a economia. Por isso, a abertura que o país conseguir em agricultura e pecuária será a base para a contrapartida em produtos industrializados.

Capacidade de negociação

Os estudantes da Universidade de Kassel levantaram também a questão da capacidade de negociação dos diferentes membros da OMC – uma vez que países desenvolvidos e nações de pequena capacidade econômica têm equipes de tamanhos diferentes na estrutura da OMC.

Enquanto países como Estados Unidos e grupos como a União Européia têm dezenas de pessoas trabalhando em suas missões, há países africanos com apenas um representante, que muitas vezes trabalha em meio período. O Brasil, em posição intermediária, tem cerca de 12 pessoas trabalhando diretamente nos contenciosos da missão em Genebra.

Neste sentido, explicaram os negociadores, a Rodada Doha tem o objetivo de aumentar as oportunidades dos países em desenvolvimento. Desde o início das discussões estava claro que nações de poder econômico diferente não podem negociar nos mesmos termos. Por isso, o G-20 quer assegurar o melhor acordo possível para os países de economia mais frágil.

Impasse

Neste momento, porém, a Rodada Doha vive um momento crítico. Com eleições nos EUA e em vários países da América Latina se aproximando, julho está sendo visto como o limite para se fechar um acordo.

Apesar de vários itens inicialmente incluídos terem sido retirados da pauta de discussões – investimentos e serviços, por exemplo –, está difícil encontrar o balanço nas reduções de tarifas e subsídios de produtos agrícolas (pelos países desenvolvidos) e industriais (pelas nações em desenvolvimento).

Entretanto, alertam os representantes brasileiros, se um consenso não for atingido rapidamente, as conversas podem ser empurradas para 2009, após a eleição do sucessor do atual presidente dos EUA, George W. Bush.

Apesar de o G-20 estar determinado a não aceitar uma proposta desvantajosa, os negociadores brasileiros afirmam que a falta de um acordo prejudicará principalmente os países em desenvolvimento, que continuarão a ter dificuldade em colocar os seus produtos no mercado internacional.

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