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Urnas estaduais punem Merkel e fortalecem ultradireita

14 de março de 2016

Partido da chanceler tem perdas nos três estados onde foram realizadas eleições e vê avanço da AfD, que alcança até 24% dos votos. Pleitos eram considerados um teste sobre o apoio à política para refugiados de Berlim.

Merkel se esforçou, mas não conseguiu emplacar Julia Klöckner na Renânia-PalatinadoFoto: picture-alliance/dpa/H.Tittel

O eleitorado puniu o governo encabeçado pela chanceler federal Angela Merkel neste domingo (13/03), quando três estados alemães elegeram seus representantes nos respectivos parlamentos estaduais. A importância política da data era tão grande que ela foi apelidada de "Superdomingo", em alusão à "Superterça" da campanha pré-eleitoral para a Casa Branca.

As apurações parciais mostram que tanto em Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado, no oeste, como na Saxônia-Anhalt, no leste, a União Democrata Cristã (CDU), o partido de Merkel, teve perdas significativas, de 3 a 12 pontos percentuais, em relação aos pleitos anteriores, de 2011.

Seu parceiro de coalizão em Berlim, o Partido Social-Democrata (SPD), encarou números proporcionalmente ainda piores. Em contrapartida, a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) disparou na escolha dos votantes.

Voto de protesto à CDU

Analistas são unânimes em atribuir tais resultados punitivos, em especial, à política de portas abertas para os refugiados que a líder alemã tem defendido e de que ainda tenta convencer os demais governos da União Europeia, sem perspectivas de sucesso. Sua iniciativa de procurar o apoio da Turquia na crise migratória igualmente lhe rendeu críticas, inclusive dentro de seu partido.

Holger Schmieding, do Berenberg Bank, interpreta os números como "uma séria advertência a Merkel, e o voto de protesto mais pronunciado que já vimos". Para Carsten Nickel, da empresa de consultoria global Teneo Intelligence, "o resultado vai aumentar o barulho dentro da CDU e reduzir as opções do governo quanto aos migrantes e à Grécia". No entanto, "a posição de Merkel no governo não está em risco".

Frauke Petry (c) confirma perfil radical da AfD, que se saiu bem nas urnasFoto: Getty Images/AFP/J. Macdougall

Um anúncio causou estranheza nos meios políticos alemães e possivelmente revela o amargor da chanceler federal com a reação popular a sua política: contrariando o costume, ela se manteve nos bastidores durante todo o dia de eleições e só vai se pronunciar a respeito nesta segunda-feira.

Ultradireita lucra

Criada em 2013, no auge da crise europeia de endividamento, como plataforma antieuro, a ultradireitista AfD teve uma ascensão meteórica. E saiu como grande vencedora da noite, conquistando postos em todos os três parlamentos estaduais. Com isso, passa a estar representada em oito dos 16 estados alemães.

Como se esperava, o apoio mais forte foi na Saxônia-Anhalt, no território da extinta Alemanha Oriental, onde a presença da direita radical é apreensivamente crescente. Lá, a legenda obteve cerca de 24% dos votos, ficando à frente até do SPD, partido de longa tradição e integrante da coalizão governamental em Berlim.

Nos dois outros estados, os resultados também foram bons: mais de 15% em Baden-Württemberg e acima de 12% na Renânia-Palatinado.

A AfD baseou sua campanha em slogans como "Proteger as fronteiras" e "Chega do caos de asilo". Sua ascensão coincide com a de partidos anti-imigração como a Frente Nacional (FN), da França.

Malu Dreyer (d) foi único motivo de alegria para líder social-democrata Sigmar Gabriel (c)Foto: picture-alliance/dpa/B. v. Jutrczenka

"Temos problemas fundamentais na Alemanha que levaram a esse resultado", comentou a líder da AfD, Frauke Petry. A política de 40 anos fez manchetes recentemente por defender que a polícia recorresse a armas de fogo para impedir a travessia ilegal das fronteiras nacionais.

Charlotte Knobloch, ex-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, lamentou a "tendência marcada para a direita". "Se os votantes seguem o chamado dos populistas e extremistas de direita até esse ponto, é falha dos partidos democráticos", comentou.

Verdes e SPD

Uma "surpresa esperada" foi o desempenho do Partido Verde em Baden-Württemberg, com mais de 30% nas urnas, consagrando-se, pela primeira vez, como o grupamento mais forte em um estado alemão.

Fortemente industrializado e extremamente conservador, por mais de cinco décadas Baden-Württemberg foi o reduto da CDU. Porém, o desastre de Fukushima tirou a CDU do poder e levou a uma coligação do Partido Verde com o SPD em 2011. E, neste domingo, a CDU ficou 12 pontos percentuais atrás de seu resultado naquelas eleições.

Kretschmann precisa de mais um parceiro de coalizãoFoto: Getty Images/T. Niedermueller

Como os social-democratas, atuais parceiros de coalizão do Partido Verde no governo estadual, perderam 13 pontos percentuais, o governador verde Winfried Kretschmann terá que negociar uma nova coalizão.

Para os social-democratas, a única boa notícia veio da Renânia-Palatinado, onde ganharam 0,6 ponto percentual em relação a 2011. Malu Dreyer se confirmou como governadora do estado, vencendo Julia Klöckner, da CDU, já apontada como eventual sucessora de Merkel na Chancelaria Federal.

Nos outros dois estados, o Partido Social-Democrata amargou perdas de mais de 10 pontos percentuais, ficando reduzido a apenas cerca da metade de suas bases eleitorais, até então. Embora representantes do partido neguem, alguns analistas creem que, no médio prazo, esses números possam repercutir no futuro do líder partidário e vice-chanceler, Sigmar Gabriel.

AV/rtr/afp/ap/dpa

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