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Hábitos da vida moderna engordam brasileiros

Clarissa Neher10 de maio de 2014

Brasileiros estão comendo mais calorias e praticando menos atividades físicas, além de ficar mais tempo na frente do computador. Metade da população está acima do peso.

Foto: picture-alliance/dpa

A população brasileira tem engordado nas últimas décadas. Em 1974, a primeira pesquisa sobre o tema feita pelo Ministério da Saúde mostrou que 28% dos brasileiros estavam acima do peso, e, destes, 3% eram obesos. Quase 40 anos depois, mais da metade da população no país está com excesso de peso, e a obesidade atinge 17,5% desse grupo.

Em 2013, a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde nas capitais do país desde 2006, apontou que 50,8% da população está acima do peso.

Em média, desde 2006 – quando o número de brasileiros com excesso de peso era de 42,6% – houve um crescimento de 1,3 ponto percentual por ano. Mas, em 2013 o índice se manteve estável em relação ao ano anterior, quando havia ficado em 51% de excesso de peso e 17,4% de obesidade.

"Estamos fazendo uma transição nutricional, assim como grande parte da população global. Porém, a diferença é que ela ocorre muito mais rápida no Brasil. A boa notícia é que esse crescimento, que vinha de forma contínua e sustentável, diminuiu nesse último ano. Logicamente precisamos de um período mais longo para saber como vai ser o comportamento", conta a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde do Ministério, Deborah Malta.

Esse aumento no peso está diretamente relacionado a mudanças no estilo de vida do brasileiro. Com a urbanização e a modernização da sociedade, as pessoas passaram a ter menos tempo para cuidar de sua alimentação e, consequentemente, da saúde. O consumo de calorias aumenta, e a prática de atividades físicas diminui.

Consumo de calorias e gordura aumentaFoto: eyewave - Fotolia.com

"A alimentação não funciona mais só para atender as demandas biológicas, mas também as sociais, simbólicas e culturais. E a indústria, ao oferecer uma série de práticas, não só do ponto de vista de ter alimentos de fácil preparo, atende uma demanda real que é da própria vida. Ficamos quase 10 ou 12 horas fora de casa, chegamos cansados e não temos tempo para cuidar da alimentação", afirma Denise Oliveira e Silva, coordenadora do Programa de Alimentação Nutrição e Cultura da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília.

"Bye bye" feijão com arroz

No cenário atual até o tradicional arroz com feijão está perdendo espaço na mesa dos brasileiros. Segundo Malta, várias pesquisas do Ministério da Saúde detectaram uma queda no consumo desses dois alimentos no decorrer dos anos.

"Os brasileiros, como várias populações do mundo, vêm americanizando seus hábitos e deixando de comer seu prato tradicional: arroz, feijão com alguma proteína, frango ou carne, e salada ou verdura cozida", reforça Marcio Mancini, chefe do ambulatório de obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Assim, houve um aumento no consumo de alimentos altamente calóricos, como frituras, industrializados e fast-foods.

"Tínhamos e temos um patrimônio alimentar do ponto de vista da nossa herança indígena, africana e europeia e que nos daria uma alimentação de excelente qualidade. Isso está sendo massificado por alimentos pré-preparados que, provavelmente, contribuem para o que estamos vivendo hoje", opina Silva.

Além das mudanças nos hábitos alimentares, o brasileiro tem praticado menos esporte. A Vigitel indicou que apenas 33,8% da população fazem alguma atividade física regularmente.

Segundo Mancini, uma série de fatores leva a essa diminuição, como o aumento do uso de veículos particulares, devido ao transporte público deficitário nas grandes cidades, a falta de áreas de lazer, como parques, principalmente nas periferias, além do crescimento da violência, que levou as pessoas a ficarem mais em casa.

"Além disso, dentro de casa as crianças estão brincando com smartphones, videogame e computador, que são atividades ligadas ao sedentarismo, diferentemente das brincadeiras de antigamente, que levavam ao gasto de caloria", completa o especialista.

Risco maior entre a população de baixa renda

Essa mudança no estilo de vida causa um impacto maior nas camadas de baixa renda. O percentual de pessoas acima do peso com até oito anos de estudo é de 58,1%, enquanto entre os que têm uma escolaridade mínima de 12 anos fica em 45,5%. O percentual de obesidade também segue esse padrão: é de 22,3% entre os que possuem uma escolaridade de até oito anos e de 14,3% entre aqueles com 12 anos ou mais de estudo.

"Há um mercado perverso de alimentos mais baratos e calóricos para as populações de baixa renda. Nós, como sanitaristas, observamos que o risco é maior entre as populações de baixa renda do que entre as de renda média e alta, porque há também um aspecto relacionado ao acesso à informação e ao preço dos alimentos. Hoje, lamentavelmente, é mais caro consumir legumes, verduras e frutas do que comprar um litro de qualquer refrigerante", observa Silva.

O excesso de peso e a obesidade podem causar várias doenças, como problemas cardiovasculares, cerebrovasculares, respiratórios e digestivos, além de hipertensão, diabetes, câncer e doenças psicológicas, como depressão.

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